Formação

Ide pelo mundo

comshalom

(Mc 16,15)
O seguimento de Jesus não comporta facilidades e comodidades passageiras, embora seja a fonte mais segura de todo prazer e satisfação possíveis para a vida do discípulo. As comodidades deste seguimento são as alegrias de se descobrir o gosto, supremo e nobre, de fazer da própria vida, permanentemente, uma oferta para o bem dos outros. Custe o que custar. Fazendo valer sempre o bem que edifica o outro, sua vida. Uma dinâmica de vida que inclui as exigências de rever, diariamente, modos de falar, posturas assumidas diante dos outros, motivações para escolhas e direcionamentos da própria ação quotidiana. Uma experiência de oferta sustentada pela certeza de se estar bebendo na fonte daquela realização humana e pessoal que fascina e move o coração de toda pessoa como dinâmica de procura. São esforços e sacrifícios premiados com uma alegria duradoura e com a sabedoria de compreender o verdadeiro sentido da própria vida. Uma compreensão sem a qual a vida fica pesada; o dia a dia exigente para além do que se pode dar conta; e tudo parece difícil demais e quase impossível. Na contra – mão do que costumeiramente o coração humano procura como fonte de satisfação e alegria, o seguimento de Jesus possibilita a conquista de um jeito de viver pelo qual sacrifícios e esforços ganham um profundo sentido. O sentido que responde à procura mais profunda do coração humano, feito para amar e para realizar-se na experiência generosa da oferta. E assim, o Mestre, antes de ser levado aos céus e sentar-se à direita de Deus, vitorioso por sua oferta obediente à vontade de Deus Pai, marca o coração dos discípulos com este mandato: ‘Ide’. Um mandato rico desta dinâmica que exercitada e obedecida faz brotar no coração do discípulo os sinais desta alegria duradoura procurada por todos.
Ide
A vida do discípulo se constitui pela dinâmica do êxodo. Isto é, fazer-se discípulo e enriquecer o discipulado ocorrem na medida em que se assume audaciosamente a corajosa atitude de sair, partir, ir. O exemplo modelar é do Mestre e Senhor Jesus que marca a sua vida com um tríplice êxodo. O êxodo de sair do seio amoroso do Pai, vindo ao encontro da humanidade no assumir a sua condição. A saída de si na oferta generosa e incondicional de sua própria vida, morrendo na cruz e ressuscitando, para selar a aliança nova e redentora no seu próprio sangue. Ainda, a saída deste mundo, na sua ascensão, retornando ao seio do Pai, de onde Ele viera para gozar a glória suprema que recebe só quem amorosamente obedece a sua vontade. Assim, o discípulo é desafiado a sair de si para quebrar todo fechamento e impedir os riscos de organizar comodidades egoístas e mesquinhas, possibilitando-lhe dar as costas ao mundo ao qual ele é enviado. Uma saída de si que atinge o ápice do seu sentido na medida em que se vai ao encontro dos outros, cada outro, lá onde estão, particularmente quando se considera a sua necessidade, seja ela de qual ordem for. E finalmente, a corajosa saída deste mundo para entrar também no gozo, verdadeiro e pleno, que só se encontra no seio amoroso de Deus Pai, o Pai do Senhor Jesus Cristo. Ide, pois, não é a indicação de uma simples tarefa a cumprir. É uma dinâmica existencial que, vivida com generosidade e incondicional confiança naquele que envia, dá forma ao coração do verdadeiro discípulo. O atendimento deste mandato o faz desabrochar e amadurecer para compreender e fazer, com prazer, da própria vida uma altar de generosas ofertas, redenção de si, com efetiva participação, pelo caráter de oferta, na obra redentora do seu Mestre e Senhor.

Pelo mundo inteiro anunciai
O mundo inteiro é o horizonte do discipulado. O mundo como ele é, cheio de dificuldades e com muitas contradições, armadilhas e ciladas, deixando-se conformar pelas dinâmicas que presidem o coração dos perversos, dos gananciosos e soberbos. Cada criatura é a razão da oferta do discípulo. Uma oferta que há de ser emoldurada pelo sentido insubstituível do anúncio do Evangelho. Um anúncio que inclui corajosa proclamação. Uma proclamação que comporta um conteúdo a ser anunciado para tocar os corações com a força de sua própria interpelação. Uma interpelação indispensável para remover as crostas da indiferença, soberba, orgulho e presunção que amordaçam, facilmente, o coração humano e o impede de respostas proféticas e audaciosas generosidades. Uma interpelação veiculada pela proclamação e sustentada pelo testemunho. Uma fala destemida que se comprova no jeito de ser, criando convicções, renovando dinâmicas de vida e criando modos de viver que faz da vida de cada discípulo uma página viva deste Evangelho anunciado. Páginas vivas do Evangelho que vão forrando, com a novidade do amor de Deus, os corações e a organização comum da vida de cada dia. Um anúncio ao mundo inteiro com a força única de operar nele a redenção, garantida por aquele, Cristo Senhor, que é o conteúdo vivo deste Evangelho.

O Senhor os ajudava
O fascínio do discípulo e seu sustento vêm do Senhor. A obra a Ele pertence. Ao discípulo é dada a honra da participação e da colaboração, conformando a própria vida à do Mestre e Senhor, enquanto enfrenta o desafio de aprender que a vida verdadeira só se conquista pela força da oferta de si. Os percursos do caminho hão de ser fecundados pela consciência do envio e pelo sustento que advém do amor daquele que envia o discípulo ao coração do mundo para anunciar o Evangelho. A ajuda do Senhor, promessa garantida pela palavra dada e que vale, cria para o discípulo a condição de enfrentar os desafios com a força própria daquele que o enviou. E o anúncio, de novo, não é uma simples tarefa. É muito mais. É uma autêntica experiência de crer. Crer naquele que envia, depositando nele toda confiança, e experimentando os milagres que Ele faz naqueles e por aqueles que, amorosamente, assumem a condição de discípulos. Uma condição que lhes outorga a força revelada nos sinais que estão no poder de expulsar demônios, estabelecendo no seu lugar a ordem do amor; a competência de falar novas línguas como conquista de diálogos que estabelecem a verdadeira comunhão, como condição indispensável para se conquistar a vida que não passa. Uma ajuda do Mestre aos seus discípulos pela garantia de livrá-los de todo mal e perigo, de modo que ‘se pegarem em serpentes ou beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal algum; e quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados’. E o discípulo, ofertando sua vida, incondicionalmente, vive a sorte do Mestre, na oferta e na glória.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte
O texto foi difundido pelo site da arquidiocese de Belo Horizonte


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