<!– /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";}@page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;}div.Section1 {page:Section1;}–>
Janice Dantas Tavares
Arquiteta e Urbanista,
Membro da Comissão de Arte Sacra da Arquidiocese deFortaleza
Chego a estes lugares que de ti encheste de uma vez parasempre. (…) Ó lugar, quantas vezes, quantas vezes te transformaste antes depassares d’Ele a mim! Quando Ele te encheu pela primeira vez, ainda não erasnenhum lugar exterior, mas apenas o ventre de sua Mãe. Oh! que sensação saberque as pedras sobre as quais caminho em Nazaré são as mesmas que tocavam o seupé, quando ainda era Ela o teu lugar, único no mundo. Encontrar-te através dumapedra que foi tocada pelo pé de tua Mãe! Ó lugar, lugar de Terra Santa, como égrande o espaço que ocupas em mim! Por isso não posso pisar-te com meus pés,devo ajoelhar-me. E assim atestar hoje que tu foste um lugar de encontro. Eu meajoelho – e deste modo aponho o meu sigilo. Aqui permanecerás com o meu sigilo– permanecerás, permanecerás – e eu levar-te-ei comigo, transformar-te-eidentro de mim num lugar de novo testemunho. Eu parto como uma testemunha quedará o seu testemunho através dos séculos.
K. Wojtyla, Obras literárias. Poesias e dramas, LivrariaEditora Vaticana 1993, p. 124
Como se não bastasse descer à condição humana e passar pelacruz, o Senhor elegeu lugares para colocar sua “tenda” e assim estar mais pertodo homem.
“Tudo saiudas mãos de Deus e não há lugar onde Ele não se encontre. Ele está em todos oscantos da terra, e o mundo inteiro pode considerar-se “templo” da sua presença.Mas isto não impede que o espaço possa ficar assinalado por particularesintervenções salvíficas de Deus, onde se pode experimentar o divino de formamais intensa do que habitualmente se verifica na imensidão do mundo.”
O espaçodito sagrado é um lugar separado, colocado à parte para Deus aí se manifestarde forma mais plena. É um oásis, donde jorra a água cristalina e onde, pela fé,o céu é “atingido”.
Em temposonde tudo é relativo e a unidade de opiniões, de ideais é escassa, valerecorrer à linguagem universal da arte e da beleza verdadeira, que tem poderpara unificar e ordenar o coração do homem com a suavidade e a força própriasda fonte criadora de todo o bem… recorrer à beleza cuja finalidade não é seracessório, mas ser adubo e catalisador do “religar” entre Criador e criatura. Ea eficácia para promover esta religação, esta re-união entre Deus e o homem épossível e completamente plausível nos espaços sagrados: nas igrejas, capelas,basílicas, catedrais… Diríamos até que o espaço sagrado é o lugar porexcelência da manifestação da beleza verdadeira, da caridade de Cristo.
O Catecismoda Igreja Católica ensina que o culto não está ligado a um lugar exclusivo. Oprimordial na congregação dos fiéis são as “pedras vivas” reunidas para a“construção de um edifício espiritual” (1Pd 2, 5). O Catecismo instrui aindaque, incorporados a Cristo pelo Espírito Santo, “nós é que somos o templo doDeus vivo” (2Cor 6, 16). Mas acrescenta que os cristãos constroem edificaçõespara celebrarem os mistérios do Cristo. E ainda: “Essas igrejas visíveis nãosão simples lugares de reunião, mas significam e manifestam a Igreja viva nestelugar, morada de Deus com os homens reconciliados e unidos em Cristo.” Numa primeira análise dascolocações do Catecismo, tem-se a impressão de que o lugar sagrado não temnenhuma importância, ficando para o homem a prioridade. Porém, logo após ovemos como lugar de primazia, morada de Deus. Por que então? Como a finalidadeda obra de salvação do Cristo é o resgate do homem, o fim último do espaçosagrado é, como espaço celebrativo, a santificação do homem e a glorificação deDeus. Assim, o espaço sagrado não temfim em si mesmo, antes presta-se a uma função específica. E essa função é a demanifestar o Deus vivo, presente na assembléia reunida e nos ministros, mastambém “refletido” em cada sacramental, em cada sinal.
“ ‘O mundo foi criado em vista da Igreja’, diziam oscristãos dos primeiros tempos. Deus criou o mundo em vista da comunhão com asua vida divina, comunhão esta que se realiza pela ‘convocação’ dos homens emCristo, e esta ‘convocação’ é a Igreja. …” A Igreja enquanto convocação é o corpo místico de Cristo, a nação santa,o povo eleito de Deus. A igreja enquanto edifício cristão é o lugar onde essecorpo místico de Cristo se reúne em assembléia. Lugarde celebração, lugar onde Deus se revela ao seu povo através dos mistérios… ese dá a conhecer. Lugar de primazia e de transfiguração. Lugar onde Deus vemhabitar junto a seu povo.
Uma das fortes características da civilização pós-moderna éa perda do sentido do sagrado. Algo que parece simples, mas que ganha grandesproporções em cada indivíduo e em toda a sociedade. Afinal, quando se perde asnoções de sacralidade, os limites se distorcem e tudo passa a ser permitido.Mas o que é o sagrado?
Sagrado é tudo aquilo que é separado, tirado à parte,escolhido, recolhido para Deus. O sagrado não admite uso profano, pois osagrado é diferente do profano. E deste diz-se que é aquilo “de uso cotidiano”,comum, da ordem de todas as coisas. Por si, não é mau. Mas o sagrado não é daordem de todas as coisas, é exclusivamente divino.
Existe um equívoco no que diz respeito ao profano: comumenteo entendemos como mundano, sujo, sem dignidade, ilícito. O mundano sim, éoposto a santo. Porém, do profano podemos dizer que é a mesa em que fazemosrefeição, a roupa que vestimos, o livro que lemos etc. Nada disso é contraDeus, mas, pelo contrário, são artifícios necessários ao homem criado à imageme semelhança de Deus. E, apesar do profano não ser mau ou contrário a Deus,também não é exclusivamente Dele. Assim, cada material, especialmente ossagrados, deve ser feito de acordo com sua função para servir unicamente comotal.
Contudo, não basta “cumprir a lei”, pois não é este o fim dasagrada liturgia. Devemos buscar saber o porquê de cada orientação litúrgica,senão nos condicionaremos a leis e determinações e perderemos a essência. Nãodeve ser uma pena, por exemplo, restringir o uso de uma toalha unicamente aoaltar. E realmente não será… Pelo contrário, se compreendermos de fato que oaltar é o Cristo, a pedra angular, será uma violência contra nós mesmos nãoseguirmos essa orientação, porque passa a gerar vida em nós e no corpo dacomunidade.
Que a celebração do mistério cristão inebrie a vidacomunitária, e o desejo de corresponder ao Ressuscitado que passou pela cruzganhe as dimensões de zelo pela Casa do Amado. Assim se terá vivido a SagradaLiturgia em nosso meio.