Dom José Alberto Moura
Arcebispo de Montes Claros
Há quem tenha medo de altura no sentido físico. Mas a altitude ougrandeza de ideal é um desejo de tal monta em cada ser humano a fazê-lolutar para sua consecução. No entanto, apesar desse intento, muitos sãoimpedidos, pela curvatura do egoísmo que os faz fixar o olhar na baixaterra do peso de sua pequenina visão do sentido da existência.
Jesus foi com seus apóstolos Pedro, Tiago e João à alta montanha.Ali aconteceu sua transfiguração fulgurante aos olhos dos discípulos(Cf. Mc 9, 2-10). Como o lugar elevado foi também o da apresentação dapessoa deslumbrante do Senhor, a grandeza do ideal por Ele propostodeveria conduzir os três à grande missão de apresentar à humanidade osentido da vida que leva à plena realização do ser humano. Sem agrandeza do ideal apresentado pelo Mestre, não é possível a felicidadeimorredoura da pessoa humana. Convencer a todos disso é próprio da vidade quem aceita a pessoa de Jesus e seus ensinamentos.
Seria muito bom, assim como a esses apóstolos, também a nós todos, apermanência na contemplação da vida de paz, na montanha sensível daisenção de problemas. Nossa realidade do dia-a-dia, no entanto, nosapresenta a falta de segurança, a violência e toda sorte de agressão,frutos do egoísmo humano. A grandeza do ideal de quem segue a Cristoleva-nos a arregaçar as mangas para o trabalho de conscientização e daprática da justiça e promoção da dignidade humana. Querer a paz é muitoimportante. Trabalhar por ela exige doação, promoção de políticaspúblicas adequadas à realização da justiça social e da segurançapública.
A Quaresma nos direciona à montanha do ideal factível de Jesus. Elevenceu todo tipo de agressão à vida. Superou a própria morte. Tem osegredo da consecução da vida de sentido e realização. Com Ele temosesperança de paz. Subir e descer a montanha dos altos e baixos dacaminhada fazem parte de nossa existência. Porém, o grande ideal devida é perseguido diuturnamente por quem é capaz de fazer a doação desi para implantar a paz baseada na justiça misericordiosa de Deus. Ajustiça humana muitas vezes tem se mostrado injusta. Não oferece a cadaum o necessário para ser respeitado e viver dignamente. A justiçamisericordiosa não é de punição e sim de educação e promoção do bem àpessoa humana. Envolve perdão, oportunidade de regeneração, superaçãodas causas dos erros… A justiça conotada como punição através decastigo pode até levar à tortura e à penalização de infratores comidade imatura e sem condição de aprendizagem do bem ou de superação derecalques e agressões. A justiça misericordiosa de Jesus leva até aoperdão aos inimigos. Ele recrimina a justiça dos fariseus e propõe oamor como lenitivo moral para a superação das injustiças humanas.
Na direção da Páscoa aproveitamos a caminhada de conversão paramudarmos os critérios de convivência, praticando a fraternidade a pontode sairmos de nosso egoísmo e pensarmos na nova ordem social de amor epaz. A virtude da fé nos leva a intensificar a oração, a escuta e aprática da Palavra de Deus para melhor seguirmos os passos daquele quevenceu a morte.