“Todos estes, unânimes, perseveravam na oração com algumas mulheres, entre as quais, Maria, a mãe de Jesus.”
(At 1, 14)
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O Senhor Jesus, após subir aos Céus deixou aos apóstolos uma ordem: “[…] que não se afastassem de Jerusalém, mas que aguardassem a promessa do Pai, ‘a qual, disse Ele, ouvistes da Minha boca: pois João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo dentro de poucos dias’” (At 1, 4-5).
Para bem viver isso, é preciso voltar mais uma vez o olhar para o início, para a Galileia, não para encontrar respostas prontas, mas para reencontrar o caminho da fé e do seguimento incondicional a Jesus no coração daquela que acreditou, no lugar do primeiro Pentecostes: Maria.
Precisamos, neste tempo, voltar para Nazaré, o jardim da Galileia. O lugar onde o Espírito Santo gerou a mais bela flores que a humanidade já viu, a Virgem Maria e, dela e com ela, Jesus, Filho de Deus e Filho da Virgem.
Lá, no cotidiano de uma jovem judia que esperava nas promessas de Deus pela libertação do seu povo, Deus mesmo se revelou de forma inesperada e decisiva para mudar o rumo da história.
Lá, o coração de Deus e o do homem começaram a bater em sintonia, já antes mesmo do Verbo Eterno assumir um coração de carne, pois a espera ansiosa do coração de Maria pela manifestação de Deus coincidia com o desejo ardente de Deus de manifestar-se aos homens, de trazer-lhes a salvação.
Era desejo de Maria dar-se inteiramente ao Senhor sem reservas, com gratidão e gratuidade pelos Seus feitos grandiosos na vida do seu povo e na sua própria vida. Isso podemos ver ao contemplar o Magnificat (Lc 1, 46-55). Era desejo de Deus caminhar nesta terra e ser visto convivendo em meio aos Seus (cf. Br 3, 38).
O coração de Maria era como o da Esposa do Cântico dos Cânticos, sempre a esperar e a buscar aquele a quem amava (cf. Ct 1, 4; 3, 1-4; 5, 6-8; 7, 12); e Deus o Esposo, à procura do jardim onde poderia encontrar a sua alegria (cf. Ct 4, 12; 5, 1; 6, 2-12).
Mas como isso pode nos ajudar neste tempo?
Ora, só quem ama é capaz de esperar, só quem espera pode ser visitado no silêncio da oração e pode assim ser preparado, purificado para receber a promessa do Pai. Só o próprio Deus pode criar e preparar esse jardim, no qual Ele possa entrar e fazer morada, colocando a alegria como um dos inúmeros frutos da Sua presença. É tempo de esperar [alegremente] o cumprimento da promessa.
Deus não está em santuário feitos por mãos humanas (cf. At 17, 24), mas em um Santuário feito por Suas próprias mãos, isto é, o coração do homem, obra-prima da Sua criação.
Um coração novo
Este coração se corrompe, se mancha, se suja ao desejar as coisas desta terra, se apegando a elas ao invés de buscar o que está no alto, por isso, para receber o vinho novo do Espírito Santo, é preciso de odres novos (cf. Lc 5, 37-38), ou seja, pensamentos, mentalidades, atitudes e disposições diferentes, novas, que venham do alto.
Os Apóstolos foram preparados durante três anos de convívio com Jesus, em especial passando pelo duro momento da Paixão. Eles viveram o arrependimento por terem abandonado o Senhor nesta hora, mas em Maria, o próprio Espírito fez questão de se adiantar. Ele fez isso para prepará-la, amadurecê-la em cada passo, a fim de que ela pudesse corresponder à sua missão.
Em Maria, a antecipação da graça
De fato, naquele dia em que o Anjo Gabriel a visitou, ela já era cheia de graças. Maria já era cheia de Deus, e o Espírito Santo começou ali a realizar nela o que nos Apóstolos realizaria no dia de Pentecostes., depois da Ressurreição de Jesus: gerar Cristo em seu interior.
Até antes de Pentecostes, os Apóstolos só reconheciam a Cristo de forma superficial e a partir do que os olhos podiam ver. Só com o auxílio da graça eles puderam enxergar que Ele era, de fato, o Messias (cf. Mt 16, 16-17), mas ainda achando ser o Messias político que queriam que fosse (cf At 1, 6). Só o Espírito foi capaz de revelar verdadeiramente quem é Jesus.
Aquela que apontou o caminho
Já em Maria, contemplamos o mistério de Deus que adianta os seus mistérios para mostrar à Sua criatura amada o caminho a seguir para chegar até a plenitude da vida.
Assim, pelos méritos da Cruz e da Ressurreição de Cristo, a própria redenção é adiantada em Maria, por isso ela é concebida sem pecado original por graça do Espírito Santo (cf. Ct 4,7).
Também no início da vida pública de Jesus, vemos que ela é capaz, pela sua oração suplicante, de adiantar o momento da manifestação de Jesus através de sinais em Caná da Galileia (cf. Jo 2, 1-12).
As dores da Paixão lhe são sinalizadas muito antes pela profecia de Simeão (cf. Lc 2, 34-35), mesmo que ela não pudesse ainda saber em detalhes como a espada lhe atravessaria o coração.
O Espírito Santo nos dá uma graça constante e inabalável
Não é difícil perceber então, que a própria graça da plenitude do Espírito deve levar cada homem ao conhecimento pleno da verdade de Deus (cf. Jo 16,13).
Na vida de Maria, Deus era a sua alegria constante e inabalável. Pelo Espírito Santo, ela conhecia a Deus e se entregava a Ele, mesmo sem entender plenamente todos os Seus mistérios, impossíveis de serem compreendidos por inteiro nesta vida, mas que podem ser docilmente vividos por aqueles que se deixam conduzir pela graça.
Um caminho seguro
Compreendendo tudo isso, São Luis Maria Grinion de Monfort, no seu Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, com muita eloquência e sabedoria, expõe como a entrega da nossa vida nas mãos de Maria é o caminho mais fácil e mais rápido a Jesus.
Quando o Espírito Santo sente em uma alma o perfume de Sua querida esposa, corre para nela formar Jesus como formou também no coração e no ventre daquela que é a Esposa das esposas. Quando Ele vê o coração de Maria impresso em um coração fiel, não resiste se dar por inteiro a este.
De Nazaré para os nossos corações
Se queremos ser preenchidos pela graça que nos faz conhecer a Deus, porque Deus é um com o Pai e o Filho, se queremos viver em Seu amor sem nos perdermos na grandeza de Seus mistérios por sermos pequenos e indignos demais, nos confiemos aos cuidados da Virgem de Nazaré.
Na flor de sua juventude, ela soube acolher o Espírito Santo, que gerou nela e pode gerar também em nós o mais belo fruto que podemos dar à humanidade: Jesus, única Paz para o coração dos homens, Paz a ser anunciada com ousadia e intrepidez.
Somente quando este Espírito gerar em nós um ardente amor por Jesus e nos der o auxílio dos Seus dons, seremos capazes de levar a Boa Nova ao mundo de forma autêntica.
Por André Luiz