Dom Roberto Gomes Guimarães
Muito já se tem considerado sobre os riscos da religião daprosperidade. Quando assim acontece, o relacionamento da criatura comDeus transcorre de maneira acentuadamente interesseiro.
O pedido das graças a serem obtidas é o prioritário, e o ato deculto se esvazia de suas outras dimensões essenciais: adorar o Senhor,agradecer os favores recebidos, pedir o perdão pelos pecados.
Como se vê, descamba-se para a religiosidade do “quebra-galho”, ondese priorizam os interesses particulares da própria pessoa. E este ogravíssimo risco a que se expõe, já que ocorre a inversão dos valoresreligiosos com o conceito distorcido da oração: a busca das consolaçõesde Deus, e não a busca do Deus das consolações.
Trata-se, portanto, da ordem dos valores, porque, embora sintamos adependência do Senhor Deus para a obtenção das graças necessárias, mastal aspecto não pode anteceder o ato de adoração, de agradecimento, e oato de reparação pelas ofensas do pecado.
É assim que incorre na chamada religião da prosperidade. No fundodesta questão, se defronta com aquela mentalidade, segundo a qual asprovações, o sofrimento, a dor seriam manifestação da ausência de Deus,na vida da criatura, e somente a prosperidade estaria, ao invés, aatestar as bênçãos do Senhor. Esta não é mesmo a visão autêntica da fé.
Esta verdade nos é lembrada pelo apóstolo São Paulo, na 2ª carta àcomunidade de Corinto: “ Bendito seja Deus, o Pai de nosso Senhor JesusCristo, o Pai das misericórdias, Deus de toda consolação, e que nosconforta em todas as nossas tribulações” (2Cor 1,3).
Por conseguinte, mesmo nos momentos difíceis, a graça amorosa deDeus nos acompanha,e não nos consideraremos amaldiçoados pelo Pai doCéu, a nos “confortar em todas as nossas tribulações”. O cristão e acristã jamais se esquecerão da advertência de Jesus: “Se alguém quiserme seguir, tome sua cruz”( Lucas 9,23).
No Antigo Testamento, o livro de Jó nos apresenta o modelo de umcoração paciente nas tribulações, ao se conformar com todas ascircunstâncias de agruras pelas quais passou: “O Senhor deu, o Senhortirou, bendito seja o nome do Senhor”(Jó 1,21).
Mais uma vez reconhecemos a essência da religião, na amorosa entregade nossa vida nas mãos do Pai: “Seja feita a vossa vontade, seja nador, seja na alegria.