Formação

Como ajudar os filhos a amadurecerem?

Quando se fala na importância de educar para a vida significa dizer que devemos educar para o amadurecimento humano, de modo a favorecer a pessoa o enfrentamento de desafios, a tomada de decisões e as ações segundo os valores essenciais do humanismo cristão.

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No processo de educar em nossos dias tem ocorrido um fenômeno chamado síndrome lúdica. Ele tem raízes profundas na nossa sociedade hedonista: “Se os políticos costumam ver nas pessoas eleitores, a economia capitalista as reduz à condição de compradores, e concentra a sua publicidade em conseguir que os seus clientes gastem o máximo para poder levar uma vida cômoda e prazerosa. Isso costuma produzir uma sociedade integrada por tipos humanos adolescentes, compulsivos, pouco dados à reflexão e alérgicos a qualquer tipo de responsabilidade”.

Sendo assim, além dos lucros astronômicos dos shoppings centers, no terreno educacional nos deparamos com adultos que são adolescentes educando outros adolescentes, todos mais ou menos dominados por uma síndrome lúdica que prejudica o amadurecimento.

Os responsáveis por essa ludopatia são também os pais, na medida em que explicam o colégio para os seus filhos mais jovens como um lugar para brincar com os amigos e divertir-se. Corrigir essa forma errada de ver as coisas pode custar ao professor não digamos sangue, mas sim suor e lágrimas e, no pior dos casos, pode ser que ele não o consiga.

Carência de critérios

A criança deve saber que vai para a escola para aprender, que só se aprende com esforço, que esse esforço é gratificante e que não se deve confundir o âmbito familiar com o escolar. O colégio não é uma extensão do lar e, por isso, o aluno não pode se levantar, conversar ou mascar chicletes quando lhe der vontade. Se o aluno não chegasse à escola com critérios e referências tão equivocados, o professor não teria que perder tanto tempo para colocá-lo naquela situação de civilidade e sossego mínimos a partir da qual a aprendizagem começa a ser possível.

A crise de autoridade e a confusão entre aprendizado e brincadeira são aliadas perfeitas para que na classe se gere um clima de indisciplina que não beneficia ninguém e prejudica a todos. Hoje, qualquer professor admite que vinte alunos em uma classe são mais difíceis de orientar do que há dez anos, quando uma sala chegava a comportar quarenta alunos.

E esse mesmo professor não se sente respaldado pelos pais dos seus alunos, pois sabe que, com frequência, não é apresentado aos olhos das crianças e dos jovens como uma pessoa que merece respeito, deferência e atenção. O problema é que alguns garotos que ainda não têm suficientes conhecimentos, que mal se desenvolveram emocionalmente e que estão forçosamente carentes de critérios, têm como única informação recebida a de poderem criticar e denunciar tudo o que contrarie o seu parecer.

Relativismo

Essa situação também tem a sua explicação nos tempos que correm. O mundo mudou muito e rápido: modos tradicionais de ver a vida e de vivê-la talvez não tenham perdido a validade como os iogurtes, mas perderam a sua vigência. Daí se costuma chegar à falsa conclusão de que tudo é relativo sob o jugo de subjetividades individuais, então deixa de ter sentido aconselhar os filhos e alunos sobre condutas e valores. Desse modo, muitos pais ficam bloqueados e não exercem ações positivamente educativas.

Por outro lado, a sensação de que seus pais se enganaram a seu respeito os faz perceber que eles também podem se equivocar com seus próprios filhos. Essa possibilidade faz com que encarem a educação pelo lado negativo, – o que é que não querem para os seus filhos – deixando assim de elaborar um modelo de referência positivo para ser transmitido com o próprio exemplo. Enquanto isso, os filhos flutuam na indiferença e se movem entre o desconcerto e a desorientação.

Enfoques corretos

Dissemos que não é possível a vida equilibrada e saudável sem uma boa educação. Mas quem estabelece as linhas mestras da educação? Quem define quais são as coordenadas de uma educação de qualidade?
Só há uma resposta: a família e as instituições educativas, respeitando sempre a própria tradição cultural. A família, em primeiro lugar, porque os filhos são filhos de seus pais e não do colégio nem do Ministério da Educação.

Embora nem sempre concordem, de fato, os pais, os colégios e o Ministério da Educação deveriam concordar em escolher, entre os diferentes modelos educativos, aqueles que sejam os melhores modelos integrados por certos traços fundamentais.

Traços fundamentais

Trata-se de traços ou qualidades que derivam diretamente da condição humana. Desde Aristóteles, define-se o homem como sendo animal racional e animal social. Pois bem: a melhor educação da razão consiste em capacitá-la para descobrir o bem e pô-lo em prática. A inteligência que descobre o bem se chama consciência moral (primeiro traço) e a passagem da teoria à prática do bem se realiza por meio da prudência (segundo traço).

Como a realização do bem costuma ser árdua, o terceiro dos traços educativos fundamentais é a fortaleza, esforço por conquistar e defender aquilo que vale a pena. Além disso, a animalidade que faz parte da nossa constituição fornece à conduta humana um recurso fundamental: o prazer. A educação do prazer – a sua administração racional – constitui o quarto traço indispensável a toda boa educação: chama-se autocontrole, domínio de si, temperança.

Um quinto traço é a justiça, que prescreve o respeito aos direitos dos outros e torna possível a própria existência da sociedade. A justiça se concretiza nas leis: nas regras do jogo que nos permitem sair da selva e viver nos domínios da dignidade. Educar os jovens no sentido da justiça e no controle do prazer não é algo que tenha mais ou menos importância: Aristóteles afirma que tem uma importância absoluta.
A consciência moral, a prudência, a justiça, a fortaleza e a temperança são qualidades descobertas pelos gregos, herdadas pelos romanos e pela Europa cristã. Além disso, o cristianismo acrescenta outras três qualidades ou virtudes que se referem diretamente às relações do homem com Deus: a Fé, a Esperança e a Caridade.

Dizia Pascal – filósofo e matemático – que a última fase da razão é notar que existem muitas coisas que a ultrapassam, e que precisamente por isso é muito razoável crer. Nessa mesma direção, afirma Josef Pieper, um dos melhores filósofos alemães do século XX, que poderia muito bem ocorrer que a raiz de todas as coisas e o significado último da existência só possam ser contemplados e pensados por aqueles que creem. A esperança em Deus é a virtude necessária para o equilíbrio psicológico do único animal que sabe que vai morrer. E a Caridade é a forma de amar mais adequada à dignidade humana: ver os outros como o próprio Deus os vê.

Em nosso contexto social capitalista competitivo, permeado pelo hedonismo, pelo individualismo, pelo consumismo e pelo relativismo moral, o alicerce de uma fé encarnada na vida fortalece os pais e educadores a discernirem os valores essenciais à vida humana, firmando-os na direção de uma existência plena de significado e de realização.

(Baseado no artigo “Educação (Escolar?) para uma juventude em crise”, de José Ramón Ayllón, filósofo e professor de Ética – Universidades de Valladolid y Oviedo)

 

Laura Martins

Artigo originalmente publicado na Revista Shalom Maná

(Edição junho de 2013)

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