Tudo estava destruído. Fui chamada para entrar. Mal conseguia reconhecer o lugar. Ao dar o primeiro passo, me deparei com a cena: escombros por todos os lados. Caos, fumaça e gritos de desespero. A cena era impactante e eu precisava reparar as brechas: a casa estava vulnerável e desprotegida. Qualquer ladrão mal intencionado poderia entrar e roubar o pouco que havia restado. Decidi salvar o que ficou. Era pouco, mas tinha valor incomensurável. Eu precisava proteger a vida que ainda residia naquele lugar.
Entrei mais um pouco.
No quarto, alguém gemia de olhos fechados. Eu precisava acalmar os ânimos e levar a boa nova da esperança. O anúncio era urgente. Olhei nos olhos daquela vulnerável criatura e disse:
— Vamos reconstruir a casa. Vai ficar tudo bem. Eu vou ser uma com você e vamos gestar o novo dentro de nós. E enquanto ele não vem, nós retiramos os escombros. Limpamos a sujeira. Abrimos um novo caminho. Sempre há uma saída.
E assim o fizemos.
Durante o mês que precedeu a chegada daquele que iria trazer novamente a vida ao interior da casa, reajustamos a disposição dos móveis. Retiramos com cuidado os estilhaços que poderiam machucar quem entrasse na casa. Jogamos o entulho no lixo. Fortificamos as portas fragilizadas. Reparamos as brechas que seriam locais de entrada do inimigo. Enfim, o local estava reestabelecido.
A destruição de outrora era uma vaga lembrança. Estávamos prontas para abraçar a nova força que ia nascer no lugar da fragilidade. A resposta da nossa espera. A encarnação do verbo que refaz todas as coisas. Finalmente a vida iria pulsar novamente na nossa casa.
Sim, aquela casa também era minha. E ela estava tão irreconhecível, que hesitei em reconstruí-la durante muito tempo. Deixei que o fogo destruísse quase tudo para entender o seu verdadeiro valor. Em seu interior, ficou somente o que importa.
Nada é mais como antes.
Estamos prontas para receber o amor.