“Ser cristão é um caminho, ou melhor, uma peregrinação, umcaminhar juntamente com Jesus Cristo. Ir naquela direcção que Ele nos indicou eindica” – esta a mensagem que Bento XVI quis deixar aos jovens, neste Domingode Ramos, vigésimo quinto Dia Mundial da Juventude, celebrado desta vez a níveldas dioceses. Sob um esplêndido sol primaveril, dezenas de milhares de fiéis,na maioria jovens, congregaram-se na Praça de São Pedro, em Roma, para acelebração que dá início à “Semana Santa”, a “Semana Maior”, que conduz àPáscoa de Ressurreição, domingo próximo.
O tema do domingo de Ramos – sublinhou o Papa, na homilia da Missa – é “oseguimento (de Cristo)”: “ser cristãos significa considerar a via de JesusCristo como a via justa para sermos homens – aquela via que nos conduz à meta,a uma humanidade plenamente realizada e autêntica”. O Evangelho da bênção dosRamos começa com a frase “Jesus caminhava à frente de todos, subindo aJerusalém”. O caminho no qual somos chamados a seguir Jesus é antes de mais umasubida, um subir. “Antes de mais (reflectiu Bento XVI) um subir à verdadeiraaltura do ser homem. O homem pode escolher uma via cómoda e pôr de ladoqualquer fadiga. Pode também descer para baixo, para o que é indigno. Podeenterrar-se no lodo da falsidade e da desonestidade. Jesus caminha à nossafrente, em direcção ao alto”.
“Ele (Jesus) conduz-nos para o que é grande, puro, conduz-nos para o ar sadiodas alturas: para a vida segunda a verdade; para a coragem que não se deixaintimidar pelo palavreado das opiniões dominantes; para a paciência que suportae sustenta o outro. Conduz-nos à disponibilidade para com os que sofrem, paracom os abandonados; para a fidelidade que está da parte do outro mesmo quando asituação se torna difícil. Conduz-nos ao amor – conduz-nos a Deus”.
Seguir Jesus na sua “subida a Jerusalém”, uma via que prossegue até ao fim dostempos – prosseguiu Bento XVI – recorda o que significa “Jerusalém”, a cidadeonde se encontrava o Templo de Deus, cuja unicidade devia aludir à unicidade dopróprio Deus. Este lugar diz-nos, portanto, que “Deus é um só para todo omundo, supera imensamente todos os nossos lugares e tempos: é aquele Deus a quepertence toda a criação. É o Deus que todos os homens, no mais fundo de sipróprios procuram e do qual todos, de algum modo, têm conhecimento. Mas esteDeus tem um nome. Deu-se-nos a conhecer, empreendeu com os homens uma história…O Deus infinito é ao mesmo tempo o Deus próximo. Não pode ser retido emqualquer edifício, e contudo quer habitar no meio de nós, quer estar totalmenteconnosco”.
Jesus sobe a Jerusalém para aí celebrar, com Israel, a Páscoa. E sobe com aconsciência de ser Ele próprio o Cordeiro no qual se cumprirá o que o Livro doÊxodo diz a propósito: um cordeiro sem defeito, macho, que ao pôr-do-sol,perante os olhos dos filhos de Israel, é imolado “como rito perene”.
“Na amplidão da subida de Jesus tornam-se visíveis as dimensões do nossoseguimento – a meta a que Ele nos quer conduzir: até às alturas de Deus, àcomunhão com Deus, ao estar-com-Deus. É esta a verdadeira meta, é a comunhãocom Ele, que é a via. A comunhão com Ele é um estar em caminho, uma permanentesubida para a verdadeira altura da nossa chamada. Caminhar juntamente com Jesusé sempre, ao mesmo tempo, um caminhar no nós daqueles que querem seguir comEle. Ele introduz-nos nesta comunidade”.
Sendo um caminhar para a verdadeira vida, até sermos homens conformes ao modelodo Filho de Deus, Jesus Cristo – considerou ainda o Papa – isso supera asnossas próprias forças. Seguir este caminho é também ser conduzidos,transportados. É Jesus que nos atrai e nos sustenta. Faz parte do seguir aCristo que nos deixemos integrar nesta “comitiva” e neste movimento conjunto…
“Requer este acto de humildade, o entrar no nós da Igreja. O agarrarmo-nos aosoutros, a responsabilidade da comunhão – o não romper a corda (que nos liga)com contumácia e pedantismo. Crer humildemente com a Igreja, mantermo-nosfirmes conjuntamente com os outros na subida para Deus é uma condição essencialdo seguir a Cristo. Requer também o não nos comportar-se como padrão da Palavrade Deus, não seguir uma ideia incorrecta de emancipação. É essencial para asubida a humildade do ser-com”.
Nas saudações finais, ao concluir a Missa, passado já o meio-dia, antes darecitação do Angelus, Bento XVI evocou o Domingo de Ramos de há 25 anos atrás.Esse ano de 1985 tinha sido consagrado pelas Nações Unidas aos jovens. JoãoPaulo II decidiu a partir daí congregar os jovens, em todo o mundo, neste diada entrada de Jesus em Jerusalém.
“Há 25 anos o meu amado Predecessor convidou os jovens a professar a suaprópria fé em Cristo que tomou sobre si a causa do homem. Renovo hoje esteapelo à nova geração, a que dê testemunho, com a força mansa e luminosa daverdade, para que aos homens e mulheres do terceiro milénio não falte o modelomais autêntico: Jesus Cristo”.
Finalmente, uma referência especial a “Jerusalém, onde se cumpriu o mistériopascal”.
“Sofro profundamente com os recentes contrastes e tensões mais uma vezverificados à volta desta Cidade, que é a pátria espiritual de Cristãos, Judeuse Muçulmanos, profecia e promessa daquela reconciliação universal que Deusdeseja para toda a família humana.
A paz é um dom que Deus confia à responsabilidade humana, para que cultiveatravés do diálogo e no respeito pelos direitos de todos, a reconciliação e operdão.
Rezemos pois para que os responsáveis pela sorte de Jerusalém empreendam comcoragem o caminho da paz e o sigam com perseverança!”