Terminadasas olimpíadas, é hora de voltar para casa. Dito de maneira mais ampla,é hora de voltar ao cotidiano, de encarar os problemas, de enfrentar osdesafios, de cair na real.
Osjogos olímpicos servem de parábola dos embates da vida. Já São Paulo sereferiu a eles. Escrevendo aos cristãos de Corinto, o porto de Atenas,evocou com evidência o cenário olímpico, para sugerir o empenho que épreciso colocar, se queremos atingir o prêmio que nos aguarda. “Acasonão sabeis que, no estádio, todos correm, mas um só ganha o prêmio?Correi de tal maneira que conquisteis o prêmio” (1Cor 9,24).
Até parece que a carta foi escrita em tempos de olimpíadas.Mas como todaparábola, o significado ultrapassa o símbolo. Se ficássemos só nasolimpíadas, seriam poucos os ganhadores. E muitos os decepcionados.Basta conferir os resultados obtidos pela delegação do Brasil.
Masolhadas como parábola, as olimpíadas trazem lições salutares, tambémpara os perdedores. Pois a vida oferece a oportunidade para todossermos vencedores, se descobrimos que a verdadeira vitória não éderrotar os outros, mas promover a vida de todos.
É o que afirma o próprio São Paulo, continuando suas reflexões sobre osjogos olímpicos. Lá, diz, ele, “todos lutam para conseguirem uma coroacorruptível. Quanto a nós, buscamos uma coroa incorruptível”.
Existe,portanto, um caminho onde todos podem ganhar, e este é o que de fatoconta na vida. Mais que medalhas, as olimpíadas nos oferecem preciososensinamentos.
Bemno meio dos jogos olímpicos, a diocese de Jales realizou sua romariaanual. Ao contrário das decepções olímpicas, todos os que participaramvoltaram para casa contentes e encantados com as cenas bonitas,carregadas de simbolismos que animam a continuar agora a caminhada davida. Desde a encenação apresentada pelos jovens, mostrando como agraça de Deus pode hoje também mudar a vida das pessoas comotransformou Saulo em Paulo, até a surpresa final da imagem de Mariasendo levada ao alto à vista de todos, passando pelas bênçãos queanteciparam a certeza de que Deus do alto a todos nos contempla eacompanha com seu amor, como a imagem de Maria lá de cima faziaconvergir para ela todos os olhares. Se São João estivesse presente,iria acrescentar outro capítulo ao seu Apocalipse, descrevendo o quenos aguarda além do horizonte, onde sumiu o quadro de Maria.
Asolimpíadas tem clara referência mundial. Contabilizados seus resultadosesportivos, em forma de medalhas que expressam o prêmio aos melhoresatletas, elas nos desafiam agora a olhar como está o mundo que elastentaram representar simbolicamente.
Aínos deparamos com um panorama sombrio e preocupante. Não foi por acasoque as olimpíadas, desta vez, começaram junto com a guerra na Geórgia. Esta guerra não é episódica, como se fosse resultado de mal entendidoslocais. Ela mostra que ainda não foram bem equacionadas asconseqüências do desmoronamento da antiga União Soviética. Como lá,também em outros lugares ainda existem tensões não resolvidas. Provadisto é o perigoso confronto que vai aumentando diante das pretensõesarmamentistas do Irã que quer a bomba atômica, a União Européia que sefecha diante dos migrantes, a crise econômica dos Estados Unidos queleva a acirrar as disputas no comércio internacional, além dasinquietações que pululam um pouco por toda parte, fruto de situaçõesinjustas que ainda permanecem. Até parece que as olimpíadas, aocontrário de convidar para a paz, tenham simbolizado o treinamento paradisputas que se aproximam.
Seexiste uma lição a tirar desta situação preocupante, é a urgentenecessidade de recuperar a utopia. Precisamos continuar sonhando com ummundo de paz, que supere as dominações, que partilhe os bens, quepreserve a vida, que cultive a solidariedade, que traduza afraternidade. Sem utopia, o mundo não encontra os caminhos da paz.
Daía importância de posturas salutares, que procurem traduzir os sonhos emrealidade. Assim a diocese se propõe fazer, concretizando agora seuplano de pastoral, depois das recomendações da assembléia, e dacelebração da romaria. O sonho justifica a tentativa de transformá-loem realidade. Assim poderemos continuar sonhando.