Formação

E Deus mandou Gabriella

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Ana Paula Sobral Medeiros

Ao decidir levar adiante uma gravidez ameaçada pela rubéola, uma jovem mãe desafia os prognósticos mais negativos e experimenta o amor de Deus por sua família.

Quando engravidei, tinha 26 anos de idade e estava casada havia dois anos. Meu marido e eu estávamos radiantes de felicidade. Mas contraí rubéola depois de dois meses de gestação. Fiquei desesperada, tinha medo do que iria enfrentar. A rubéola pode deixar muitas seqüelas no bebê: microcefalia, perda auditiva, catarata, problemas neurológicos, distúrbios cardíacos etc.
Embora soubesse que tudo é amor de Deus, eu não estava entendendo o que Ele queria de mim. Procurei, então, esclarecer a situação com alguns médicos. Qual não foi a minha surpresa quando eles, de modo indireto, insinuaram que eu devia abortar. “Você é muito nova, pode engravidar novamente”, disse-me um deles. “Passe um ano sem engravidar e da próxima vez não terá problemas”.
Não acreditei no que ouvia. Profissionais da área da saúde, que deveriam dar valor à vida, me sugeriam o aborto! Nós – meu marido e eu – já amávamos muito nossa filha e não teríamos tido a coragem para cometer um crime daqueles. Finalmente encontrei um obstetra (indicado pelo médico da família), consciente do seu papel: salvar a vida, não tirá-la.
O médico Cícero Ferreira foi para nós um instrumento nas mãos de Deus. Ele me deu forças, embora me alertando para todos os riscos que o bebê estava correndo. Mas o amor por nossa filha e a confiança no imenso amor de Deus, nos fez enfrentar o desafio.
Meu marido, Edson, estava sempre presente e foi quem mais me ajudou durante toda a gravidez. Lemos muito, conversamos com vários especialistas, procurando nos preparar para receber nossa filha.
Foram meses de angústia, nos quais eu procurava relaxar para não passar toda a minha ansiedade para o bebê. A esperança de que acontecesse um milagre de Deus me ajudava a superar tudo. Procurava ter pensamentos otimistas e sabia que o bebê seria o presente perfeito para mim.
No dia 14 de agosto de 1991, Gabriella nasceu de parto normal, com 49 cm e 3,080 kg. Era uma linda garotinha de olhos castanhos. A felicidade de vê-la aparentemente normal foi infinita. Ela apresentou bons resultados em todos os testes do exame pós-natal. Fomos para casa, acreditando que o milagre tinha acontecido.
Gabriella se desenvolveu muito bem aos nossos olhos de pais de “primeira viagem”. Mas eu tinha dúvidas quanto à sua capacidade auditiva. O pediatra dizia que era normal, que os bebês nem sempre respondem a todos os estímulos auditivos.
Mas ele estava errado. Após oito meses, observou – como eu também tinha notado – que o perímetro cefálico de Gabriella não estava crescendo num ritmo normal. Só então me indicou uma neurologista.
Os resultados dos exames comprovaram pequenas calcificações no cérebro. Ficamos desesperados, mas a médica nos tranqüilizou, dizendo que o prognóstico da nossa filha era bom, pois não tinha sido atingida nenhuma área específica e que a criança, quando amada, tem a capacidade necessária para se desenvolver. Constatávamos novamente o amor de Deus para com nossa família.
Pensamos que, se havia essa seqüela, outras áreas poderiam ter sido prejudicadas. Começou nossa maratona a vários médicos. Na área cardiológica, apresentou-se uma estenose num ramo da artéria pulmonar (nada muito grave). Quanto aos olhos, ela tem retina pigmentada, mas isto também não vai atrapalhar seu desenvolvimento. Nem sequer deverá usar óculos, pelo menos por enquanto. Ela apresenta também certo atraso no desenvolvimento motor e teve uma severa perda auditiva, bilateral, com um índice de 70% de surdez.
A partir destes diagnósticos, Gabriella começou a fazer várias terapias. Quando completou um ano e cinco meses, foi-lhe colocada uma prótese auditiva em cada ouvido. Foi a coisa melhor que aconteceu. Com o primeiro som que ouviu, ela ficou linda, radiante, o rostinho superfeliz, os olhinhos brilhantes… Foi uma nova descoberta do mundo.
Mais uma vez, Deus mostrava seu amor para conosco. Tudo o que havíamos passado, todas as dificuldades tinham valido a pena: nós tínhamos feito a vontade de Deus sobre sós. Começou a andar com um ano e meio. Com três anos ainda fazia fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaliologia e natação especial. Agora pula, corre e faz as maiores “traquinagens”; mergulha na piscina e nada como um peixe. Freqüenta uma escola especial desde os dois anos.
Somos uma família feliz e estamos impressionados com o desenvolvimento de Gabriella. Ela é meiga e conquista a todos. Como diz o nome dela, é uma “enviada de Deus” para nós.
Nós a amamos muito e não nos arrependemos da agenda agitada à qual devemos nos submeter por causa de suas terapias, nem as dificuldades enfrentadas. A recompensa é Gabriella com toda a sua vida.
Esses três anos foram os melhores da minha vida. sei que temos muito a percorrer, e espero que juntos consigamos atingir todos os objetivos que Deus preparou para nós.
Agradeço sempre a Deus por nos ter escolhido, entre tantos outros, para sermos os pais deste ser tão precioso: nossa filha Gabriella.

Transcrito de: Medeiros, A.P.S. “E Deus mandou Gabriella”. Cidade Nova. Abr/1996, pp. 24-25.


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