Dom Anuar Battisti
Comoem outras ocasiões, acompanhei na semana passada, uma família querepentinamente, perdeu a primeira filhinha, a primeira neta, a primeirabisneta, de apenas sete meses. Uma experiência que corta o coração, porum sentimento que nenhuma razão humana pode explicar. Para os pais, quecolhiam o fruto do amor cultivado há anos e viam a Laurinha que setornava, cada dia, mais linda e alegre, que a cada momento se tornava arazão do viver, que não viam a hora para voltar do trabalho e poderbrincar, rir, fazer careta, ter nos braços aquela criaturinha tãofrágil, mas tremendamente carregada de afeto e alegria sem medida. Tudoterminou de repente. Inexplicavelmente ela dormiu e dormindo partiupara o paraíso. Como disse a avó: Deus queria ela pertinho dele e nãode nós.
Comcerteza, não é a primeira e nem será a última criança a deixar o lar,nestas ou em outras situações semelhantes. Diariamente, vemos fatosdesta natureza, marcando por toda a vida uma distância infinita,deixando marcar de saudades que só o tempo pode curar, ficando parasempre uma cicatriz de boas e inesquecíveis lembranças. Um tempo quepode durar muito tempo, dependendo do tempo que se tem para encontrarem Deus a melhor saída. As dores e os sofrimentos, causados pelaseparação definitiva dos entes queridos, só encontrarão o verdadeiroanalgésico, se depositados na cruz do Senhor, cuja vida verdadeira foialcançada pela cruz assumida e carregada até o fim. Não existe outrasolução para vencer as espadas de dor transpassadas no coração, a nãoser aceitando-as como nossa e carregando-as com a força da fé no Senhorque também gritou: “Meu Deus, meu Deus porque me abandonaste”?(MT27,46) “Pai se for possível afasta de mim este cálice, porém não sefaça a minha e sim a tua vontade”.(MT 26,39)
Naaceitação das cruzes que Deus nos coloca, em momentos totalmenteinesperados, encontramos o caminho para ver mais longe e descobrirneste emaranhado de sentimentos, o rosto amoroso do Pai-Deus. Assim avida não é um jogo onde só ganhamos, mas aprendemos a perder e perderpesado, a fim de encontrar o verdadeiro sentido da vida. Por isso, dizo nosso Mestre: “Quem quiser ser meu discípulo tome a sua cruz cada diae siga-me”.(Lc 9,23). “pois o meu jugo é suave e meu peso é leve”(MT11,30). Essa experiência eu vi, no rosto desta família, que mesmochorando, lamentando, não se desesperaram em nenhum momento. Como édiferente, quando se vive na fé e pela fé. Como é diferente, quando setem uma experiência de proximidade com Deus, cultivada na oração e naprática das palavras do Messias, Senhor e Rei de nossas vidas.
Assim,concluo com um pensamento de Madre Tereza de Calcutá: “Sempre tenhaspresente que a pele enruga, o cabelo torna-se branco, os diasconvertem-se em anos….mas o importante não muda: tua força econvicção não tem idade. Atrás de cada linha de chegada, há uma departida. Atrás de cada sucesso, há outro desafio. Enquanto estiveresvivo, sente-te vivo. Se sentes falta do que fazias, volta a fazê-lo.Não vivas de fotos amareladas…Continua, ainda que todos esperem queabandones. Não deixe que oxide a fé que existe em ti. Faz com que, emvez de piedade, te tenham respeito. Quando não puderes mais correr,caminha. Quando não puderes mais caminhar, apóia-te em uma bengala. Masnunca pare”