“A humanidade não encontrará paz enquanto não se voltar com confiança à Minha misericórdia”. A frase dita por Jesus em revelação a Santa Faustina Kowalska traz um apelo a toda a humanidade neste Domingo da Misericórdia a um mergulho no amor de Deus e a sermos misericordiosos como o Pai. A Festa da Misericórdia, instituída pelo então Papa João Paulo II no Jubileu do ano 2000 foi celebrada pela Comunidade Shalom em Sobral pela primeira vez neste ano. O evento, realizado na quadra do colégio Farias Brito, teve início às 15h com o terço da Misericórdia, seguido por uma pregação com o tema: “Santa Faustina: Apóstola da Misericórdia” proferida pelo missionário da Comunidade Shalom Júnior Nogueira. Houve ainda show com a cantora Leozany Oliveira e Santa Missa presidida pelo sacerdote Pe. Paulo Henrique.
Realizada anualmente no segundo domingo da Páscoa, a instituição da Festa da Misericórdia foi um pedido de Jesus a Santa Faustina. Jesus fez a Faustina dois pedidos: que fosse instituída em todo o mundo a festa da misericórdia no segundo domingo da Páscoa e que fosse pintada a visão que ela tinha de Jesus misericordioso na qual o Senhor aparece com a mão direita levantada com sinal de abençoar e com a esquerda, deixava mostrar a túnica e de seu coração saíam raios vermelhos e azuis. Embaixo havia a inscrição: “Jesus, eu confio em vós”. A imagem foi pintada por intervenção do diretor espiritual de Faustina que conhecia um dos melhores pintores de Varsóvia.
A Festa da Misericórdia tem uma relação profunda com o carisma da Comunidade Shalom, segundo Júnior Nogueira. “Existem muitos pontos que tocam o carisma Shalom, começando pelo evangelho do dia, que é a passagem fundante do nosso carisma”, destaca. Em Jo 20, 19, Jesus aparece Ressuscitado aos apóstolos, anuncia-lhes a paz, mostra aos discípulos suas chagas e eles têm uma experiência do choque da ressurreição. Tomé não experimenta inicialmente a Ressurreição de Jesus, apenas oito dias depois. “Tomé tem uma experiência com a misericórdia e de uma incredulidade que se transforma em fé e ele diz: meu Senhor e meu Deus. Um dia fomos Tomé e tivemos uma experiência com Deus. Tomé tomou um choque de Ressurreição e de misericórdia”, ressalta.
O resumo da mensagem de Santa Faustina é: Deus é Misericórdia. “Não podemos nos relacionar com Deus fora da dimensão da misericórdia e Deus quer que recorremos a essa Misericórdia. Às vezes pensamos mais em Deus como juiz que como pai misericordioso. Mas ele é um Pai que acolhe e faz festa, que se faz próximo e se abaixa para amar a humanidade. Uma vez que Deus é Misericórdia e quer que recorramos a Ele, precisamos encarnar na nossa vida essa misericórdia, em especial para quem não tem experiência da misericórdia” destaca. Ele disse ainda que é preciso amar a Deus nos irmãos, começando pelos que estão nas nossas casas.
Júnior Nogueira explicou em sua pregação que graças a Santa Faustina conhecemos a imagem e a mensagem da misericórdia, mas na época em que a Santa viveu e recebeu as revelações, em 1920, as pessoas viviam um legalismo e não conheciam a misericórdia. “Conhecia-se apenas um Deus juiz. A misericórdia era uma mensagem nova, uma mensagem de confiança. Em uma das aparições, Jesus diz que o que mais fere o seu coração é desconfiar da sua misericórdia. Deus tem muitas características: a bondade, a justiça, a beleza, mas a maior é a sua misericórdia. E assim ele quer ser conhecido e buscado pela humanidade”, ressalta.
Santa Faustina viveu entre a primeira e a segunda guerra mundial e ela apresenta ao mundo a mensagem. “O mundo não terá paz enquanto não recorrer à misericórdia de Deus. O pecador é o primeiro a receber a misericórdia. E o pecado que mais o ofende é da desconfiança na sua misericórdia. E é mais doloroso quando vem das almas consagradas a ele”, explica Júnior. O pregador disse ainda que não foi fácil propagar a mensagem da misericórdia porque Faustina era desacreditada dentro e fora do mosteiro. Viveu grandes tribulações por amor a Deus e a sua misericórdia. “Jesus dizia que muitas almas se perdem porque não recorrem à sua misericórdia. Então, ela se ofereceu a Deus por cada pessoa por amor. Faustina em seu Diário não fala de uma coisa distante dela, mas algo que ela viveu. Viveu a misericórdia com todos aqueles que a perseguiram. Ela viveu toda a dimensão de Cruz porque quis se unir a Jesus”, completa.
História de vida
Desde pequena, Santa Faustina trazia em si uma piedade e tinha grande sensibilidade para com o sofrimento humano. “O coração dela já se abria desde o princípio para a misericórdia”, ressalta Júnior Nogueira. No Diário de Santa Faustina, ela lembra que sentiu a graça e o chamado à vida religiosa aos 7 anos. “Ela ouviu o chamado de Deus em sua alma, embora ainda não tivesse ideia do mistério da misericórdia”, destaca o pregador. Já na mais tenra idade, ela passa a ter uma vida mística e uma relação com Deus mais profunda, começando a ter visões de Jesus e Nossa Senhora. “Ela começa a desabrochar e escuta o chamado de Deus a se consagrar à vida religiosa”, completa.
Nascida em uma família pobre, seu nome de batismo era Helena Kowalska. Aos 16 anos, ela começa a trabalhar em uma casa de família para se sustentar e ajudar os pais. Helena não esquece o chamado de Deus, mas os pais não aceitavam a vida religiosa e ela começa a sufocar esse desejo. Vai morar com uma irmã e um dia vai a uma festa na qual todos estavam se divertindo. Cheia de conflitos entre desejar a vida religiosa, mas não querer ir contra os pais, ela resolve dançar naquela festa. Ao começar a dançar, ela vê Jesus flagelado, coroado de espinhos e escuta suas palavras. “Até quando ei de ter paciência contigo e até quando tu me decepcionarás?” Helena olha para Jesus e se decide pela vontade de Deus. Sai correndo para a frente de um sacrário e pergunta: o queres que eu faça? Jesus diz a ela que vá à cidade de Varsóvia e tente entrar em um mosteiro lá. Ela foi na mesma noite. Encarregou a irmã de avisar aos pais.
Após ter sido recusada em várias congregações por ter poucos anos de estudos e uma saúde frágil, aos 20 anos ela ingressa na Congregação das Irmãs da Divina Misericórdia e passa a se chamar irmã Maria Faustina. Ao ingressar, escreve no seu Diário: “Eu me sentia imensamente feliz. Parecia que havia entrado na vida do paraíso”. Júnior Nogueira ressalta que “por mais desafiante que a vontade de Deus seja, temos o fruto da alegria e da felicidade”. Além dos momentos de oração, as religiosas também fazem trabalhos. Faustina sempre fez os trabalhos mais simples: trabalhou na cozinha, foi jardineira e depois irmã porteira. “Ela sempre exercia trabalhos e serviços humildes, escondidos. Era uma característica dela. Nem as irmãs que moravam com ela sabiam do que Jesus revelava para ela. Era uma mulher de muitos dons sobrenaturais, mas começa a receber de Jesus a missão de ser apóstola da misericórdia”, ressalta.
Antes mesmo da congregação, Faustina já tinha uma vida austera com penitências e jejuns. Morreu de tuberculose aos 33 anos, no dia 5 de outubro de 1938. Morreu em fama de santidade. No dia 30 se abril de 2000, foi canonizada por São João Paulo II e o papa instituiu o segundo domingo da Páscoa como o domingo da misericórdia. “Foi a vitória do pedido de Jesus a Santa Faustina”, completa Júnior.
Homilia
Em sua homilia, Pe. Paulo Henrique ressaltou que neste domingo celebramos como Igreja a Festa da Divina Misericórdia, instituída por São João Paulo II a partir da revelação de Jesus a Santa Faustina. “Jesus misericordioso mostra o sangue e a água que brotam do seu coração. Ele veio anunciar o amor do Pai sobretudo aos pecadores, aos que estavam longe em uma vida de pecado e que para o mundo eram pessoas indignas do amor de Deus. A misericórdia de Deus é seu maior atributo porque ele faz injustiça a si mesmo para amar o homem”, destaca o sacerdote.
Pe. Paulo lembra ainda que “a misericórdia é o centro do evangelho, que foi escrito para dizer que Deus é misericórdia e nos ama.” No evangelho deste domingo, Jesus entra no cenáculo onde os discípulos estavam com medo e lhes diz: “Shalom, a Paz esteja convosco. O primeiro dom que Deus ministra sobre seus discípulos é o Shalom, a Paz”, explica.
A Paz não é uma vida cômoda, mas a reconciliação do coração do homem com Deus. “A paz nasce do coração de Deus sempre aberto a acolher o coração do homem. Ele se derrama em nossos corações por amor. Jesus dá o Espírito Santo ao homem e realiza essa obra de reconciliação. Quantos de nós ao ter uma experiência com a misericórdia não desejou ter um vida nova?”, questiona.
Tomé não estava com os outros discípulos e não acreditou na ressurreição, mas Jesus aparece novamente e ministra a paz. “Jesus agiu com Misericórdia com Tomé e faz com que ele tenha uma experiência com seu lado aberto e torna em fé a sua incredulidade.”
O sacerdote lembra que a mensagem do dia é que é preciso ser promotores da misericórdia porque Deus é misericordioso e derrama sobre nós seu perdão. “Essa festa vem nos mostrar que todas as pessoas são dignas da misericórdia de Deus porque ele ama e perdoa a todos. Como seria diferente se agíssemos com Misericórdia. Todos nós somos capazes de amar e de perdoar. A Paz é fruto dessa experiência de reconciliação com Deus e com os irmãos.”