Eu sempre acreditei que as tentativas de definições, por mais que as vezes necessárias (como hoje quando me peguntaram: E aí como foi o tão aguardado CJS para você?), elas correm o risco de soar incongruentes, porque entre aquilo que eu sinto e penso e portanto tento materializar nas palavras, já há uma perda significativa, já que a experiência acaba sendo muito pessoal e intensa, tendo em vista a individualidade de quem a experimenta, por isto definições ou qualificações nunca serão coerentes em termos absolutos.
O curioso é que definir parece o primeiro movimento humano no que diz respeito às experiências. Aquilo que vivencio, os lugares que eu preciso ir, as pessoas que conheço e uma infinidade de etc, estão o tempo todo passando pelo crivo dos meus adjetivos. A grande Clarisse Lispector bem nos alertava que palavras não dão conta da experiência e nos surpreende ainda mais em seu livro “A hora da Lua” quando diz que pensar é ato, sentir é fato. Muito obrigado, Lispector, estou certo de que minha palavra aqui deverá servir apenas como tentativa de ilustrar o que me afetou durante esses 3 dias de CJS.
Antes de falar sobre o CJS queria fazer um breve retrospecto acerca da minha trajetória na igreja. Desde muito cedo meus pais me incentivaram na busca da vida em Deus. Fiz a primeira comunhão bem cedo, após pouco tempo, a crisma, sempre participei de grupos de jovens e frequentemente tocava em missas, encontros, retiros etc.
Muito bem, passado mais um tempo, eu passei na faculdade de psicologia e cada vez mais fui deixando de lado minha vida espiritual. É sabido que o ambiente acadêmico é bastante sedutor pra nos tornarmos ateus ou agnósticos e de repente eu também me vi imerso em muitas dúvidas, questionamentos sobre o mistério da fé e fui aos poucos esfriando até que vivi um deserto generalizado em minha fé. Perdi a intimidade com Deus, deixei de agradecer e também de suplicar, porém no Deus que um dia minha mãe me apresentou, o que sempre me encantava era sua misericórdia, nem tanto os milagres. Me surpreendo como esse Deus prefere os piores, acolhe os ladrões e prostitutas, elege os ignorantes e a eles confia grandes missões e mesmo depois de mais de 2 mil anos, Ele continua fazendo a mesma coisa. E fez isso com seu filho barbudo (e doido) que escreve essas palavras.
Após um abismo ter se estabelecido em minha vida que mudaria para sempre minha história, comecei a ver a vida em preto e branco, uma tristeza incomum invadia minha vida e até as coisas que eu mais amava foram perdendo a graça. Em minha cabeça passavam-se coisas que tenho até vergonha de partilhar, mas eis que o Mestre novamente apontou pra mim e falou: “Nem pense em afastar, você é meu e seu lugar é no meu coração”. Fui misericordiado pela enésima vez por esse amor incondicional que rompeu todas as minhas defesas e não pude resistir. Protagonizei mais uma vez o filho pródigo em minha história e de imediato Ele providenciou tudo, me elegeu para tocar novamente e fui fisgado pelo carisma Shalom na obra da minha cidade. Eu mal sabia o que Ele e sua Mãe estavam aprontando mais adiante. Sim, Ele me preparava para selar em meu coração a experiência da MISERICÓRDIA no CJS, assunto massivamente abordado no referido congresso.
OK, vamos lá. Esse foi meu primeiro CJS, foi uma experiência surreal, durante esse final de semana eu me esqueci das coisas negativas que ocorrem no mundo “lá fora”. Perceber uma juventude apaixonada pelo o mesmo Deus que me encanta todo dia e a cada dia mais, me faz sentir menos só na caminhada. Outros “loucos” me acompanham, com o Tau no peito, Stª Terezinha na tela do celular, São João Paulo II estampado na camiseta, terço da nossa queridíssima, terna e imaculada mãe nos pulsos. Que cena bonita de se ver, milhares de jovens de todos estados do Brasill e também de países vizinhos adorando Jesus sacramentado, alegrando-se nos shows (sem álcool e/ou demais substâncias psicoativas, acredite, é possível), anotando atentamente os detalhes que os tocavam durante as palestras e participando da santa missa, aliás essa foi a mais linda que vi em toda minha vida, o ponto mais alto do CJS em minha opinião. Pe Demétrio, sacerdote da arquidiocese de Niterói – RJ afirma que a missa é o acontecimento mais importante nessa existência. Para São João Paulo II, é o céu configurado na terra. Lá, eu experimentei de maneira empírica o que eles falaram. Não tenho como registrar tudo, foi espetacular e levarei no coração cada detalhe, as músicas do Shalom que fazem ponte com o divino, as pregações e homilias tão formativas quanto ungidas e a alegria contagiante da juventude. Me sinto renovado e extremamente feliz por tudo quanto Deus me possibilitou viver lá. Durante essas experiências fiquei com muita vontade que todos os irmãos da obra pudessem estar lá e rezei por todos, em especial Calline e Igor que recentemente perderam seu filhinho ainda em gestação.
Aos irmãos novos que pude conhecer lá, deixo aqui meu muito obrigado pelas partilhas, carinho e afeto, àqueles que não pude interagir, espero que a vida nos dê novas oportunidades. Enfim, é isso. Ficou meio longa minha partilha, mesmo assim acredito que essas palavras fracassam na tarefa de transmitir a sensação e todo a experiência de modo geral, pois não cabem nos caracteres.
Concluo imitando o término da homilia inesquecível do Arcebispo Dom José Aparecido, que narrava a conversa do seu Cardeal com o então papa João Paulo II: “Vossa Santidade afirmou que jovem é aquele que busca Deus, sendo assim eu não conheço ninguém nesse mundo mais jovem que o senhor”
Que sejamos sempre jovens não pela idade, mas pela premissa do santo padre, da busca incessante, do terço diário, da oração constante e da santa missa sempre. Vida ofertada é equivalente à alegria permanente. Queiramos essa paz interior que vem de Deus.
Um fortíssimo abraço e que possamos nos ver em breve. Espero que São José dê conta das demandas até Setembro de 2017.
Leonardo Jardim
Obra Shalom Vitória da Conquista – Bahia, 29 de Setembro de 2016.
