Mas como age, concretamente, esta lei nova que é o Espírito? Age através do amor! A lei nova nada mais é do que aquilo a que Cristo chamou de “um mandamento novo”. O Espírito Santo escreveu a nova lei em nossos corações, infundindo nestes o amor (Rm 5, 5). Este amor é o amor com o qual Deus nos ama e com o qual, contemporaneamente, faz com que nós o amemos e nos amemos uns aos outros. É uma capacidade nova de amar.
Não seria um contra-senso nos referirmos ao amor como uma “lei”? A esta pergunta deve-se responder que existem dois modos pelos quais o homem pode ser induzido a fazer ou não fazer algo: ou por constrição ou por atração. A lei exterior atua pelo primeiro modo, por constrição, com a ameaça de castigo; o amor atua do segundo modo, pela atração. De fato, cada um de nós é atraído por aquilo que ama, sem que se submeta a qualquer constrição exterior. O amor é como um “peso” da alma que a lança em direção ao objeto do próprio deleite, no qual sabe encontrar seu repouso. A vida cristã é vivida por atração, não por constrição.
O amor, portanto, é uma lei, “a lei do Espírito”, no sentido de que cria no cristão um dinamismo que o leva a realizar tudo o que Deus deseja, espontaneamente, porque fez de sua a vontade de Deus e ama tudo o que Deus ama.
Qual o lugar, nos perguntamos, nesta economia do Espírito, da observação dos mandamentos? Também após a vinda de Cristo subsiste ainda a lei escrita: há os mandamentos de Deus, o decálogo, há os preceitos evangélicos; a estes foram acrescentados, em seguida, as leis eclesiásticas. Qual o significado do Código de Direito Canônico, dos regulamentos monásticos, dos votos religiosos e tudo o mais que, em suma, indica uma vontade objetivada que me é imposta do externo? Seriam tais coisas como que corpos estranhos ao organismo cristão?
Houve, no curso da história da Igreja, alguns movimentos que pensaram desse modo e que refutaram, em nome da liberdade do Espírito, qualquer lei, a ponto de serem chamados de movimentos “anomistas”, mas estes foram sempre rejeitados pela autoridade da Igreja e pela própria consciência cristã.
A resposta cristã a esse tipo de problema nos é dada pelo Evangelho. Jesus afirma não ter vindo para “abolir a lei”, mas “para dar-lhe cumprimento” (cf Mt 5, 17). E qual é o “cumprimento” da lei? “O pleno cumprimento da lei” – responde o Apóstolo – “é o amor!” (Rm 13, 10). Do mandamento do amor – diz Jesus – “dependem toda a lei e os profetas” (cf Mt 22, 40).
A obediência se torna, assim, a prova de que se vive sob a graça. “Se me amais, observareis os meus mandamentos” (Jo 14, 15). O amor, desse modo, não substitui a lei, mas a observa, “cumpre-a”. Na profecia de Ezequiel, atribuía-se precisamente ao dom futuro do Espírito do novo coração a possibilidade de observar a lei de Deus: “Porei em vós o meu espírito e farei com que andeis segundo minhas leis e cuideis de observar os meus preceitos” (Ez 36, 27). “A lei foi dada” – escreve Agostinho – “para que se buscasse a graça e a graça foi dada para que se observasse a lei”.