A traição é uma ofensa que parece imperdoável. Judas até hoje é queimado e apedrejado pelo terrível ato que fez. Seu nome virou sinônimo de ‘traidor’ e não há ninguém que queira tê-lo como identificação e, se o tem, logo é agregado a outro nome para diferenciar bem do Iscariotes.
Com um gesto de afeto e de respeito, um beijo, Judas entrega aquele com quem conviveu de perto por três anos, ouvindo suas palavras e testemunhando seus milagres. À preço de escravo, trinta moedas de prata vendeu seu mestre.
O beijo de Judas continua a entregar pessoas e coisas valiosas nas mãos da malvadeza e da ignomínia. Por ninharia, troca-se o que é de valor incalculável por nada. Esposos e esposas traem uns aos outros influenciados pela paga que lhes sugere o impulso da paixão: alguns momentos de aventura.
As drogas, por sua vez, chegam como a melhor das opções através de amigos que continuam a beijar a face de uma multidão de jovens, enquanto lhes oferece o proibido, retira-lhes o concedido.
Da política e da administração pública quantos beijos – de Judas – recebidos. São as promessas nos períodos eleitorais, as imagens maquiadas disfarçam os de má índole que, quando no poder, dão largas à sua intenção ladina. Com sorriso fácil e desenvoltura, que parece puro afeto, políticos e gestores aproximam-se, beijam-nos e recebem sua recompensa, no entanto, como o de Judas um dinheiro amaldiçoado.
Em todos os casos, as conseqüências da traição são grandiosas: famílias acabadas, jovens sem esperança, governo sem credibilidade. Entretanto, essas conseqüências não são irremediáveis. É possível retornar ao amor, à lucidez e à confiança mesmo depois de uma traição.
Judas, ao dar-se conta do que fez, desesperou-se e enforcou-se ao tinido das moedas que caíam, recompensa da traição. Mas houve outro que também negou Jesus pela mesma época: Pedro. Numa madrugada recusou-se dizer por três vezes que o conhecia. No entanto, acolheu o perdão dado pelo traído e tornou-se o primeiro dentre os apóstolos.
Ao malhar Judas não se esqueça que recebemos, mas há vezes que também damos o beijo de Judas.
Vanderlúcio Souza
No entanto, Maria chamada A Madalena jamais traiu o Nazareno. Deu a cara a tapa e ficou com ele em todos os momentos cruciais do final da Paixão, enquanto os outros discípulos escondiam-se como coelhos assustados. Maria A Madalena era uma figura tão gigantesca que não cabia no seu tempo.