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Cassiano Azevedo
Missionário Consagrado da Comunidade de Vida Shalom
Uma das melhores representações da criação da mulherencontra-se no museu da catedral de Florença. Donatello a fez entre 1405-1407em terracota vitrificada. Baseado em 2 Geneses vemos a esquerda, o homem deitado delado num sono profundo. Ele não teve nenhuma participação na criação da mulherque lhe é tirada do lado, “não do pé como uma serva, nem da cabeça como umapatroa, mas do lado como uma companheira” como diz santo Anselmo. Se a vermosfrontalmente, a mulher esboça um sorriso profundo de felicidade e realização,pois é tirada da costela de Adão pelos braços vigorosos de amor do Pai e vemosela se apoiar inteiramente sobre seus braços; é assim que ela encontra suaidentidade e missão mais profunda. Sem este apoio ela cai e consigo leva ohomem a também cair. Quando Deus fez os animais apresentou-os ao homem que osdeu nome (autoridade) sobre eles, mas não encontrou uma ajuda adequada. Adãotrava agora um momento de solidão: apesar de ter todo o paraíso, se sentesozinho e incompleto.A presença da mulher cancela a ansiedade e a solidão dohomem que é celebrada no canto de amor de um dos trechos mais poéticos dabíblia no qual Adão exclama: “Eis vida (ossos) de minha vida (ossos) e eu(carne) de mim (carne) mesmo” e chama-a “isshah (mulher) porque do ish (homem)foi tirada”.
Ao fundo nós vemos a árvore da Ciência do Bem e do Mal sobreAdão e atrás do Criador, a árvore da Vida, ambas intocáveis, ou seja, o homemera submisso ao seu Criador e confiava plenamente em sua essência maisprofunda, o Amor.
O Homem e a Mulher durante o Pecado
Em 1550, Tintoretto nos presenteia com uma grande obra dearte sobre o Pecado Original, hoje encontrado na Galeria da Academia em Veneza.Ele consegue transmitir o instante particular da grande batalha travada naConsciência de Adão: confiar inteiramente na criação ou no Criador. O sinal dointenso combate são as trevas que parecem engolir a cabeça do homem.
O texto básico é Gen 3. Deus havia dado todas as árvores doparaíso ao homem para comer, menos do fruto da árvore da ciência do bem e domal porque no dia em que dela comesse morreria. A ordem de Deus de não comer daárvore significa que só Ele é apto para decidir o que é bom e o que é mal. Aoprovar do fruto o homem quer tornar-se o árbitro da moral opondo-se ao desígniodivino que confere este cômpito somente a Ele.
Satanás no entanto confunde o homem dizendo exatamente ocontrário: que o mal é bem e o bem é mal.
A primeira investida é com a mulher que movida pelacuriosidade escuta a serpente e confundida, prova do fruto da morte e oferece aseu marido.
A luz que banha ocorpo de Eva não é mais do esplendor da Verdade, mas da sedução e doencantamento das criaturas. A linha da pintura se desenvolve na diagonal. Evaestá com a mão enrolada na Árvore da Ciência do Bem e do Mal qual uma serpentee por isso encontra-se desequilibrada; seus pés tocam levemente no chão. Elaparece ter sido hipnotizada diante da intensidade de seu olhar fixo na criaçãosimbolizada pelo fruto da árvore. Com sua mão direita (personalidade) enroscadana árvore e a mão esquerda a oferecer o fruto do orgulho e da desobediência queantes era mau, repulsivo, obscuro para a Verdade e agora se tornara bom decomer , sedutor de se olhar e precioso para se agir com clarividência.
Este momento se torna como um ciclone espiritual que atingea sede das decisões do homem, o lugar sagrado que chamamos de consciência. Amulher avança, se inclinando não mais para o Criador, mas para o homemoferecendo o que para ela é a felicidade. Adão recua, mal toca os pés no chão, levaa mão direita ao queixo para refletir na seriedade da opção que fará e se apóiana pedra com a mão esquerda que está prestes a escorregar.
Se olharmos além da coxa direita de Eva, vemos o que vaiacontecer: um querubim expulsando o casal do paraíso. De fato, se ficassempoderiam ser tentados a comer do fruto da Árvore da Vida sendo revoltados nãosó contra a autoridade de Deus, mas também contra a sua natureza de Amor,tornando-se ódio como o tentador, sem maneira de ser salvo.
Um detalhe: acima da mão direita de Eva é representado odiabo que com um fruto na boca encara o expectador oferecendo o fruto paravocê.
O Homem e a Mulher após o pecado
Creio que Masaccio foi um dos poucos artistas querepresentaram de modo tão dramático a expulsão de Adão e Eva do Paraísoterrestre como o fez em afresco na Capela Brancacci da Igreja de Santa Maria doCarmelo em Florença entre 1424 e 1425.
O casal envolto em imensa dor encontra-se um ao lado dooutro,mas numa terrível solidão a dois; só pensam na sua dor. Os olhos estãofechados, pois nada mais é puro. Doravante só o olhar de fé será suficientepara a restauração do paraíso primitivo. Adão inclina a cabeça, perde adignidade com suas mãos tapando a sua face de vergonha do pecado.
Eva cobre com as mãos os seus órgãos genitais pela perca dapureza.
Sua cabeça é calva e o que restou dos seus cabelos evocam afeiúra que se esconde atrás da sedução de cada pecado. Seus olhos fechadosprofundamente sulcados em seu rosto e sua boca aberta sem dentes entoam aintensa dor de toda a humanidade pelos frutos do primeiro ao último pecado aser cometido na face da terra.
As lamentações de Jeremias diante da terrível destruição dotemplo e da nação Israelita por Nabucodonosor cabem bem na boca de Eva nestemomento tão dramático da história da Humanidade.
“Oh! Ela mora na solidão, chora e chora durante a noite:lágrimas enchem-lhe as faces; não há para ela consolador, quão grande amarguraela sofre; da bela Sião foge toda a sua honra. Lembra-se em seus dias dedesterro e humilhação de todos os seus encantos que existiam nos dias deantanho. Ela faltou gravemente Jerusalém e por isso virou imundície. Suaimpureza gruda em sua túnica; ela não pensava no que se seguiria. Vê Senhorminha humilhação, pois o inimigo se engrandece. Olhai e vede se há dorsemelhante a minha dor. Meus dois olhos se derretem em lágrimas, pois todo omeu ser está doente. Vê Senhor: para mim só angústia; reviram-se as minhasentranhas, agita-se em mim o coração, pois desobediente, desobedeci. Dentro eracomo a casa da morte (Lam 1).”