A Igreja católica no Brasil está iniciando o segundo AnoCatequético. Até aí, nada demais. Os projetos, celebrações e outrasiniciativas são comuns na Igreja. Mas alguns detalhes fazem a diferençanesse novo projeto.
Como vivemos no mundo da imagem, a primeira coisa que desperta aatenção de todos é o cartaz, pela beleza da imagem, pela riquezasimbólica. Com grande leveza, misturando o moderno com a mística, ostraços nos falam do mundo, da Bíblia, da partilha, do caminhopercorrido e do caminho a percorrer, da aliança (o arco), tudo issoabraçado pela Luz que é o próprio Jesus Cristo.
O lema, inspirado no texto bíblico dos discípulos de Emaús (Lc24,15ss), é também atraente e toca a sensibilidade de todos: “Nossocoração arde quando ele fala, explica as Escrituras e parte o pão”. Oque pode ser mais tocante do que algo que faz nosso coração bater maisforte, que o faz arder?! Feliz a pessoa que passa por essa experiênciaao celebrar, ao ouvir a Palavra, ao acolher o próximo; ao praticar umgesto de amor e misericórdia…
O objetivo, expresso no tema, é que todos se ponham a caminho, com odesejo de ser discípulos e discípulas do Mestre. Entrar pra valer naescola de Jesus, procurando seguir os seus passos, num esforço deassumir os mesmos sentimentos que estavam no seu coração. Que o fato decaminhar com Jesus e ouvir a sua Palavra faça arder o nosso coração,nos desperte para o acolhimento, nos ajude a celebrar bem e apartilhar. E que tudo isso seja o combustível para a missão de promovera vida.
O texto-base começa lembrando a importância do caminho em nossa vidae na História da Salvação. Caminhar é preciso! Ninguém pode se dar aoluxo de se acomodar, se instalar, parar no tempo, deixar a vida passarou “empurrar com a barriga”. “Quem sabe faz a hora, não esperaacontecer”. Sobretudo à luz do Êxodo, da grande caminhada para fugir daescravidão e conquistar a liberdade de filhos; e da vida de Jesus, umhomem itinerante, que “não esquentava lugar”, somos convocados aassumir o caminho.
No caminho estão todos. Os que têm nome (Cléofas e tantos outros) etêm história, mas também uma multidão de anônimos, insignificantes,descartáveis, excluídos, ignorados. Podem ser presidiários, dependentesquímicos, povo da rua, menores abandonados, órfãos, migrantes, doentes,idosos, pessoas prostituídas e tantos outros. Cada um com seu drama esuas esperanças. Conosco também caminha Jesus, mesmo quando não opercebemos. E se interessa por nós; quer ouvir e conhecer. “Nossoschefes o mataram”. Calaram sua voz. Mataram nosso sonho. “Algumasmulheres nos deram uma esperança. Disseram que está vivo”. Resta umabrasa debaixo das cinzas.
Jesus vai puxando conversa. É importante falar. É necessário terespaços onde podemos partilhar nossas decepções e angústias, nossasalegrias e esperanças. Precisamos de alguém que nos ouça, que seinteresse por nós. Depois de ouvir bastante, Jesus toma a Palavra. Apartir do que eles disseram e do que estão sentindo, das suasexpectativas. Jesus vai soprando as cinzas. A chama vai sendo aospoucos reavivada. A experiência é fantástica. É gostoso sentirreacender a esperança. Não dá vontade de se separar. É bom continuarjuntos. Fica com a gente! Queremos estar contigo.
O gesto de acolher leva a uma outra experiência mais profunda: oconvívio, a partilha, a comunhão, o sentar-se à mesa. Comungar a vida,se alimentar do outro, comer a sua presença que alimenta e alegra ocoração. De repente, Jesus se torna invisível. Mas eles não ficamtristes. Já sabem que está vivo; que irá se manifestar de outrasformas, em outros lugares, em outras pessoas. O importante é saber quevenceu o mal e a morte. Que a vida triunfou. Que Ele está no meio denós.
E agora? Agora é hora de partir. É preciso levar a notícia, espalhara esperança. E a noite, o escuro? Não importa, uma nova luz estábrilhando. E o medo? Já não existe; Ele está conosco, já não estamossós. O cansaço? Foi esquecido. Aquele encontro fortaleceu, animou,refez as forças. Agora vão retomar o mesmo caminho de antes. Só que deum jeito muito diferente. O coração agora está feliz, quer transbordar.A estrada será a mesma, eles, porém, mudaram. Agora têm um motivo, umarazão, têm um para quê.
Padre José Antônio de Oliveira