Tudo que é definitivo nasce e amadurece no seio do silêncio: a vida, a morte, o além, a graça… o silêncio é o novo nome de Deus. Penetra em tudo; tudo recria, conserva e sustém. É por isso que o nosso Deus é desconcertante: porque é gratuidade. Tudo parte dele: a graça, a glória, o mérito e o salário. Não merecemos nada, mas tudo se recebe porque ele nos amou primeiro. Não podemos nos levantar diante Dele reclamando, exigindo, questionando. Tudo é graça. Por isso seus caminhos são desconcertantes. Não há lógica humana em seus pensamentos, critérios e modo de agir.
Em seu infinito e incomparável amor, “abre mão” do seu predileto.
– Preciso que vá por eles.
– Sim, eu irei,
– Não será fácil.
– Mesmo assim, eu irei.
– Será negado, ultrajado, cuspido e ignorado.
– Eu vos amo. Eu irei.
O ser humano é chamado a ser grande.
O reino deve ser a nossa grande meta.
Quem não tem uma meta, para em qualquer obstáculo.
É fácil dominar os outros. Difícil é mandar em si mesmo. Maria de Nazaré conseguiu mandar em si mesma. Maria de Nazaré conseguiu mandar em si mesma quando disse: Eis aqui a serva do Senhor.
Encontrar-se com Deus não é uma questão de status… O encontro de Deus com o homem deve ser simples como o encontro de Deus com Maria. Deus encontrou-se com Maria em uma casinha simples e humilde de Belém.
Certamente o ambiente estava até bagunçado devido aos acontecimentos. A jovem cuidava dos preparativos de seu casamento com José. Mesmo assim, Deus encontrou a porta aberta para mudar a história da humanidade. Encontrou um coração simples e humilde.
Maria é pobre e peregrina. Crê e entrega-se a um caminho incessantemente em busca de Deus. Disse “sim” e foi fiel a essa decisão até as últimas consequências. Deu um cheque em branco e, assim, abriu um crédito infinito e incondicional a Deus.
O homem não entende. Não aceita. Não se convence. Procuram ser coisas, acumulam outras. Incapazes de se sentirem satisfeitos, apegam-se a pesos, grilhões, amarras, prisões. Desfigurados e mortos, não desistem.
E o que sobrou? O que ficou? Um cadáver ! Um vivo sem esperanças. Um morto, cansado, muito cansado. Ferido, muito ferido. E ainda assim, ansiando pelo início de tudo outra vez.
Descobre, homem, que por ti pulsa um coração com mais força que o teu! Que a violência do Seu amor faz loucura por ti. Sem nada poderes dar em troca, ele se derrama todo, se dá por Ti, se esvazia e troca a vida Dele pela tua, para que tu vivas e tua sede seja saciada. E no encontro das duas sedes, a tua e a Dele, ambas se saciam e se bastam no encontro dos dois corações.
– São homens da fraqueza rendidos ao pecado.
– Eu os amo e vou em resgate deles.
– São pecadores miseráveis e não merecem esse amor em sacrifício.
– Mas eu os amo. Eu irei e os chamarei pelo nome.
– São de condição humana e continuarão a pecar.
– E eu continuarei a amá-los, até se convencerem do meu amor.
– Vazios, angustiados, insatisfeitos, não realizados, te culparão.
– Chegará o momento em que eu serei suas realizações. Eu vos amo. Eu irei.
Mergulhado na carne, Deus se faz semente, feto, o menino. Eleva a dignidade do homem ao preço da própria vida. Mesmo sabendo que vive, cresce, padece, e morre diz “sim”! Por que sabe que após a morte experimentará uma alegria maior que a primeira: a ressurreição.
Guarde esse mistério que parte do sim perfeito e único daquela que se oferece como território livre e disponível. Maria, com seu “sim”, manifesta tremenda confiança, abandono audaz nas mãos do pai, aceitando todos os riscos, submetendo-se a todas as eventualidades e emergências que o futuro pode trazer.
Com o seu “faça-se”; Maria disse, de fato, amém à noite de Belém sem casa, sem berço, sem parteira. Amém para a fuga ao desconhecido e hostil Egito. Amém para o silêncio de Deus durante trinta anos. Amém para a hostilidade dos sinedritas. Amém quando as forças políticas, religiosas e militares arrastaram Jesus na torrente da crucifixão e da morte. Enfim, “sim” a tudo que o Pai dispusesse e permitisse.
Assim, ganhamos a salvação e o passaporte que nos destina ao fim último. Uma palavra de três letras, a qual aos incrédulos é insignificante, e a nós foi a fresta perfeita que nos dá o anseio da perfeição ao lado do perfeito.
Que neste Natal sua família seja a família de Nazaré. Suas casas a gruta de Belém e os seus corações a manjedoura para acolher de forma plena o Menino Jesus. Feliz Natal!
Ana Maria