Introdução
Cada um de nós é único e diferente, os outros nos arrancam do egoísmo, da solidão, enfim de nós mesmos e tendem a nos empurrar para Deus. O que mais nos leva a encontrar a Deus? Não podemos dizer que encontramos a Deus ignorando os outros, tampouco que um animal ou uma flor nos leva mais a Deus que os nossos semelhantes. Quando saímos de nós para amar o outro, agradamos muito ao coração de Deus.
A vontade de Deus é que desenvolvamos o amor fraterno entre nós, mas como? Cultivando relacionamentos de amor e fraternidade.
Vamos ver alguns exemplos bíblicos de amor humano. Para isso, você pode fazer uso da sua Bíblia.
– Abraão e Isaac (pai e filho) Gn 21, 1-14; Gn 22, 1- 18
– Jacó e Raquel (marido e mulher) Gn 29, 1-30
– Ruth e Noemi (nora e sogra) Rut 1,16-18
– Jesus e a família de Lázaro (união e amizade de amor) ( Jo 11, 1-44)
– Jesus e João (o discípulo amado) Jo 13,22-23
– Jesus e Pedro (o discípulo que mais amou Jesus) Jo 21,15-19
As consequências do pecado em nosso relacionamento
Deus nos criou para uma união íntima com Ele, que nos levasse a relacionarmos conosco e com os outros. Entretanto, o pecado a comunhão que outrora tínhamos com o Senhor e como grave consequência disto, desordenou-nos em todos os nossos relacionamentos. Vamos ler Gn 3,7-20 e meditarmos um pouco a esse respeito. O pecado cavou em Adão e Eva um grande abismo; já não conseguiam mais se comunicar um ao outro. Pois acusavam-se reciprocamente e se falavam cada vez menos. Muito ao contrário do que acontecia quando habitavam no Jardim do Éden. O relacionamento que possuíam no Paraíso era a imagem de Deus.
O pecado nos tornou cegos e egoístas. Mas como cegos? Ele nos tirou a visão interior a respeito de Deus, conosco e com os outros. Egoístas, pois buscamos a nós mesmos de maneira exclusivista, querendo sempre a nossa própria satisfação que gera a “independência” de Deus. O egoísmo é uma doença que nos leva ao desamor dos outros, a querer ser servido, a nunca abaixar-se para servir, aos ressentimentos, ` as mágoas… Entretanto, contra essa maldita enfermidade Deus nos concede sua Graça Divina.
O pecado deixou várias seqüelas em nós. O individualismo é um grande mal gerado pelo pecado. Vivemos hoje numa cultura extremamente individualista, onde a lei é cada um por si e Deus por todos. Aprendemos desde o berço que quem pode mais chora muito menos. O individualismo nos leva a uma recusa do relacionamento com Deus, e sem o qual somos incapazes de nos relacionarmos com os outros. ” Se não amo ao irmão, a quem vejo, como poderei amar a Deus? ” ( I Jo 2,10)
Você conhece a história de Caim e Abel? Nela vemos o reflexo daquilo que o pecado fez ao coração do homem. Vamos ler atenciosamente Gn 4, 1-25.
O primogênito, Caim, tornou-se como seu pai Adão, agricultor e lavrador. Ao contrário, Abel, escolheu ser pastor e cuidar de ovelhas. Este ofício oferecia-lhe tempo para rezar, para escutar a Palavra de Deus e servi-lo. O que Abel significa para nós? É a pessoa cuja vida está em caminho para atingir a vida eterna. Não possui um lugar fixo, mas está sempre a caminho. Não esforça-se para acumular propriedades, e dá a Deus o que há de melhor.
E Caim? É o protótipo do homem preso às coisas deste mundo, que investe o melhor do seu tempo e dos seus talentos para realizar exclusivamente a si mesmo através do sucesso material. Porém, todo seu sucesso se transformou num insucesso e derrota. Tornou-se um errante, sem parada, e não encontrou nenhuma satisfação verdadeira, nem sequer nesta vida, onde tudo é passageiro.
O coração de Caim era tomado pela competição e pelo individualismo. Ele não trabalhava para Deus, mas para si, e não suportava de forma alguma ver a predileção de Deus por Abel. Por isso, tomado pela inveja eliminou aquele cuja vida era voltada para Deus, provocando assim o primeiro assassinato na história do homem. Tudo isso que vimos levou-nos a uma isenção da responsabilidade para com o outro. Um exemplo claríssimo que podemos tomar está em Mt 27, 24. Pilatos para não assumir seu posicionamento em relação a Jesus, o qual acreditava ser inocente preferiu lavar as mãos. Quantas vezes você não lavou sua mão para não assumir qualquer responsabilidade com o teu próximo? Vamos rezar um pouco sobre isso.
Podemos nos unir senão em Deus?
Quem não conhece aquela célebre frase: ” A união faz a força!!!” ou ainda, “Juntos chegaremos lá!!!” Estar junto buscando um mesmo ideal não significa unidade, tampouco exprime o tipo de relacionamento que agrada a Deus. Unimo-nos para juntos conseguirmos êxito em nossos objetivos. Não é a isso que somos chamados. Movido pelo orgulho, o homem construiu a Torre de Babel. Entretanto, ao excluir Deus findou-se a unidade, pois Ele é o grande Outro que une os homens entre si.
A unidade é um grande dom de Deus, porém quando fazemos mau uso dela, pode tornar-se nociva. Então, a compreensão mútua já não existe. Todo dom de Deus se usado para o egoísmo humano, torna-se um mal para nós mesmos.
A falta de comunhão com o outro nos leva ao abismo do fechamento
Quando nos recusamos a nos relacionarmos criamos entre nós e os outros um imenso abismo. Ao nos fecharmos em nós mesmos, nos tornamos egocêntricos. Começamos a agir mesmo que inconscientemente com um pé na infância, daí surgem o ciúmes, a inveja, as competições, o desejo ardente de eliminar os outros da nossa vida, quando não o fazemos utilizando a indiferença. Tudo isso impede que nossa personalidade seja amadurecida, e corremos o grande risco de nos tornarmos pessoas angustiadas, solitárias e inseguras.
Cada um de nós é um ser único que foi criado por Deus. Tudo o que somos nunca existiu e jamais existirá igual. As nossas qualidades e talentos são experiências vividas nos constituem de uma maneira muito singular, tanto quanto nossas impressões digitais. Somente você pode partilhar com o outro o que você é. Quando nos recusamos, privamos os que estão a nossa volta do dom que somos para eles.
” O caminho da justiça é o amor. Nem sempre é fácil permanecer à imagem das emoções, que nos envolvem diariamente na vida em sua continuidade. Tentar avaliar as nossas posições e palavras à luz da justiça que procuramos, à luz da Palavra do Senhor. Permanecer alerta para que as pequenas dificuldades sejam superadas no seu nascer. Erva daninha não arrancada logo, vira mato. Desentendimento não esclarecido, com facilidade torna-se barreira que prejudica todo um caminho de construção de um futuro melhor.” ( Frei Patrício)