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Dom Redovino Rizzardo
Pregandodiante do Papa Bento XVI e de uma multidão de fiéis na Basílica de SãoPedro no dia 10 de abril, Sexta-feira santa, Frei Raniero Cantalamessademonstrou que, diferentemente do que pensam os ateus e osmaterialistas, a fé em Deus não só não se opõe à felicidade do homem,mas a realiza e plenifica.
Em sua homilia, referindo-se às faixas que apareceram nos ônibus de algumas cidades européias – «Provavelmente Deus não existe. Deixe de se preocupar! Aproveite a vida!» –, ele afirmou: «Amensagem subliminar é que a fé em Deus impede de desfrutar a vida, éinimiga da alegria. Sem ela, existiria mais felicidade no mundo! Oelemento de maior preocupação desse slogan não é a premissa “Deus nãoexiste”, mais a conclusão: “Aproveite a vida!”».
O pregador lembrou que o conselho é lido também por pessoas que têm suas vidas amarguradas por toda a espécie de sofrimento: «Euprocuro imaginar a reação delas ao ler as palavras: “Provavelmente Deusnão existe: aproveite a vida!” Mas, de que forma e com que meios? Essa,porém, não é a única incoerência dessa idéia publicitária. “Deusprovavelmente não existe”: portanto, poderá existir! Não se podeexcluir totalmente a possibilidade. Mas, se Deus não existe, eu nãoperdi nada; se, pelo contrário, ele existe, você, amigo incrédulo, teráperdido tudo!».
OPe. Raniero julga que o slogan, ao invés de atingir os objetivos pelosquais foi difundido, acabou por se tornar uma propaganda a favor deDeus: «Devemos quase agradecer aos que lançaram a campanhapublicitária; ela serviu à causa de Deus mais do que muitos argumentosapologéticos. Mostrou a pobreza de suas razões e contribuiu paradespertar muitas consciências adormecidas. Deus é capaz de fazer deseus negadores mais obstinados os apóstolos mais apaixonados. Paulo é omaior exemplo disso».
Para o religioso, o verdadeiro inimigo da felicidade humana é o pecado, sob qualquer forma se apresente: «Opecado prende a criatura humana na mentira e na injustiça; condena opróprio cosmos material à vaidade e à corrupção, e é a causa última atémesmo dos males sociais que afligem a humanidade. Fazem-se análises semfim da atual crise econômica e de suas causas. Mas quem ousa meter omachado na raiz e falar do pecado? São Paulo define a avarezainsaciável como uma idolatria e vê na desenfreada ganância do dinheiroa raiz de todos os males. Temos coragem de afirmar que ele estáequivocado? Se tantas famílias perderam tudo e uma multidão deoperários ficaram sem trabalho, não foi pela sede insaciável de lucropor parte de alguns? A elite financeira e econômica mundial é fruto deuma locomotiva que avançava numa corrida desenfreada, sem pensar norestante do trem, que ficou parado à distancia, sobre os trilhos.Estávamos todos andando na contra-mão».
Quemacolhe a fé cristã, também recebe a chave que lhe permitirá desvendar osegredo para superar e transformar o mal e o sofrimento, como recordaFrei Raniero: «Cristo derrubou o muro de separação e reconciliou oshomens com Deus e entre si. Com sua morte, não somente venceu o pecado,mas também deu um sentido novo ao sofrimento, inclusive àquele que nãodepende do pecado de ninguém. Ele o transformou num instrumento desalvação, num caminho para a ressurreição e a vida».
Comsua morte e ressurreição, Cristo se ocultou em cada sofrimento,tornando-o semente de ressurreição para quem acolhe o amor que oEspírito Santo derrama nos corações que o procuram. Não é o sofrimentoque impede a felicidade, mas a busca do prazer pelo prazer, sem olharpara nenhuma outra consideração. Esta sede insaciável gera a depressãoe o vazio existencial quando não se coloca o amor acima dos própriosinteresses e das tendências naturais. Era o que São Paulo queria dizerao asseverar que «morria todos os dias» (1Cor 15,31) ao pecado, para também ressuscitar todos os dias a uma vida de realização e felicidade.
Porisso, se realmente quisessem ajudar os leitores e usurários a superaremseus problemas e a serem felizes, os ateus europeus deveriam fazer umapequena, mas fundamental, modificação nas faixas que colocaram nosônibus: «Deus existe. Lance nele suas preocupações! Aproveite a vida!»