A violência do coração

Por Emmir Nogueira

O Ronaldo, irmão querido, ensinou-nos muitíssimo nos breves anos que viveu entre nós, jovens e Comunidade. Ensinou-nos com sua sabedoria através de palavras, mas, sobretudo, marcou-nos com os ensinamentos indeléveis de sua presença e atitudes. Tendo sido por vários anos coordenador do Projeto Juventude para Jesus, Ronaldo, também ele jovem, pôde ter uma visão bem ampla e profunda dos principais desafios para um jovem católico. Ele mesmo, certamente, os vivia na sua impressionante busca pela fidelidade e santidade. Tendo falecido com apenas vinte e quatro anos, Ronaldo não teve tempo de deixar muitas coisas escritas, o que é uma pena. Porém, como ele gostava mais de viver do que escrever, deixou-nos recordações e testemunhos vivos e sempre presentes, sendo até hoje comum comentarmos ou pensarmos: “Se o Ronaldo estivesse aqui faria assim”.

Muita coisa nos foi ensinada por ele durante as refeições, as conversas (que ele jamais evitava!) os aconselhamentos (que ele jamais negava!). Um desses ensinamentos informais e indeléveis é sua palavra de sabedoria conhecida como “violência de coração”. Esta violência que vem do Amor e leva ao Amor foi vivida por ele a cada dia, seja na penitência de comer algo de que não gostava, seja no sorriso sempre presente nos lábios, mesmo que o coração chorasse. Era notada por muitos de nós, com quem ele havia partilhado sobre este tipo de violência e pureza. Nós, porém, mesmo notando sua violência de coração, permanecíamos calados, como em respeito, arriscando no máximo uma troca de olhares.

Porque viveu violentando seu coração e morrendo para si mesmo, o Ronaldo foi digno de morrer como mártir, em missão, em um momento que, certamente, o Deus que o ama, teve de violentar o próprio coração para tê-lo consigo. Hoje, sua vida e sua morte nos apontam, com grande alegria, que é tempo de amor, coragem e renúncia, pois o tempo é breve e o céu, bem, o céu é logo.