As férias são um tempo de liberdade. Quem não tem idéias brilhantes nesse espaço de liberdade, intervalo entre períodos de compromisso e preocupações? O pensamento fica mais solto, projetos novos brotam com mais facilidade, soluções para questões não resolvidas, tudo isso costuma acontecer no tempo de férias. Isso é compreensível. Quando estamos mergulhados numa situação problemática, nós a analisamos e até lhe percebemos os detalhes sem, entretanto, encontrar o ânimo para superá-la.
Ao nos distanciarmos, podemos vê-la de forma mais ampla emoldurada num horizonte maior, o nosso projeto de vida, às vezes caído no esquecimento. É importante essa experiência. Sair da rotina da vida, rever parentes e amigos, descansar à sombra de uma árvore ou à margem de um rio. A mente fica cheia de recordações das coisas boas que ficaram distantes no tempo.
É possibilidade de se fazer a higiene da alma, libertando-a de mágoas e más recordações; de permitir que os sonhos bons aflorem e tragam novo encorajamento; de saborear a intimidade com os entes queridos; de conviver na intimidade com Deus, dando-lhe a atenção que a correria da vida sempre adia. É preciso dar atenção ao Deus que está sempre próximo, que fala conosco e espera ser ouvido. Ele não deixa de falar.
A dificuldade não está do lado dele. Está do nosso lado que não lhe damos ouvidos. “Eu estou à porta e bato; se alguém abrir, eu entrarei e, juntos, faremos a refeição” = viveremos em comunhão (cf Apocalipse 3, 20). Estar em férias não é sinônimo de passividade e inércia. É viver um ócio saudável e necessário para o reabastecimento das energias. Nem tudo o que se sonha é colocado em prática. Mas o certo é que a força para realizarmos nossos projetos vem em grande parte das pausas restauradoras, nas quais temos possibilidade de redescobrir nossas motivações mais profundas.
Dom Luiz Antônio Guedes
Bispo diocesano de Bauru