Controle, produtividade, excelência, urgência, correria, cansaço… Seja na própria experiência, seja num encontro despretensioso ou, ainda, numa troca de mensagens: quem não se depara cotidianamente com essas palavras que atire a primeira pedra!
Na velocidade do mundo, no desejo de certezas do futuro e na busca pelo sucesso imediato, nos deparamos com pessoas esgotadas e o assustador: cada vez mais jovens. Na engrenagem da produtividade nos tornamos mercadorias como todo o resto. O erro é visto como fracasso e o recomeço como perda de tempo.
Procuramos o caminho que gere menos custos e no qual seja necessário o mínimo de sofrimento, afinal, precisamos estar felizes o tempo todo e exibindo a nossa vida nas vitrines virtuais das redes sociais. Maquiando a própria existência tentamos esconder nossas fragilidades, disfarçar os vazios (acentuados pelos excessos) e calar as vozes que gritam dentro e fora de nós.
Existências maquiadas, corações fragmentados. Passo a passo, buscamos receitas simples e caminhos prontos na procura por facilidades que nos levem a “resolver” os problemas. Esses caminhos vão se proliferando e ganhando espaços cada vez maiores, afastando-nos de nós mesmos e, de preferência, com o mínimo de reflexão a respeito das nossas próprias responsabilidades.
As facilidades do mundo contemporâneo não são más em si, mas, na medida que servem para nos distanciar de um modo de vida mais autêntico e refletido, podem se apresentar como um perigo, nos levando a ser “apenas mais um” no meio da multidão, fazendo o que todo mundo faz, vivendo como todo mundo vive e querendo o que todo mundo quer.
Na contramão desta lógica mundana adoecedora, estão os apelos evangélicos da espera e da esperança. A espera paciente não é um mero “deixar vir”, mas uma espera ativa, sabendo que estou fazendo o que me cabe, embora não possa controlar o futuro. É não desespero diante do desconhecido, mas esperança de não estar caminhando só. A espera aos moldes de Jesus nos leva a experimentar a existência de modo mais sereno, menos exigente e, por isso, mais leve e mais saudável.
Faz-se pertinente ressaltar que nenhum de nós vai dar conta de tudo a todo tempo. Mas, a cada momento, é preciso dar conta do que é possível. Repito: possível! E está tudo bem. Ser cristão é um convite constante a configurar-se ao Mestre, nadando contra a corrente dos valores mundanos que geram aprisionamentos e mortes interiores.
É preciso deixar brotar em nós a capacidade de “demorar-se” com Deus, consigo mesmo e com os outros. Assim, recuperar a capacidade de contemplação do Criador e da criação. Recuperar, ainda, a capacidade de maravilhar-se com as miudezas da vida. Em suma, é necessário redescobrir o poder transformador da gratidão!
A proclamação de Jesus “No mundo tereis aflições. Mas tende coragem! Eu venci o mundo” (Jo 16, 33) também deve ser para nós um apelo a renunciar os excessos e o desejo de controle e um vigor novo para a disposição de continuar, com esperança, nadando contra a corrente.
Milena Rodrigues
Discípula da Comunidade de Aliança – Natal/RN