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5 dicas para um voto cristão consciente

As eleições no Brasil já estão se aproximando. Saiba como escolher o melhor candidato segundo a Doutrina Social da Igreja.

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Foto: Divulgação

Este texto surgiu de uma inquietação sobre as próximas eleições: diante de uma sociedade cada vez mais polarizada e individualista, como nós cristãos podemos fazer valer a Doutrina Social da Igreja? Antes quero te apresentar uma frase que venho repetindo desde as últimas eleições: “meu partido é ser inteira”. É uma brincadeira, que significa que eu decidi não me identificar com um partido político, mas expressar-me politicamente a partir unicamente do viés da Doutrina Católica. Eu não me identifico com um partido político, mas isso não significa que eu esteja fora do cenário político.

Desde minha juventude minha base política é a partir dos documentos da Doutrina Social Católica. E aprendi com ela que a política é o Bem Comum, no sentido de buscar o que é melhor para todos. A Política é o ato de governar, administrar aquilo que é público. Portanto é muito mais amplo do que a política partidária. Eu me envolvo politicamente (esse texto é um exemplo) a partir do momento em que “milito” para que a verdadeira política seja reconhecida, aquela que é serviço e ato de Caridade.

E de uma coisa precisamos ter plena clareza: Se nós não nos conhecemos e não nos envolvemos com a política, apenas estaremos passivamente recebendo os impactos de quem está nela. Quantas vezes não nos sentimos representados pelas orientações legislativas, jurídicas e executivas de nosso país, governos e cidades não é mesmo? Mas ao mesmo tempo tudo parece tão confuso que nem sabemos por onde começar.

Participação política dos fiéis

A Igreja orienta seus fiéis acerca da participação política. Porém, temos dificuldade de compreender essas orientações e nos sentimos no meio de um fogo cruzado. Aqui neste texto vou te ajudar a colocar de forma concreta na sua vida essas orientações para as próximas eleições.

Agora, como boa “irmã mais velha”, para não dizer “tia”…hehe… vou puxar a orelha: não se permita ficar nessa berlinda nas próximas eleições, tá? Busque conhecer a Doutrina Social Católica, busque orientação e forme sua consciência para que você não corra o risco de ser manipulado(a) ou instrumentalizado(a) por nenhuma ideologia. A Doutrina Social pode ser estudada pelo próprio Catecismo da Igreja Católica ou por um documento chamado DoCat que fala de forma simples e direta sobre as dimensões de nossa vida social. Além desses temos as Encíclicas, em especial as do Papa Francisco que também explicam muito bem e de forma simples, como devemos viver.

Vamos as dicas:

1 – A primeira é a mais óbvia e necessária de todas: reze, interceda por nosso país, nossos estado e cidades. Peça a Deus a Graça e o discernimento com um coração reto. Assuma que seu voto é importante, sim!! Sua oração é importante, sim! E unidos em oração somos capazes de incendiar o mundo! Precisamos tomar posse disso!! Peça a Deus a graça de votar sem pensar apenas nos seus próprios interesses, mas no Bem Comum. No bem de todos!

2 – Não se deixe abater pela desesperança: a política é um belo Dom, mesmo que distorcido e maculado pelos homens. Creia que a salvação do mundo está em Deus e Ele mesmo nos ensinará a dar respostas para os desafios de cada tempo.Tenha esperança de que nos passos de hoje, estaremos construindo um futuro melhor.

3 – Conheça os candidatos e os partidos políticos. Os partidos são uma tentativa de garantir a democracia, quando o povo elege por meio do voto grupos de pessoas associadas em torno de uma causa. Todo partido político possui um Estatuto e uma Causa pela qual milita, por tanto mesmo que um candidato diga que lute por algo, mas seu partido luta por outra coisa, ele terá que aderir ao partido. Conheça a causa do partido para o qual você está se inclinando através do site do Partido e suas propostas (vá direto à fonte e veja com seus próprios olhos o que o Partido defende e pelo o que vai lutar, cuidado com os discursos bonitos e ilusórios).

Após buscar a proposta do partido, forme sua consciência sobre o que a Igreja diz sobre estes temas. Busque fontes diretas para isso: o Catecismo da Igreja Católica e o DoCat (documento simplificado da doutrina social católica).Fuja de sites que você não conhece a origem e busque sites com base nas documentações do Concílio Vaticano II. Se precisar de ajuda com isso, pode me chamar! hehe

4 – Escolha pela razão e não pela emoção. A disputa nas eleições é mais baseada no discurso e publicidade que na proposição de causas a defender. Por isso, cuidado com frases de efeito e informações fora de contexto. Busque informações em vários meios de comunicação diferentes, não se limite a escutar um meio de comunicação, a maioria das mídias não são isentas politicamente, elas também defendem suas causas. Por isso, a melhor forma de evitar ser manipulado é ouvindo todos os lados.

Um breve testemunho

Sou assistente social, profissão extremamente partidária e militante do comunismo. Quando fiz faculdade e mestrado, eu me confessava quinzenalmente, participava da Missa todos os dias e lia constantemente a Doutrina, porque sabia que ali é que estava a “Verdade verdadeira”…hehe. Depois de mais de dez anos afastada da universidade, tenho certeza que foi assim que Deus me livrou dos enganos.

Busque se informar. Sempre tendo como aliados a Doutrina da Igreja e a vida sacramental, não tenha medo das ideologias se você estiver blindado pelo tripé da Palavra, do Magistério e da Tradição. Claro que tudo isso com uma vida na graça.

“Mas, Aline, é chato…dá ‘gastura’, às vezes não entendo nada”. Seja qual for o sentimento que gera em você, reconheço que em mim também surgem. Também tenho momentos em que fico cheia de dúvidas, mas a gente pergunta tanta coisa para o Google e Youtube, o que acha de perguntar sobre essas dúvidas que temos? Também sinto raiva, tristeza por nosso povo, às vezes o orgulho dentro de mim quer gritar. Porém não podemos cansar de “chorar e sofrer com os que sofrem”. Precisamos nos fazer um com nosso povo e não fechar os olhos. Talvez assim, deixemos de nos omitir e nos preparemos melhor para os próximos anos. Talvez assim, saiamos da nossa soberba e vejamos a verdadeira política, aquela que se une a dor do povo e é uma com o povo. Sem populismo ou medo de falar povo, já que o Papa também falou na Fratelli tutti (melhor aula de sociologia que li nos últimos tempos).

Não vamos fazer Paz com guerras e nem com omissões, precisamos buscar viver o Evangelho em todas as suas dimensões.

5 – Cuidado com as relativizações do Evangelho. Observe se os seus candidatos ou as pessoas que você tem como referência (professores, influenciadores digitais, amigos) relativizam o Evangelho para justificar suas opções e causas. Essa é difícil de explicar sem acharem que estou sendo tendenciosa, por isso vou usar um exemplo meio fora de contexto.

Digamos que eu precise emagrecer e ao chegar em um restaurante está exposto no buffet apenas dois pratos: macarrão com salsicha ou arroz à piamontese. Com minha boca salivando vou falar, “que pena não tem salada de alface com batata doce” e vou escolher o arroz à piamontese com a desculpa de que a salsicha é um alimento “pior”. Porém, nem sequer considerei buscar o que seria melhor, não pensei na possibilidade de perguntar se o restaurante poderia preparar algo saudável, não cogitei mudar de restaurante. Simplesmente me justifiquei e fiz o que era mais prazeroso e fácil para mim naquele momento, mesmo sabendo que a longo prazo me causaria prejuízo.

Observe se as pessoas que você está ouvindo estão realmente pregando o Evangelho. Se elas apenas se justificarem com o que é mais fácil, mais acessível, cuidado! Os fins não justificam os meios. Se utilizar de situações pecaminosas com a desculpa de alcançar um “bem”, não é evangélico.

Caso você perceba que algo ali te rouba a Paz, a Verdadeira Paz, se resguarde. Ah, e guerra só contra o pecado, tá? Deus é Amor e Amor é a Caridade segundo a visão da Igreja Católica, baseada na Palavra, no Magistério e na Tradição. Qualquer justificativa que utilizamos para sair disso não é sadio, nem lícito. O Evangelho não é relativo, é relação (aprendi com o Papa Francisco, só não achei em qual discurso, caso você saiba me ajuda aqui).

Fuja de referências que te afaste de Deus e busque aquelas que são fidedignas, Papa Francisco nos ajuda muito com seu discurso bem direto e simples. A visão dele vai te ajudar bastante!

6 – E quando não nos sentimos representados, o que fazer?

A Igreja preconiza aos seus fiéis que dentre os “males” ela escolha o menor. Entretanto, muitas vezes se utiliza esse argumento negligenciando as possibilidades de fazer o Bem. CUIDADO! Não trate seu futuro de qualquer jeito. Desculpe a sinceridade, às vezes temos todo cuidado do mundo sobre qual instituição vamos entregar nosso dinheiro, para quem vai cuidar dos nossos bens pessoais, e não levamos em conta que os bens públicos também são nossos. Quantos pais e filhos têm “medo” das escolas e hospitais públicos? Tenha essa clareza: você faz parte, tudo que é público também é seu e é seu direito saber e opinar sobre como está sendo administrado.

Não vou tapar o sol com a peneira, realmente está difícil nos sentirmos representados como Cristãos. Para que essa situação não se perpetue, vamos então acionar nossos dons para conhecer os candidatos. Para conhecer a política brasileira, sem guerra, como verdadeiros discípulos e ministros da Paz.

De maneira prática você pode começar coloque em um papel os prós e contras de cada candidato e pense, reflita, reze, peça a Deus um reto discernimento. E não permita que ninguém decida seu voto por você.

7 – para além das eleições 2022: você não sente nem uma pontinha de vontade de se sentir representado(a) e agir em busca disso? Quando não nos envolvemos na vida política seja do país, da cidade, do bairro, da escola, isso significa que estamos sujeitos a qualquer uma das decisões daqueles que estão ativos. Na Fratelli Tutti e o Papa Francisco incentiva os movimentos populares, por que não você participar de um que realmente represente os valores cristãos.

Mais um testemunho pessoal: desde 2019 criei uma associação com minha família e amigos para capacitar e inserir jovens no mundo do trabalho. Se eu estou nesse caminho, você também pode se, assim, Deus quiser. Sou muito mais fraca que você e sem demagogia, tá?!

Reze com isso, busque sua participação na sociedade. Precisamos incendiar o mundo!! São João Paulo II, rogai por nós!!

Para finalizar, segue um trecho do texto do Cardeal Odilo Pedro Scherer para as eleições de 2018 que vale a pena ler inteiro:

“O voto nunca deveria ser carimbado de ódio, raiva ou irresponsabilidade em relação ao bem comum. Voto é questão de consciência e chegou a hora de cada um fazer a sua parte para deixar o Brasil melhor após as eleições. No final de tudo, é isso o que conta”.

Aline Siliprandi
Consagrada da Comunidade de Aliança,
mestre em serviço Social e mentora de carreiras 

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Comentários

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  1. Parabéns pelo texto! Encontrei aqui uma referência no meio de toda a polarização que encontro em outros sites. E o melhor sem respostas prontas, mas um texto para “formar a consciência” e me dispôr a querer estudar e ser responsável. Parabéns Aline, continue! Bendito Seja Deus pelo dom que é o Com Shalom.