Formação

Escatologia, um estudo que desperta esperança

O tema se refere a morte, juízo particular, juízo final, céu, inferno, purgatório, segunda vinda de Cristo e a renovação do mundo, mas com o olhar de eternidade e esperança, não tristeza e desespero.

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(Imagem: Aqtai/ pexel)

Falar de escatologia é falar de algo tão belo quanto misterioso, algo oculto sob um espesso véu, mas que, ao mesmo tempo, não fica restrito ao campo da imaginação, é tão real quanto a realidade do Corpo e Sangue, Alma e Divindade de Cristo presentes na Eucaristia, da qual temos a prova pelos inúmeros milagres ocorridos e graças diárias alcançadas em nossas vidas, que se unem ao testemunho irrevogável das Escrituras e da Tradição e ensinamento da Igreja.

Definição 

Bem, vamos à definição dada pelo Professor Felipe Aquino: “Escatologia é o estudo sobre os ‘últimos acontecimentos’. A palavra vem do grego eschatón (= último). Se refere ao término da história da salvação.” Infelizmente, como acontece com muitos outros termos, pode-se encontrar definições absurdamente diferentes desta nos meios seculares.

Porém, é nessa realidade que a Igreja se refere quando fala de escatologia: o fim dos tempos e, por aproximação, tudo o que se refere à vida eterna e ao acontecimento particular do fim da história de cada homem que se dá com a morte, afinal “está determinado que os homens morram uma só vez, e logo em seguida vem o juízo” (Hb 9, 27), isto é, antes do juízo universal que o Senhor realizará no fim da história, haverá um juízo particular, pessoal, no momento da morte depois do qual o Senhor retribuirá a cada um conforme suas obras (cf. Rm 2,6).

Não precisa se assustar

Quanto a este juízo particular, me lembro sempre da explicação que meu pai me dava quando me ensinava as verdades da Fé de forma que minha cabeça de criança podia entender: ele dizia que, no fim, Deus iria sentar comigo e assistiríamos a um DVD (isso ainda existe?) com todas as cenas da minha vida e Ele me mostraria cada detalhe dizendo onde acertei e onde errei.

De alguma forma, essa imagem não me assustava, mas acho que me fazia perceber que desde agora Deus é um Pai que olha e se preocupa comigo, está comigo no cotidiano. Contudo, nem sempre temos uma lembrança ou experiência positiva ao pensar nessas realidades últimas da nossa vida e da vida do mundo, pelo contrário, vivemos num contexto em que o homem faz de tudo para não pensar na sua limitação que é o sofrimento e a morte.

Na busca do prazer, do poder, do possuir, do aparecer, o homem tenta fugir da realidade de que sua vida tem limites e tenta como que apaga-los, e é justamente aí que se engana e se perde. Os salmos já nos dizem que não há quantia em dinheiro que possa garantir ao homem uma vida imortal, o mesmo se aplica a qualquer outra realidade ou forma de fuga que se possa encontrar e que tente romper os limites frágeis do homem frágil.

A esperança não decepciona

Diante deste quadro não devemos desanimar, mas voltar o nosso olhar para Jesus, o Ressuscitado que passou pela Cruz, e Nele colocar toda a nossa esperança, pois nos diz a Igreja que “uma vez que existe uma íntima ligação entre o fato da ressurreição de Cristo e a esperança da nossa ressurreição futura (cf. 1 Cor 15, 12), Cristo ressuscitado constitui também o fundamento da nossa esperança, que se abre para além dos limites da nossa vida terrena” (tradução livre do italiano).

É Ele quem nos abre as portas do Céu e dá verdadeiro sentido à nossa vida. É comum ouvirmos ou até pensarmos que a esperança na vida eterna torna os que acreditam pessoas alienadas e passivas na construção deste mundo, mas, “pelo contrário, é o materialismo que priva o homem de razões reais para construir o mundo. Por que devemos lutar, se não há nada para esperar depois da vida terrena? «Comamos e bebamos, porque amanhã morreremos» (Is 22,13)”2 (tradução livre do italiano).

Uma construção cujas estruturas e as paredes estejam curvadas para dentro de si está destinada a ruir, é para o alto que se deve construir, tendo bases muito sólidas para suportar todo o peso do que se pretende fazer, quer dizer, a nossa vida cresce, se desenvolve, torna-se verdadeira e primorosamente humana quando voltada para o alto, para Deus de quem recebemos a vida, para o alto de onde virá o Senhor Ressuscitado para nos abrir amorosamente Seus segredos de amor, para responder às inquietações que nos movem e assim saciar a maior inquietação que trazemos em nós: a sede de Deus, pois sabemos que Ele nos fez para Si e nosso coração está inquieto até repousar Nele (cf. Santo Agostinho).

Essa inquietação não nos deixa inertes, mas em constante movimento. Quem dera buscássemos ao Senhor e à Sua Vontade da mesma forma desesperada com que buscamos um objeto de valor quando perdemos (como o celular, por exemplo).

Escatologia e espiritualidade Shalom

Para a nossa espiritualidade Shalom, falar de escatologia é ainda falar dos verdadeiros esponsais, isto é, do matrimônio definitivo de nossas almas com Deus no Céu, matrimônio que já se realiza em parte na terra pela via da oração e do serviço enquanto acolhimento integral da Vontade Deus, como fez Maria.

Falando do Apocalipse – livro bíblico escatológico por excelência –, nossa cofundadora, Emmir Nogueira, chega a chama-lo de “o livro das bodas das almas esposas”, pois nos mostra em uma série de imagens cheias de beleza e poesia o destino ao qual todos os homens são chamados: a santidade, que, para nós, assume este caráter esponsal, de oferta total, incondicional de nós mesmos aos Amado de nossas almas.

Um amor que não pode ser contido em nosso peito e nos leva a ir encontro daqueles que o Amado ama e por quem deu a vida, amor que, como um perfume derramado, não pode voltar ao frasco que o continha – pois já se quebrou no momento da oferta – e espalha a fragrância por onde passa, amor inflamado que ultrapassa os limites do tempo e se lança na Eternidade para louvar sem fim Àquele que nos criou para percorrer um caminho novo e para cantar eternamente o Seu louvor (cf. Escrito Obra Nova).

Enfim, esta é um pouco da nossa visão sobre o fim da história do mundo e da nossa história, para saber mais sobre os conceitos teológicos e doutrinas recomendo a leitura deste artigo publicado com baseado n livro do Professor Felipe Aquino. Além disso, devemos conhecer o material da Igreja a esse respeito no Catecismo e outras obras que deixo como referência.

Deus abençoe você.
Nos vemos na Eternidade.
Shalom!

André Luiz de Araújo Silva
Seminarista da Comunidade de Vida Shalom
Assistência Missionária

Onde está o Rei? Viemos adorá-lo

E visando essa grande oportunidade que o Senhor nos concede, a Comunidade Shalom preparou um grande retiro de aprofundamento e oração para o tempo do Advento, chamado “Onde está o Rei? Viemos adorá-lo”. Com esse itinerário, poderemos mergulhar mais profundamente nos mistérios da vida de Jesus e em Seu Evangelho, a fim de descobrir uma nova via de conversão e mudança de vida para cada um de nós. 

[Saiba mais na página especial de Advento]

Fontes de referência

Documents Vatican Roman Curia
Escrito Amor Esponsal
Outras referências
Carta sobre questões respeitantes à escatologia 
Catecismo da Igreja Católica parágrafos parágrafos 988-1060


Comentários

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