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Quem é Guido Schäffer, brasileiro declarado venerável pelo Vaticano?

Emmir Nogueria fez um texto sobre o testemunho do jovem seminarista.

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Foto: Reprodução

Guido Vidal França Schäffer, nascido em 1974, destacou-se por seu trabalho incansável no cuidado de pacientes com AIDS e por sua atuação na evangelização nas comunidades carentes do Rio de Janeiro. Em parceria com sua noiva e um padre, fundou o grupo de oração Fogo do Espírito Santo em sua paróquia durante a década de 1990. No último sábado (20), a Igreja Católica declarou Guido como venerável. Foram reconhecidas as virtudes heroicas do jovem. 

Após participar do encontro das famílias em 1997, durante a visita de São João Paulo II ao Rio de Janeiro, e da viagem à Europa para a beatificação dos protomártires brasileiros em 2000, Guido sentiu o chamado ao sacerdócio e decidiu ingressar no Seminário. Durante seus estudos, ele continuou a se dedicar com entusiasmo tanto à prática médica quanto à evangelização.

Aqueles que o conheceram destacam sua profunda amizade com Jesus, sua familiaridade com as Escrituras e a maneira apaixonada com que compartilhava sua fé. Por amor a Deus, ele vivia uma vida de simplicidade e discrição, praticando jejum e penitência. Mesmo durante suas atividades de surfe, seu esporte favorito, ele começava cada treinamento com oração.

Em um trágico incidente em 2009, enquanto surfava na praia do Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro, Guido foi atingido na cabeça por sua própria prancha de surfe e acabou se afogando, deixando um legado de dedicação ao serviço dos necessitados e à sua fé.

Emmir Nogueira faz texto inspirado no testemunho de Guido Schäffer

– “Sem sapato outra vez, Guido?!”

A mãe, fingindo-se aborrecida, olhando os pés de Guido, sujos e cortados pelo asfalto, faz de conta que realmente não sabe qual o destino de mais aquele par de tênis. O filho percebe seu teatrinho e simplesmente a beija e se senta para comer alguma coisa.

A misericórdia tem coragem de ir de encontro aos outros1

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– “Se a senhora visse como estava a blusa daquele homem morrendo de frio, aposto como a senhora também lhe teria dado sua camisa!”

Guido desconversa, querendo envolver a mãe na mesma misericórdia que havia tido com o morador de rua.

Um coração misericordioso tem a coragem de deixar a comodidade

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– “Ah! Dr. Guido! Ainda bem que o senhor chegou! Eles tava tudo quereno me levar no camburão, dotô.”

Enquanto o mendigo malcheiroso e embriagado fala, Guido o abraça como se fosse o homem mais limpo da face da terra. Os policiais se afastam, desistindo de levar o homem, em plena Lapa (RJ). Já conhecem a fama do Dr. Guido, jovem médico sanitarista, amigo dos pobres, “figurinha carimbada” das periferias do Rio de Janeiro.

Um coração misericordioso sabe ser um refúgio para quem nunca teve uma casa ou perdeu-a.”

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– “Ele costumava vir aqui pelo menos uma vez por semana e passava a noite toda rezando. De manhã, saía para a faculdade. Estava sempre feliz, sempre sorrindo.”

Sem esconder a emoção, a freira relembra as vigílias de adoração de Guido na capela do colégio onde ela, fazendo exceção, o deixava passar a noite.

Conheço a paixão que pondes na missão.”

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– “Não sei dizer o que aconteceu. Voltei antes dele para a viração e vi as costas de Guido flutuando. Gritei, desesperado, por socorro.”

Olhos marejados, o amigo descreve o momento de indizível dor em que constatou o impensável. Depois saberia que Guido, embora exímio surfista, havia feito manobra infeliz e sofrido golpe da prancha na nuca, que o havia feito desmaiar e afogar-se.

Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.”

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– “Reze esta novena a Guido Schäffer. Ele era médico como você. Vai livrá-lo dessa infecção.”

Foi o conselho de D. Roberto, abade dos Beneditinos, Bispo auxiliar do Rio, à beira do leito onde estava meu irmão, vítima de acidente gravíssimo no qual havia colidido frontalmente com um ônibus. Hoje, ele conta a história.

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Guido Schäffer, o São Francisco do Rio, o Anjo Surfista, está em processo de canonização. Gosto de pensar que, do céu, após ter alcançado a misericórdia prometida aos misericordiosos, sorriu ao ouvir, direto de Cracóvia:

Conhecendo a paixão que pondes na missão, ouso repetir: Um coração misericordioso sabe partilhar o pão com quem tem fome, um coração misericordioso abre-se para receber o refugiado e o migrante. Dizer misericórdia juntamente convosco é dizer oportunidade, dizer amanhã, compromisso, confiança, abertura, hospitalidade, compaixão, sonhos.”

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¹Papa Francisco, Cracóvia, 2016. Essa e todas as citações em itálico, exceto as passagens bíblicas, são do Papa Francisco, em Cracóvia, por ocasião da JMJ.

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