Formação

Quem é o homem, segundo o Catecismo da Igreja Católica?

Como fruto das reflexões dos grandes pensadores da filosofia clássica, surgiram, ao longo dos séculos seguintes, várias correntes e áreas de pesquisas.

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Uma, em particular, é a antropologia. Essa ciência surgiu no início do século XX, a princípio, para entender e formular subsídios de culturas consideradas “exóticas”. No Brasil, a antropologia se desenvolveu através dos estudos de pesquisadores europeus sobre as sociedades indígenas no território brasileiro. A antropologia, então, tem como objeto de estudo o ser humano e todas as suas dimensões. 

Atualmente, os estudos antropológicos podem ser feitos de diversas maneiras e têm avançado e se desenvolvido por meio de vários métodos de pesquisa. Através da antropologia biológica, cultural, física, social ou linguística, a ciência questiona ou busca responder como as populações anteriores viveram, como os seres humanos se formaram e também como as culturas se desenvolveram. Porém, qualquer pesquisa antropológica séria, precisa reconhecer que a fé cristã ofereceu e ainda oferece grande contribuição para o desenvolvimento e clareza do conceito de homem.  

O homem não é apenas um animal, movido por instinto e emoções, nem apenas um ser que “pensa”, como defenderam alguns dos grandes da filosofia clássica. Ele também é: “Homo Capax Dei.” Um ser capaz de Deus. Assim, o Catecismo diz que: “‘Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus. Ele o criou homem e mulher’ (Gn 1, 27). O homem ocupa um lugar único na criação: é ‘à imagem de Deus’; na sua própria natureza, une o mundo espiritual e o mundo material; foi criado ‘homem e mulher’; Deus estabeleceu-o na sua amizade” (CIC 355).

Outro rico tesouro doutrinário em torno do conceito de ser humano está na seguinte afirmação do Catecismo: “De todas as criaturas visíveis, só o homem é ‘capaz de conhecer e amar o seu Criador;’ é a ‘única criatura sobre a terra que Deus quis por si mesma;’ só ele é chamado a partilhar, pelo conhecimento e pelo amor, a vida de Deus. Com este fim foi criado, e tal é a razão fundamental da sua dignidade” (cf. CIC 356, 216 e 217).

A razão pela qual Deus elevou o homem a tão alta dignidade, foi justamente seu incomparável amor. Deus contemplou a Si mesmo em Sua criatura e Se encantou por ela. (cf. CIC 218). Continuando sua exposição do conceito de pessoa humana, a Igreja declara: “Na realidade o mistério do homem só se torna claro verdadeiramente no mistério do Verbo Encarnado” (CIC 359). Jesus, então, é o modelo do homem perfeito pensado por Deus. 

Um ser composto em unidade de corpo e alma

 O ser humano criado à imagem de Deus, é um ser ao mesmo tempo corporal e espiritual. Os textos bíblicos muito se empenham em expor essa unidade. “A pessoa humana, criada à imagem de Deus, é um ser ao mesmo tempo corporal e espiritual. A narrativa bíblica exprime esta realidade numa linguagem simbólica, quando afirma que ‘Deus formou o homem com o pó da terra, insuflou-lhe pelas narinas um sopro de vida, e o homem tornou-se um ser vivo’ (Gn 2,7). O homem, no seu ser total, foi, portanto, querido por Deus” (CIC 362). O corpo humano, ao longo dos séculos na Igreja, nem sempre foi tão bem compreendido. O “corpo”, nos escritos de alguns cristãos antigos, mesmo santos, estava sempre associado ao pecado, aos vícios etc. Porém, o Espírito Santo continuou e continuará sempre iluminando a Igreja, a ponto de que, hoje, compreende o corpo como o “sacramento da pessoa”. O corpo é templo do Espírito Santo, manifestação visível daquilo que a pessoa é na totalidade.

O corpo humano foi criado para “dar visibilidade” ao mistério escondido em Deus e ser sinal desse mistério, assim o corpo é realmente o sacramento da pessoa. Ao contrário das más interpretações que alguns fazem, a Igreja não ensina que o corpo é ruim; essa é uma heresia que deprecia o corpo como algo que nos é externo e passível de ser consumido. Na verdade, a Igreja ensina que o corpo é bom e santo, e é templo do Espírito Santo. 

A dignidade do homem e da mulher segundo o Catecismo

Esse assunto deveria ser muito mais do que um tópico na matéria, pois seriam necessárias algumas matérias para ser apresentada com justiça a grande contribuição da Igreja na compreensão dessa questão. Esse tema, por vezes polêmico, se fez presente em diversas teses acadêmicas, simpósios, obras literárias, cinema e teatro.  

A Igreja ensina: “O homem e a mulher foram criados, quer dizer, foram queridos por Deus: em perfeita igualdade enquanto pessoas humanas, por um lado; mas, por outro, no seu respectivo ser de homem e de mulher. ‘Ser homem’, ‘ser mulher’ é uma realidade boa e querida por Deus: o homem e a mulher têm uma dignidade inamissível e que lhes vem imediatamente de Deus, seu Criador. O homem e a mulher são, com uma mesma dignidade, ‘à imagem de Deus’. No seu ‘ser homem’ e no seu ‘ser mulher’, refletem a sabedoria e a bondade do Criador” (CIC 369).

A Igreja, desse modo, deixa evidente também que essa mesma dignidade se efetua nas diferenças e particularidades naturais do ser masculino e feminino: “Criados juntamente, o homem e a mulher são, na vontade de Deus, um para o outro. A Palavra de Deus nos dá a entender em diversos passos do texto sagrado. ‘Não convém que o homem esteja só: vou fazer-lhe uma ajudante que se pareça com ele’ (Gn 2,18). Nenhum dos animais pode ser este ‘par’ do homem. A mulher que Deus ‘molda’ da costela tirada do homem e que apresenta ao homem, provoca da parte deste, uma exclamação admirativa, de amor e comunhão: ‘É osso dos meus ossos e carne da minha carne’ (Gn 2,23). O homem descobre a mulher como um outro ‘eu’, da mesma humanidade” (CIC 371). 

Desse modo, concluímos que Deus não criou homem e mulher pela metade ou incompletos. Esse complemento que ambos precisam ter, segundo a compreensão da Igreja, está no fato de que um pode ajudar o outro a compreender melhor sua própria identidade e missão. 

 


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