“Eu moro com você!” Foi esta a frase que Felipe Gurgel escutou de Maria. Seus amigos riram e ele a vendo logo entendeu. Para Felipe, Maria era o seu Jesus, pois o semblante dela com um dos olhos fechados lhe lembrou da cena do filme “A Paixão de Cristo”, dirigido por Mel Gibson.
Pouco tempo depois os outros voluntários também passaram a enxergá-la assim, como uma crucificada. Suas feridas estavam em carne viva e encobertas de lama. O aspecto de Maria não era dos mais agradáveis. Ela chegou até eles sozinha, como uma retirante de roupas rasgadas.
Vendo-a, a enfermeira quis cuidar de suas feridas. “A missa vai começar, ela não pode participar assim”. Provavelmente Maria nem fosse participar, mas Lariane, enfermeira natural de Feira de Santana (BA), insistiu em banhá-la, cuidar de suas feridas.
Era domingo, neste dia a celebração eucarística demorou.
Após insistirem Maria permitiu que a banhassem. Duas voluntárias a levaram para o banheiro popular. Uma trazia galões de água enquanto Lariane a banhava. Aquela tida como agressiva pelos ribeirinhos, estava silenciosa nas mãos da enfermeira. Não gritava, abaixada se deixava ser lavada. A lama que estava impregnada em suas feridas a fazia gemer.
Mas quem chorava era Lariane, enfermeira que residia em Salvador na Bahia. Enquanto jorrava água e passava sabonete naquela mulher, lembrava do dia em que em meio a um plantão exaustivo não pôde atender um homem que chegara a ela queimado e sujo. “Jesus me deu outra oportunidade de tocar nele”, disse ela. Naquele apertado banheiro público de madeira Maria era banhada de água e lágrimas. Muito além das pancadas d’água no chão ela ouvia em forma de canto a oração de Lariane a dizer que beijava as feridas de Jesus.
De banho tomado, Maria recebeu roupas dos voluntários que a levaram até o lugar onde estavam acontecendo os atendimentos médicos. Já sentada enquanto Lariane tratava suas feridas dispostas em todo o corpo, o olhar dela se concentrava em Felipe, cineasta cearense.
A cada ferida tocada ela apertava a mão dele com força. Maria não dizia nada, mas seu olhar triste para Felipe revelava muito mais do que ela pudesse explicar em palavras. O cineasta do Ceará estava numa posição que não era a costumeira, desta vez ele era olhado. Não se sabe dizer se a expressão gentil daquele homem desconhecido ficou gravada no imaginário de Maria, entretanto aqueles que a viram e a tocaram garantem não esquecê-la.
Os treze voluntários já haviam visitado outras comunidades ribeirinhas, esta conhecida como Nova Quité, era especial, distinguia-se das outras não por questões geográficas ou de pobrezas, mas por aquele rosto. Pouco se sabe de Maria, alguns contam que já foi agredida pelo companheiro e em consequência ficou com sequelas neurológicas. Quanto aos inúmeros ferimentos no corpo, acredita-se que foram causados pelas constantes quedas das “pontes de madeiras”.As crianças da localidade ao verem os voluntários em volta dela se espantaram. A atenção que se costumava dar a Maria não era como a que os voluntários estavam dando.
Com sua experiência de voluntariado, Lariane aprendeu a não reclamar mais da vida, a valorizar momentos simples, como a hora do banho.
Eis me aqui, envia-me
O Espírito missionário (cf. Mc 16,15-20) é constitutivo do nosso carisma. (Estatutos CCSh, Da Natureza e da Finalidade art.7)
O envio missionário é a concretização do novo de Deus na vida de um missionário e de um povo que anseia conhecer a pessoa de Jesus; é também sinal de esperança e alegria, a alegria daquele que encontrou o seu tesouro e quer apresentá-lo aos outros.
Assim, a Comunidade conta com vários tipos de envio missionário, para membros da comunidade, da obra ou para pessoas que estão conhecendo o Carisma, por exemplo: Comunidade de Aliança Missionária, Aliança Externa, Jovem em Missão e Voluntariado Shalom. Clique aqui e conheça as modalidades de envio missionário para você!