Olá irmãos, sou Dayane Aquino vocacionada Shalom 2023, e acabei de ingressar na Comunidade como postulante da Comunidade de Aliança. O ano vocacional é um tempo de muitas graças pois nos favorece o autoconhecimento necessário para discernir sobre a vontade de Deus para nossas vidas, se nos identificamos com Carisma no modo de viver, de servir, de ser. É um tempo de aprofundar o conhecimento no catolicismo, de viver intimamente o amor, a conversão. É ainda um tempo de muitas batalhas espirituais, de sofrimentos purificantes, mas também de recomeço, de obra nova.
O vocacional foi um período de grande surpresas, de grandes batalhas, mas também de muitas alegrias. Posso dizer que não existe nada mais leve, nada mais confortável do que estar verdadeiramente na vontade de Deus. Isso não anula os sofrimentos, não significa que não iremos passar pelas cruzes. Mas mesmo na dor, no sofrimento, estar na vontade de Deus é algo muito confortável, é algo que nos dá forças para viver tudo o que se levanta contra esta vontade quando de fato nos abrimos para o que Deus deseja para cada um de nós.
De maneira particular foi um ano de muitas surpresas. Eu havia me convertido à pouco tempo, estava com 1 ano de obra e mesmo assim Deus já tinha realizado grandes feitos em minha vida. Como Maria Madalena, Ele me fez sair das profundezas da escuridão e me mostrou a grande alegria que é estar na sua vontade. Porém todo processo de conversão é um caminho de pequenos passos: todos os dias a gente vai dando passos, vai crescendo na nossa profissão de fé, no que a nossa mãe igreja nos pede . Então, nesse sentido, posso dizer que eu ainda estou caminhando.
Conversão, despertar da vocação e as primeiras batalhas
Porém, no início de 2023 eu estava ainda muito resistente a me abrir a essa vontade. Eu já tinha feito o vocacional aberto em 2022 e para mim já tinha sido uma experiência muito, muito forte: eu já sentia arder em meu coração que Deus desejava esse sair de mim para o outro, para a humanidade que sofre. Porém eu estava vivendo realidades que faziam com que eu não me abrisse para a grande alegria que é a vontade de Deus.
Então em fevereiro de 2023 houve o Renascer e eu estava servindo no stand da Promoção Humana. Naquele tempo, a única coisa que me fazia transbordar era o serviço aos mais pobres. Isso era o que me fazia permanecer junto à comunidade como obra, já que eu não estava me identificando muito com o grupo de oração devido ser um grupo mais jovem. Hoje, acredito que talvez isso fosse até mesmo uma batalha espiritual, visando que eu não desse os passos necessários para me abrir à vontade de Deus – porque hoje eu sei que, quando Deus vai fazer muito através de nós, começam a aparecer essas batalhas.
No Renascer Deus me surpreendeu muito quando eu fui convidada a participar do vocacional: a Secretária Vocacional me viu servindo, falou sobre o vocacional e então eu partilhei com ela todas as minhas resistências sobre a comunidade. Eu olhava e criticava muito as pessoas e não olhava para o que era essencial, que é a Obra de Deus.
Porém, nesse dia eu aprendi que se nós olhamos muito para as pessoas, a gente não se sustenta. Para mim foi muito importante essa mudança de pensamento, de não olhar para as pessoas, mas sim para o essencial, que é para a esperança, que é o Deus ressuscitado que passou pela cruz. Nesse dia eu entendi que eu preciso focar verdadeiramente em Deus e no Carisma.
A urgência na evangelização
Neste mesmo dia nós fizemos o plantão vocacional. O plantão é um acompanhamento que você faz com um missionário da comunidade onde você compartilha sobre sua vida e seu desejo de entrar na comunidade. Após isso você responde um questionário e então existe um tempo de oração e discernimento por parte dos missionários encarregados do vocacional para ver se é o tempo apropriado ou não de você ingressar na turma vocacional.
Após 15 dias eu recebi a resposta positiva que eu ia ingressar. Nesse mesmo dia eu estava muito triste, porque mais cedo eu recebi a notícia que uma amiga minha havia sido vítima de feminicídio. Isso mexeu muito comigo. Eu pensava “essa jovem não conheceu o amor de Deus, eu não pude, eu não consegui [fazer ela conhecer esse amor]”. Nesse sentido, eu me senti fraca, então neste dia eu me coloquei diante de Deus e falei “Senhor não é por mim, o ser shalom, esse ano vocacional não por mim”.
O dia que eu recebi a resposta ter sido exatamente o mesmo dia da morte da minha amiga me fez perceber “Meu Deus não é por mim, este chamado não é em vista de mim, não é para me envaidecer, mas é para levar Teu Amor à estes que não Te conhecem, essa humanidade que sofre, que não ouve a Tua voz”. Eu pude ter essa experiência concreta do Teu Amor e, sendo shalom, eu posso levar, testemunhar o teu amor. Com isso em mente, eu iniciei esse itinerário.
Crescendo no autoconhecimento e no aprendizado no catecismo da Igreja Católica
O vocacional é um período de 1 ano em que, através de formações, em encontros mensais, fazemos um percurso de autoconhecimento, bem como de aprofundar nossa profissão de fé, o catolicismo. Também rezamos sobre tudo que envolve a nossa comunidade: maturidade humana, o carisma, seus pilares, o tripé da vocação, castidade, caridade, fraternidade, o jeito de ser shalom, o jeito de viver shalom, o servir shalom, a evangelização, o louvor, etc. Nos encontros aprendemos principalmente a ouvir o que Deus nos fala através da nossa oração pessoal. É um tempo de muita graça, porém toda essa graça só acontece quando verdadeiramente nos abrimos, de maneira dócil, à vontade de Deus. É um ano que não se explica, se vive.
O ano vocacional é uma grande alegria para quem realmente nasceu shalom – sim, porque nós nascemos shalom. Nesse ano Deus realizou grandes obras. Em mim, por exemplo, Deus tocou em muitos pontos. De maneira especialmente forte, Ele falou sobre o perdão familiar. Através desse ponto (o perdão) Deus me surpreendeu muito me fazendo entender o quanto é necessário passar dores e sofrimentos purificantes para viver de fato a grande alegria que Ele nos reserva.
O tema do ano vocacional 2023 foi “Pela cruz atraído pelo Espírito ungido, eis-me aqui”. Eu sempre falo que para mim não poderia ser diferente, porque o sofrimento, sempre me atraiu. Na minha infância eu passei por muitas dores (acredito que todo mundo). Mas a cruz sempre foi muito importante para grandes mudanças em minha vida, então não poderia ser diferente: esse é o tema que Deus escolheu para mim de maneira particular, porque foi um ano de cruz mas também de grandes purificações e de grande crescimento no amor de Deus, no amor esponsal, na experiência concreta com este amor.
Maria, a toda pequena
Sempre falo também para as pessoas que é um ano de crescimento no carisma, de realmente conhecer o que é ser shalom, de avaliar se há identificação com este carisma. É um tempo de Deus nos esvaziar: esvaziar das nossas vontades, do nosso querer e realmente sermos dóceis ao que Ele deseja para nós naquele tempo, [mesmo quando nos identificamos com o carisma] se é este realmente o tempo, ou se não é [o momento certo de enviar a carta].
À medida que a gente vai sendo dócil, além de pedir que nos desapeguemos de muitas coisas Deus também nos pede para que nos apeguemos muito à sua santíssima mãe, a Virgem Maria. Esse ano também foi um tempo de crescer no amor à Maria, no carinho à Nossa Senhora, a me deixar ser filha de Maria. Eu tinha muitas resistências com a maternidade de Maria, mas Deus me surpreendeu de novo e me fez enxergar a grande graça que é reconhecer Maria como mãe. Eu passei a me sentir amada como filha por Maria e também pude começar a amar Maria como mãe Então Nossa Senhora é fundamental para viver este carisma. Para viver como um eleito por Deus Maria é fundamental, é essencial.
Dayane Aquino, neopostulante da Comunidade de Aliança.