Opinião

Família: reflexo da Trindade, esperança para o mundo

No belo jardim dos Sacramentos da Igreja, a Eucaristia é o maior deles, concedendo vida à vida cristã. Ao celebrá-la, o sacerdote encontra descanso, consolo e sustento, recebendo-o como um leve fardo de Cristo. É nesse ato sagrado onde o amor flui abundantemente, proveniente do sacrifício oferecido a Deus Pai, por Cristo, com Cristo e em Cristo, no poder do Espírito Santo, para que também nos entreguemos a Ele em amor e nos unamos a Ele na Sagrada Comunhão.

A vida matrimonial é um eco desse mistério sacramental, onde os esposos, ao viverem sua união dignamente, também exercem as funções de sacerdotes e zeladores do templo familiar. Doando-se reciprocamente por amor, eles se tornam sal e luz para a humanidade, contrapondo-se aos “fenômenos negativos” identificados por São João Paulo II em Familiaris Consortio.

Tais fenômenos estão ligados às velhas e novas ideologias anticristãs, às trevas da cegueira espiritual e moral que assolam a sociedade contemporânea, ameaçam, atacam, invadem, manipulam as famílias, e que – como “ladrões” – têm um só objetivo: “matar, roubar e destruir” (Jo 10,10). Suas raízes, ensina São João Paulo II, estão fincadas na corrupção da ideia de liberdade, concebida não como capacidade de realizar o projeto divino para o matrimônio e à família, mas como uma força autônoma de afirmação, muitas vezes em detrimento dos outros, visando apenas ao bem-estar egoísta (Cf. Familiaris Consortio, n. 6).

Para enfrentar e vencer esses desafios, a solidez da família deve ser alicerçada na fidelidade a Cristo e à Igreja. Ele é a pedra angular rejeitada pelos construtores (Salmo 117,22), agora fundamentando o edifício espiritual e humano da família, essa bela igreja doméstica. Assim, a família se torna um porto seguro, que vence o egoísmo e ultrapassa os fenômenos mais obscuros para se tornar a base sólida a partir da qual a missão redentora de Cristo é perpetuada, salvaguardando a humanidade de suas angústias e tristezas.

Família, reflexo da Santíssima Trindade

“Por um lado, anunciamos aos casais, aos cônjuges e às famílias uma Palavra que os ajuda a compreender o significado autêntico de sua união e de seu amor, sinal e imagem do amor trinitário e da aliança entre Cristo e a Igreja.” Papa Francisco 

A família, refletindo a imagem da Santíssima Trindade, nasce no matrimônio, inspirado no Pai, assim como o sacerdócio é inspirado no Filho e o celibato no Espírito Santo. Essa igreja doméstica é chamada a viver em unidade trinitária, refletindo a comunhão divina em sua própria vida e relacionamentos. A graça sacramental que os esposos cristãos recebem é uma manifestação dessa comunhão trinitária, procedendo do Pai e do Filho, e sendo derramada sobre a Igreja pelo Espírito Santo, como em Pentecostes.
 
Este dom divino é distribuído a cada um conforme a vontade de Deus, capacitando-os a desempenharem sua missão no mundo. Assim, a família, ao viver em unidade trinitária e receber a graça sacramental, torna-se não apenas uma instituição terrena, mas um reflexo vivo da comunhão e do amor divinos em meio à humanidade.

A esperança que nasce na família

No seio da Sagrada Família de Nazaré encontramos o modelo mais perfeito de esperança, amor, obediência e dedicação mútua. Maria, José e Jesus habitavam juntos, em unidade e harmonia, cumprindo os desígnios de Deus em cada momento de suas vidas. Maria, a mãe, exemplifica a submissão à vontade divina, enquanto José, o pai adotivo, é modelo de cuidado, proteção e trabalho honesto.
 
Jesus, o Filho de Deus encarnado, cresceu em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens, em meio aos cuidados e orientações de seus pais terrenos. A Sagrada Família de Nazaré nos ensina que a vida familiar, quando vivida em conformidade com os princípios do Evangelho, se torna um reflexo do amor e da comunhão trinitária, levando esperança à humanidade e revelando ao mundo a beleza e a santidade do plano divino para a família humana.
No matrimónio e na família constitui-se um complexo de relações interpessoais – vida conjugal, paternidade-maternidade, filiação, fraternidade – mediante as quais cada pessoa humana é introduzida na «família humana» e na «família de Deus», que é a Igreja.(Cf. Familiaris Consortio, n. 6)
O encanto desse mistério transcende o entendimento humano. É sublime, profundo e belo. É um chamado que ressoa nas profundezas da alma, convidando-nos a participar da obra redentora de Cristo. Que possamos, como membros da família humana, abraçar essa graça divina, vivendo nossas vocações com zelo e dedicação, construindo assim o Reino de Deus aqui na terra, à medida que nos aproximamos da plenitude da comunhão com Ele na eternidade.

Que a Sagrada Família de Nazaré seja o nosso mais amável e autêntico exemplo!

 
Por Wolder Araújo
Missionário da Comunidade de Vida na missão de Teresina, esposo e pai
Comentários

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  1. Que bela reflexão.
    É mesmo esse o papel da família, como agente de transformação e esperança em um mundo marcado por desafios e incertezas. Essa reflexão nos convida a valorizar e fortalecer os laços familiares, reconhecendo sua missão de também inspirar e nutrir a fé, a esperança e o amor.

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