Interessante e curioso é quem imagina que a vivência do estado de vida do celibato seja uma depreciativa continência dos nossos corpos e afetos, como algo estéril e sem sentido, uma vida fadada à solidão e de triste penúria sacrificial.
A respeito desta vivência, que não é para todos, mas para alguns que Ele assim os quis para Si, afirma Nosso Senhor Jesus Cristo nas Sagradas Escrituras: “Quem tiver capacidade para compreender, compreenda” (MT 19,12). Longe de sermos os “melhores”, somos os mais “necessitados” de Sua presença-ausência, de uma missão intercessora e de prontidão.
Acredite, o Celibato pelo Reino dos Céus de fato é uma vida muito feliz, povoada, relacional, desinteressada em atender expectativas humanas para somente e livremente alçar altos voos em direção ao Coração do Divino Arqueiro que um dia nos “flechou” ardentemente com Seu fogo novo e Esponsal, como fez a Santa Teresa D’Ávila. Desse modo, é capaz de vivê-lo quem se permite arder de amor…
Ele fitou seus olhos em nós e, sem mérito algum da nossa parte, nos atraiu a Si e nos desposou: cada um a seu tempo e pedagogia. Fez perceber em meio aos nossos escombros e, assim, elevou-nos do caos ao cosmos. Ele realmente faz despontar verdadeiramente uma Obra Nova!
À medida que vos escrevo, me recordo das mais diversas piscadelas recebidas do grande Outro, um “Gentleman” que não poupa esforços e galanteios para me surpreender e transformar amorosamente a cada dia meus planos em uma refinada meta nova que não passará.
As relações humanas vão se transformando e cada dia mais potencializa em mim o desejo de fazê-lO ainda mais conhecido e amado por meio de minha vida. A esperança confiante da instituição do Seu Reino é um diário Advento para todo Celibatário, afinal, esta é a nossa missão e nossa oração em cada Pai-Nosso: “Venha a nós o Teu Reino!”
Nossa alma sente saudades de Deus, isso é uma novidade para alguns e uma constatação para outros. Portanto, que cada pessoa humana possa buscar com mais afinco conhecer-se para de fato conhecer quem O ama. A oração é o lugar do grande encontro do Amado e sua amada: território esponsal.
Por mais que eu tente traduzir as incontáveis aventuras, dores e delícias, alegrias, maternidade fecunda e não-estéril deste estado, seria impossível. Penso que até hoje e a cada dia em que nele vivo e me ofereço estou aprendendo a corresponder, livre e inteiramente leve, sem jugos alheios.
É um genuíno caminho “de e para felicidade” e curas, que não me rouba nada, mas tudo concede porque, na verdade, Ele é nosso TUDO e isso nos basta!
Santo Agostinho em um trecho de suas Confissões bem ilumina o que de fato ocorre quando nossa alma é rendida Àquele que primeiro nos amou:
“Seguravam-me longe de Ti as coisas que não existiam senão em Ti. Chamaste, clamaste por mim e rompeste a minha surdez. Brilhante, resplandeceste, e a Tua luz afugentou minha cegueira. Exalaste o Teu perfume e, respirando-o, suspirei por ti, te desejei. Eu Te provei, Te saboreei, agora, tenho fome e sede de Ti. Tocaste-me e agora ardo em desejos por Tua Paz !”.
Em resumo, o Celibato pelo Reino dos Céus sempre será pela Igreja, pelos jovens, pela humanidade, a serviço do Amado que não nos escraviza como “servos”, mas nos chama de “amigos”, onde não podemos descansar enquanto o anúncio da vinda do Teu Reino de Glória que há de vir não tenha sido cumprido com bastante entusiasmo e esperança. É uma profecia para este tempo, uma realidade escatológica se aproxima e o tempo está se abreviando, já diz-nos a Santíssima Virgem Maria em suas diversas aparições e que parece segurar o “relógio do tempo” para que nos convençamos desta verdade.
Como pais e mães espirituais, devemos empenhar os melhores esforços para que todos os filhos de Deus e nossos sejam salvos e abracem a Verdade, sejam santos.
Busquemos viver alegres em um “já, ainda não” da Eternidade. Não nos dispersemos em meio a tantos ruídos que tentam nos ensurdecer e distrair-nos do essencial. Unamo-nos inteiramente ao Esposo com todo vigor e santas ocupações, pois é isso que evangeliza e testemunha. Afinal, como Shalom, nascemos para evangelizar e para reconciliar ainda mais o coração do homem com Deus já precedidos pelo Filho que nos refez filhos.
Bem, talvez um dia, eu e você que leu até aqui possamos melhor compreender a vida celibatária em sua continência e missão pessoal, que é também o estado de vida vivido pelo próprio Jesus, o grande pioneiro do Celibato. Ele se fez tudo para todos. Porém, o mais importante é para aqueles que são chamados a vivê-lo: sejam vivificados em espírito de louvor, gratuidade, fraternidade, inteireza e compromisso. Sejamos homens e mulheres, rapazes e moças cada dia mais apaixonados pelos nossos filhos, rendidos e ofertados, a fim de zelarmos pelos tesouros e segredos do Reino a nós confiados até que nosso Esposo venha!
Santíssima Virgem Maria, a Esposa perfeita, interceda por nós para que sejamos santos e irrepreensíveis.
Celibatários, feliz dia!
Shalom!
Adriana Modesto Nascimento (Missão BH).
Consagrada da Comunidade de Aliança Shalom e Celibatária pelo Reino dos Céus.
Que lindo texto, neste dia feliz, fecundo e celebrativo.