Formação

O silêncio de José: bem-aventurado os mansos, porque possuirão a terra.

Não existe uma palavra referida de maneira direta por São José. As respostas de José são em atos e silêncio. Nas entrelinhas, apenas uma palavra é-lhe dada por direito.

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Os Evangelhos que narram os mistérios da infância de Jesus descrevem a figura de José com o zelo adequado para com o que é santo. Com efeito, em seu Evangelho, Mateus se refere a José como “justo”. Ora, se “o que sai da boca procede do coração” (Mt 15, 18), vale averiguar o que há no coração de São José.

O fato é: não existe uma palavra referida de maneira direta por São José que possamos encontrar nas narrativas evangélicas. As respostas de José são em atos e silenciosas. Os evangelistas Mateus e Lucas narram alguns mistérios da vida oculta de Jesus: sua concepção, geração, nascimento, infância e juventude. Em todos estes são referidos Maria e José, seu esposo. Entretanto, não se encontra nenhuma palavra assim referida por este.

Se observarmos o nascimento em Belém (Cf. Lc 2, 1-7), a visita dos pastores e dos magos (Cf. Lc 2, 8-20; Mt 2, 1-12), a fuga para o Egito (Cf. Mt 2, 13-18), o retorno para a terra de Israel e a decisão de residir em Nazaré (Cf. Mt 2, 19-23), a circuncisão, sua apresentação no Templo e o encontro com Simeão e Ana (Cf. Lc 2, 21-40). Não encontraremos uma palavra proferida por este homem.

Não obstante, vemos ambos os evangelistas mencionarem que José e sua esposa, levaram a termo “tudo conforme a Lei do Senhor” (Lc 2, 39). E é através da escuta e obediência de José que as escrituras e as profecias se cumprem (Cf. Mt 1, 22-23; 2, 5-6. 15. 17-18. 23). Assim porque, conforme a narrativa de Mateus, percebe-se que, após José “receber em casa sua mulher” (Cf. 1, 24), isto é, após assumí-la, é a ele que Deus dirige sua Palavra através do Anjo. É ele quem se levanta para cumprir a ordem que lhe foi dada (Cf. 1,24; 2, 14. 21. 22-23).

O evangelho de Mateus tem como intenção revelar a Justiça de Deus. Esta se manifesta também no cumprimento das profecias. Ora, “a senda dos justos brilha como a aurora, e vai alumiando até que se faça o dia” (Pv 4, 18). É na vida de José, o justo, o filho de Davi, que o Novo de Deus começa a surgir.

A Obra Nova do Evangelho, predita por Isaias, começa a despontar na vida singela de José e de sua família: “Eis que farei uma coisa nova, ela já vem despontando: não a percebeis?” (Is 43, 19). No anonimato, no segredo, no silêncio e sob a guarda deste homem, sob a sua autoridade, Jesus, que “lhe era submisso”, “crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens” (Lc 2, 51-52). Este Jesus é a Boa Nova de Deus.

Em Lucas, o episódio da perda de Jesus após a festa da Páscoa em Jerusalém descreve a aflição dos pais de Jesus a sua procura. Quando o encontram, Maria fala a Jesus: “Meu filho, por que agiste assim conosco? Teu pai e eu, aflitos, te procurávamos” (Lc 2, 48). A José, porém, não é atribuida nenhuma palavra neste episódio. Se Maria guardou os fatos em seu coração, José o fez conservando-os em seu silêncio.

No Evangelho de Mateus, vemos o anúncio feito a José. O Anjo se manifesta em sonho. Ele não questiona, não fala nada. Mas ao despertar, faz tudo conforme a ordem de Deus recebendo Maria em sua casa. Seu “sim” a Deus não é expresso como o “faça-se” de Maria. Seu sim é o do silêncio, como o de Noé, e o de Abraão.

Não obstante a tudo isto existe uma palavra que sabemos ter sido dita por José nas entrelinhas dos textos. É uma palavra de direito. Em um detalhe sutil, podemos perceber que é o nome de seu filho: “Ele o chamou com o nome de Jesus” (Mt 1, 24). “Foi lhe dado o nome de Jesus, conforme o chamou o anjo, antes de ser concebido” (Lc 2, 21).

            O Papa Francisco na Carta Apostólica Patris Corde explica que José “teve a coragem de assumir a paternidade legal de Jesus, a quem deu o nome revelado pelo anjo: dar-Lhe-ás «o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados» (Mt 1, 21). Entre os povos antigos, como se sabe, dar o nome a uma pessoa ou a uma coisa significava conseguir um título de pertença, como fez Adão na narração do Génesis (cf. 2, 19-20)”. Dar nome a algo é assumir sua posse e sua responsabilidade.

De São José podemos concluir que era um homem pobre que viveu aflições. Era humilde, trabalhador, misericordioso, pacificado ante as tribulações, devoto e puro. Nele encontramos todas as bem-aventuranças. O silêncio e a mansidão de José diante da Vontade de Deus o deram a possuir tudo o que era mais valioso no Tesouro de Deus: Jesus e Maria. Com efeito, “bem-aventurados os mansos, pois possuirão a terra” (Mt 5, 4).

São José, o Justo, rogai por nós.

 

Comunicação Mossoró


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