Esta semana vi a notícia de uma jovem de 18 anos que tirou a própria vida. Fiquei alguns minutos tentando calcular o tamanho da dor daquela menina e tudo que lhe havia acontecido para que chegasse à conclusão de que seria melhor deixar de existir. Essa menina não foi a primeira e nem será a última, nós sabemos. Como ela, milhares de outras almas se encontram em sofrimento profundo. E nós, o que temos feito para aliviar esse sofrimento?
Se a dor do mundo não doer em nós, meus irmãos, talvez a Vocação tenha arrefecido em nossos corações. Lembro-me que uma das coisas que ficaram mais fortes no meu retiro final do vocacional foi a seguinte fala do pregador: “O que falta para você dar seu sim? A dor do mundo já não é suficiente? O sofrimento do homem já não é suficiente?” E aquilo fazia arder meu coração. Fazia brotar a urgência de ir ao encontro desse povo que sofre: Eis a Vocação Shalom.
De fato, foi para isso que Deus nos constituiu. O próprio Moysés nos conta uma experiência que teve antes da fundação da Comunidade que o levou a descobrir a importância da evangelização: Ao observar um jovem que atravessava na faixa de pedestres, sentiu no coração a necessidade e o impulso de dar de graça o que de graça havia recebido.
Mas quantas e quantas vezes não nos fazemos cegos, não evitamos olhar para o mundo que sofre? Pior: Quantas vezes, por não observar o sofrimento do mundo, só somos capazes de nos voltar para os nossos próprios sofrimentos, para o nosso próprio cansaço, para nossas próprias necessidades, esquecendo que Deus nos fez para fora, para irmos em missão?
A humanidade a chorar, sofrendo a esperar pelo nosso sim… E nós tão voltados para nós mesmos. Nossos irmãos de comunidade padecendo ao nosso lado, nossos colegas de trabalho, jovens tirando a própria vida… E nós tão voltados para nós mesmos. Não foi para isso que Deus nos fez Shalom.
“O sadio sofrimento ao olhar o mundo de hoje, que vive no desconhecimento da Paz, deve estar presente em nosso coração e ser respondido com a alegria daqueles que encontraram a pérola preciosa e não se contêm enquanto não proclamarem a todos sua grande descoberta.” – Escritos, CC 05 156.
Esse é o nosso chamado, se nos afastamos dele, nos afastamos de nós mesmos. O Senhor está sempre nos enviando: Nas células, nos grupos de partilha, nos ministérios, nas ações de evangelização, no nosso trabalho, na nossa família… A vida é missão. Hoje, Ele nos chama novamente, e nos envia a nós mesmos e à humanidade.
Especialmente nesse tempo o Senhor deseja nos enviar aos pobres, estes que sofrem à margem da sociedade. Estes que são olhados com desprezo, e às vezes nem sequer são olhados. Estes, tão necessitados e ao mesmo tempo com necessidades tão simples: Um olhar, um sorriso, um ouvido atento. Essa dor precisa doer em nós.
No dia 16 de novembro a Comunidade realizará a ação do Dia Mundial dos Pobres, uma oportunidade para irmos ao encontro destes que tanto precisam. Nós, que também somos pobres. Nós, que dependemos do olhar misericordioso do Senhor. Nós, que desejamos, com todo amor, dar de graça o que de graça recebemos.
Deixemos que o Espírito rompa a nossa surdez e nos dê um novo ardor missionário. Um novo desejo de ir ao encontro dessa humanidade que espera ansiosamente a manifestação dos filhos de Deus, do meu e do seu sim.