A trilogia escrita por Suzanne Collins descreve um futuro não muito distante da humanidade. Tudo acontece num país chamado Panem, que é subdividido em uma capital e 12 distritos suburbanos.
Na trama, a Capital é um centro de pessoas ricas e fúteis, que tatuam o rosto com maquiagem permanente, fazem cirurgias plásticas desnecessárias que as deixam parecendo criaturas medonhas e vomitam para comer mais. Nela também moram as pessoas que governam o país, por consequência governam os distritos, que servem apenas para sustentar a Capital com todos os seus luxos e excentricidades. Enquanto na Capital tudo é fartura, nos distritos as pessoas passam fome e são escravizadas, forçadas a trabalhar para manter a elite.
Como ninguém aguenta viver assim, um dia eles se rebelaram, mas não venceram o poder da Capital, desencadeando, assim, os Jogos Vorazes “para lembrar o poder que a Capital tem sobre os distritos” e para que ninguém pense nunca mais em se rebelar. Os Jogos são uma espécie de reality show no qual vence a pessoa que sobreviver no programa. Os participantes, chamados tributos, são um casal de cada distrito escolhidos por sorteio. Ou seja, os Jogos forçam as pessoas a se matarem ou a morrerem por conta de situações causadas pelo próprio jogo, enquanto na plateia os cidadãos de Panem torcem por seu tributo favorito, vibrando por cada morte ou perigo letal que eles sofrem.
A história é contada por Katniss Everdeen, uma garota de 17 anos que se oferece como tributo no lugar de sua irmã mais nova e vence aquela edição juntamente com o garoto de seu distrito, Peeta Malark. Eles desafiam, assim, as regras do jogo e se tornam símbolo da resistência e revolução contra a Capital.
Qualquer semelhança com a política de pão e circo não é mera coincidência. Na verdade, Collins soube escrever um livro político com conotações adolescentes através da narração de Katniss, fazendo o leitor questionar: Quem é e o que forma nosso sistema político? Quem somos dentro dele? A que ponto chegamos? Que valores trazem nossos representantes e pelo que temos vibrado?
Através dos pensamentos da jovem garota do Distrito 12, vemos que a realidade da vida e dos interesses das pessoas fúteis, como também dos governantes de Panem, não está muito longe da nossa realidade atual. Percebemos como é fácil nos desumanizarmos para satisfazer nossos prazeres egoístas que nunca cessam e como caminhamos para isso com facilidade.
Escravizar pessoas que passam fome para nos alimentar e, em meio a tudo isso, convencê-las de que este é realmente o papel delas, calando suas bocas com a diversão de um reality show em que as pessoas se matam. Isso não faz sentido para Katniss, que durante a trilogia mostra ser alguém normal, guardiã de valores há muito tempo perdidos pela sociedade, como senso de cuidado com a família, de pureza e piedade. A protagonista também tem medos e inseguranças diante da missão que lhe é confiada: ser o símbolo da revolta dos distritos contra a Capital. Ela não escolheu nem procurou essa incumbência, só foi autêntica e verdadeira diante do que achava certo. E isso incendiou corações, gerou uma revolução.
Por Milena Ribeiro