Formação

Fazer conhecer e amar o Espírito Santo, missão dos carismáticos

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Auxiliar a que tome forma a «cultura de Pentecostes», que é capaz de fazer fecundar a civilização do amor, é missão dos carismáticos no mundo –segundo João Paulo II–, explica Salvatore Martinez –coordenador na Itália do «Rinnovamento nello Spirito» (RnS) ou «Renovação no Espírito»– nesta entrevista concedida a Zenit.

Na Itália, mais de 200.000 pessoas em cerca de 1.800 comunidades e grupos de oração participam da espiritualidade do RnS, uma das expressões da Renovação Carismática Católica (RCC).

A RCC surgiu em 1967, quando alguns estudantes da Universidade de Duquesne (Pittsburgh, Pennsylvania – EUA) participaram em um retiro durante o qual experimentaram a efusão do Espírito Santo e a manifestação de alguns dons carismáticos. Desde então, a RCC difundiu-se rapidamente por todo o mundo.

Atualmente, mais de 100 milhões de católicos participam da espiritualidade da RCC em 200 países. Há um Conselho Internacional (ICCRS – International Catholic Charismatic Renewal Services) reconhecido pelo Conselho Pontifício para os Leigos.

No sábado passado, João Paulo II, na vigília de Pentecostes que presidiu na Praça de São Pedro, no Vaticano, alentou o projeto «Sarça ardente», promovido pelo RnS.

-Que representa o Pentecostes para a «Renovação no Espírito»?

-Salvatore Martinez: A «Renovação no Espírito» quer ser um sinal eloqüente do prodígio inesgotável de Pentecostes e do florescimento da fé nos carismas do Espírito, uma «advertência» para que a Igreja redescubra a estrutura fisiológica da existência cristã, que é, por sua natureza, uma existência no Espírito Santo.

A «Renovação no Espírito», desde que surgiu, aparece como uma concessão das audazes esperanças proféticas formuladas por João XXIII, desde a abertura do Concílio Vaticano II. Há duas etapas relevantes: em um primeiro momento, a afirmação da «corrente de graça», de uma espiritualidade apoiada pela experiência comunitária dos carismas, imagem de uma Igreja que ama estar «no Sacrário» para «falar do mundo a Deus» e «fora do Sacrário», para «falar do mundo a Deus»; progressivamente, a afirmação da noção de «movimento eclesial», em um crescente compromisso apostólico, de comunhão com os pastores, de formação permanente que faz manifesta a vida nova no Espírito nos «ministérios laicais carismáticos» ativados na Igreja e no mundo.

-Que é o «Espírito» para vocês?

-Salvatore Martinez: Sem o Espírito, a evangelização é como um rio que se estanca, a caridade, um fogo sem calor, a Palavra, algo indeclinável, a Eucaristia, um mistério impenetrável; o outro nunca será próximo, o mundo, um inferno, o paraíso, uma realidade esquecida, a Igreja, uma mãe sem amor.

Em minha experiência pessoal, vi milhares de pecadores voltar a Deus, enfermos no corpo e no espírito recobrar saúde, homem e mulher que haviam perdido sua dignidade humana e peregrinavam sem esperança entre mil pobrezas reencontrar a alegria de viver e de chamar-se «filhos, filhas de Deus».

Isto e muito mais faz o Espírito em quem se faz dócil a Seu Poder, segundo as promessas de Jesus. Este poder se manifestou na vida dos apóstolos e se manifesta na vida de todo fiel por livre, imprevisível iniciativa do Espírito: eis aqui porque falamos de «efusão pentecostal, carismática do Espírito», junto às efusões do Espírito «programadas» e eficazes nos sacramentos da vida cristã.

-Milhões de pessoas participam da espiritualidade da «Renovação no Espírito». De que forma pensam vocês comunicar e testemunhar o Espírito de Deus entre o povo? Que projeto de vida propõem?

-Salvatore Martinez: A efusão do Espírito representa a experiência fundamental da específica espiritualidade carismática da «Renovação no Espírito»; é o «carisma desencadeante»; a experiência específica da «Renovação no Espírito». João Paulo II a define: «causa de uma experiência cada vez mais profunda da presença de Cristo».

A efusão do Espírito atualiza e reativa nosso batismo, «libertando» o Espírito Santo. É um chamado à conversão permanente, como no dia da descida pentecostal do Espírito em Jerusalém; é um novo conhecimento do senhorio de Jesus em nossa vida, aquele Jesus que é Senhor e só mediante o Espírito pode ser amado, adorado, anunciado, testemunhado, compartilhado.

A Paulo VI devemos o primeiro, convencido, imediato e «profético», reconhecimento do papel da «Renovação no Espírito» na Igreja e no mundo. Ele dizia em 1975: «A Renovação deve rejuvenescer o mundo, deve dar-lhe uma espiritualidade, uma alma. Será uma oportunidade para a Igreja, se gritar ao mundo a glória do Deus de Pentecostes».

Estamos agradecidos a João Paulo II por ter impulsionado a «Renovação no Espírito» a converter-se –como nos disse desde a primeira audiência em 1980– em «esperança para o mundo», uma vanguarda de testemunhos da «nova evangelização» na docilidade ao Espírito.

A incidência do pontificado de João Paulo II e seus contínuos alentos em nossa direção foram o impulso mais audaz à maturidade eclesial da «Renovação no Espírito». Desde 1998, recebemos anualmente uma carta autografada do Sumo Pontífice por ocasião do maior evento que organizamos em Rímini: um congresso ecumênico no qual participam cerca de vinte e cinco mil pessoas, muitos cardeais e bispos, mais de seiscentos sacerdotes e religiosos, cinco mil núcleos familiares, mais de seiscentos voluntários e um ministério de animação formado por mais de cento e vinte pessoas entre cantores e instrumentistas.

-Basta confiar-se ao Senhor para viver mais humanamente?

-Salvatore Martinez: Milhares de batizados não têm experiência da presença e da ação do Espírito Santo em sua vida. O Espírito nos foi deixado por Jesus como Paráclito –isto é, «Aquele que está chamado a permanecer ao lado»–, mas muitos cristãos não só não se valem de sua amável companhia, mas inclusive não O invocam, não O buscam, não confiam a Ele a direção de sua vida.

Resulta até muito evidente, entretanto, encontrar os «sinais» da «ausência» do Espírito Santo: a desintegração da vida familiar, a queda das vocações, a indiferença para com tanta pobreza em nosso tempo, a debilidade do testemunho dos cristãos.

Quem se abre ao Espírito e mediante a oração redescobre a primazia da vida interior e a beleza da intimidade com Deus vê suas próprias «aspirações naturais» transformarem-se em esperança; as interpretações humanas e racionais da realidade reavivarem-se na fé; o amor humano regenerar-se em caridade; a busca humana de justiça sublimar-se no compromisso a edificar o Reino de Deus na terra.

-Que papel desempenha a oração na proposta espiritual de vocês?

-Salvatore Martinez: A experiência da oração de louvor e de intercessão feita «no Espírito» é dimensão central de Pentecostes, como já em 1964 afirmava Paulo VI. A oração é nossa própria alma ante Deus: quanto mais se submete, «aferrada desde o Espírito», tanto mais experimenta a «louvável loucura» de Davi ante a Arca da Aliança, ou como nos recordou João Paulo II na Novo Millennio Ineunte (n. 34), «o ardor de afetos até um verdadeiro “apaixonar-se” do coração».

Do Papa, com ocasião da audiência especial por nosso 30º aniversário, em 2002, recebemos um desígnio especial: «converter-nos na Igreja em um “ginásio de oração”, de forma particular fazendo amar a oração de louvor, forma de oração que dá glória a Deus pelo que Ele é, antes que pelo que faz». É neste dinamismo espiritual específico da «Renovação no Espírito» que nasce e se desenvolve o projeto «Sarça ardente».

-Poderia explicar as características, motivações e objetivos deste projeto?

-Salvatore Martinez: Desde 1997, em muitos países do mundo –de modo especial da Europa– a «visão» da Sarça ardente abriu caminho e representa uma autêntica oportunidade para muitas comunidades eclesiais apagadas ou fracas na oração e no abandono ao Espírito Santo. De fato, estou persuadido de que a fé no terceiro milênio terá cada vez mais necessidade de estar sustentada por uma «espiritualidade carismática», que encontra na presença imprevisível e insubstituível do Espírito sua força de maior incidência.

Em 14 de março de 2002, João Paulo II, ao receber em audiência privada os responsáveis nacionais da «Renovação no Espírito», com ocasião do 30º aniversário do nascimento da Renovação na Itália, assim se expressava entregando à RnS um específico mandato apostólico à Renovação, referindo-se ao projeto «Sarça ardente»: «O projeto “Sarça ardente” é um convite à adoração incessante, dia e noite. Haveis querido promover esta oportuna iniciativa para ajudar os fiéis a “voltar ao Sacrário” para que, unidos na contemplação do Mistério eucarístico, intercedam através do Espírito pela plena unidade dos cristãos e pela conversão dos pecadores. Trata-se de um terreno apostólico no qual vossa experiência pode dar um providencial testemunho… De forma especial, continuai amando e fazendo amar a oração de louvor, forma de oração que mais imediatamente reconhece que Deus é Deus; canta-lhe por si mesmo, dá-lhe glória porque Ele “é”, antes ainda que pelo que faz».

«Em nosso tempo, ávido de esperança, fazei conhecer e amar o Espírito Santo. Ajudareis então a fazer que tome forma essa “cultura de Pentecostes”, que só pode fecundar na civilização do amor e da convivência entre os povos. Com fervente insistência, não vos canseis de invocar: “Vem, ó Espírito Santo! Vem! Vem!”».

O Santo Padre João Paulo II , em linha de continuidade com Leão XIII, João XXIII e Paulo VI, sempre assinalou em seu magistério a atualidade e a necessidade de um «retorno ao Espírito Santo».

Na «Sarça ardente», Moisés «vê» o amor de Deus que queima sem se consumir; ouve» a voz de Deus que lhe chama por seu nome; «recebe um mandato de Deus» para fazer saber a todos que «Deus é» e opera sinais e prodígios para a salvação de seu povo (Cf. Ex, 3).

Também nós, como Moisés, somos convocados pelo Espírito de Deus para penetrar e viver a realidade da «Sarça ardente»: contemplando o «mistério» da «Sarça ardente» na adoração de Jesus, Aquele que nos amou com um amor «apaixonante» na cruz e segue amando-nos mediante Seu Espírito que nos foi dado. «Vim para colocar fogo sobre a terra e quanto desejaria que já estivesse aceso!» (Lc 12, 49), diz Jesus, falando do «fogo» de sua paixão e do «fogo» de Pentecostes, detendo-se ante a Eucaristia, «fogo de amor», para ser educados pelo Espírito a dar amor a Jesus, é como mais nos entregamos, é mais, é «incendiar» outros corações. Adorando o Vivo e Poderoso Senhor Jesus, para proclamar em nossas orações de louvor e de súplica sua vitória sobre o mal e sobre a morte, reclamando Sua intervenção no tempo presente, para que Sua salvação rodeie nossas famílias, os ambientes sociais, todo o mundo.

-Na «Renovação no Espírito» os integrantes são «entusiastas» de nossa época. De onde nasce o entusiasmo e a esperança que lhes animam?

-Salvatore Martinez: Os apóstolos foram «obrigados» por Jesus a permanecer em oração e a não ter pressa por conhecer os «tempos de Deus». No Cenáculo, perseverando na oração, os primeiros seguidores de Jesus foram cheios do poder do Espírito e puderam iniciar sua missão evangelizadora.

O primeiro dom que receberam foi o das «línguas», um «sinal» da novidade do Espírito nos apóstolos, indicador da nova capacidade de «anunciar a todos os povos» o Evangelho de Jesus com a nova linguagem do Espírito. Também nós, como os apóstolos, estamos chamados a voltar ao Cenáculo para invocar uma nova manifestação do Espírito Santo na Igreja e no mundo: é Ele o «fogo» de Deus; é Ele quem queima em nós; é Ele quem faz nossas línguas «abrasadas», irresistíveis no anúncio do Evangelho; para «levar» o mundo ao Cenáculo, para falar a Deus do mundo, coração a coração, com uma linguagem nova «não com palavras aprendidas de sabedoria humana, mas aprendidas do Espírito, expressando realidades espirituais em termos espirituais» (1 Cor 2, 13); para ter experiência de uma nova intimidade com o Senhor, de maneira especial recorrendo à adoração, ao louvor, à intercessão,


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