Às palavras de Jesus, “Mulher, aí está teu filho”, correspondem aquelas outras palavras de Jesus para o discípulo: “Aí está sua mãe”. Se o dever da mãe é preocupar-se com o filho, o dever do filho é acolher a mãe e fazê-la parte integrante de seu próprio mundo. A maternidade se estabelece de forma totalmente única entre mãe e filho. Uma autêntica mãe assume formas diferentes com cada um de seus filhos. A cada um deles o chama por seu nome. A cada um se entrega totalmente, mas de forma diversa. “É essencial à maternidade a referência à pessoa. A maternidade determina sempre uma relação única e irrepetível entre duas pessoas: a da mãe com o filho e a do filho com a mãe. Mesmo quando uma mesma mulher é mãe de muitos filhos, sua relação pessoal com cada um deles caracteriza a maternidade em sua própria essência. Cada filho é engendrado de um modo único e irrepetível e isto vale tanto para a mãe como para o filho. Cada filho fica envolvido, do mesmo modo, por aquele amor materno sobre o qual se baseia sua formação e amadurecimento na humanidade” (RM, 45).
Esta reflexão serve de chave para entender a única e irrepetível relação que se estabelece e deve ser estabelecida entre Maria-mãe e cada um dos fiéis. A analogia entre a maternidade física e a maternidade espiritual é sumamente válida. E o Papa acrescenta uma observação, que talvez a não poucos tenha passado despercebida. Por que Maria é confiada como mãe, não a todos os discípulos em geral, mas apenas ao “discípulo amado”? A encíclica responde: “nesta luz se torna mais compreensível o fato de que, no testamento de Cristo, junto ao Gólgota, a nova maternidade de sua mãe tenha sido expressa no singular, referindo-se a um homem” (RM, 45). Por isso, com cada um dos fiéis Maria mantém uma relação materna absolutamente peculiar. Todo fiel recebe de Cristo Redentor o dom de Maria-mãe: “um dom que o próprio Cristo faz pessoalmente a cada homem” (RM, 45). Que Maria exerce essa função materna com entrega e solicitude extraordinária já foi revelado milhares e milhares de vezes por testemunhos de cristãos através do tempo e do espaço.
À mãe que nos foi confiada como um dom, devemos portanto corresponder. Maria deve “ser acolhida” como mãe e cada um dos fiéis deve sentir-se “seu filho”. O filho tem de relacionar-se intimamente com a mãe, “entregar-se” de forma concreta, ao amor da mãe” (RM, 45). A atitude do discípulo amado, entregando-se a Maria, deve encontrar continuidade na Igreja, enquanto comunidade, e em cada um dos fiéis. “Entregando-se filialmente a Maria, o cristão ‘acolhe dentro de si’ a mãe de Cristo, introduzindo-a em todo o espaço de sua vida interior, quer dizer, em seu ‘eu’ humano e cristão” (RM, 45).
A encíclica não fala da “consagração” a Maria. Prefere aquela outra expressão, muito mais compreensível e fundamentada na palavra de Deus, de “confiança”, “entrega filial”.
Quem se entrega a Maria percebe que ela o remete imediatamente a Jesus: “Façam o que ele mandar”. Jesus é para Maria “o caminho, a verdade e a vida”, é o enviado do Pai. Maria sabe que é sua “serva”. Maria leva seus filhos a descobrir a “insondável riqueza de Cristo” (Ef 3,8).
Maria, mãe-esposa-virgem, é para a Igreja e para cada um dos cristãos o modelo, a imagem daquilo para o qual foram chamados a ser. Como dizia Paulo VI: “A Igreja encontra em Maria a mais autêntica forma de perfeita imitação de Cristo” (discurso de 21 de novembro de 1964).