“Mas, como, você, que é tão amada, que faz tanto sucesso, que é tão ouvida pelo povo… como tomou esta decisão?”
“Isso mesmo! Como pode ter-se decidido a largar tudo, a mudar de ministério? Nós precisamos de você!”
“É! Precisamos de você, dos seus ensinos, de suas palestras, de seus artigos, de suas reflexões…”
“Precisamos de suas orações, do seu conselho, do seu discernimento, da sua sabedoria!”
“Precisamos de suas orientações, de sua presença, do seu cuidado! Não pode nos abandonar!”
“É! Não pode nos deixar por estes pobres. Há quem cuide deles, gente especializada, gente dedicada, gente enviada…”
“É um horizonte muito curto, muito estreito! Você foi feita para coisas maiores, para coisas mais vastas, para horizontes mais amplos!”
E a moça, longas tranças caídas sobre as costas, passou por eles, olhos baixos, um pequeno sorriso, a contemplar o vasto horizonte de seu coração…
“O quê? Interromper o trabalho para atender este doidinho?!? Vai atrasar tudo! Você tem prazo a cumprir! Muitos aguardam seu trabalho! Significa tempo e dinheiro!”
“Outras pessoas podem fazer isso… Gente que se dedica à oração, à intercessão, ao aconselhamento… Você tem coisas mais importantes a fazer, multidões a esperar…”
“Então, você fez mestrado e PhD à toa? Deus escolheu você à toa? Deu-lhe tantas oportunidades para nada?!?”
“Deixa outra pessoa fazer isso… Seus horizontes são mais vastos, mais amplos. Você foi feita para coisas grandes…”
Mas a moça, longas tranças balançando sobre as costas, passou por eles, olhos à frente, um meio sorriso, a contemplar o vasto horizonte de seu coração…
“Como você vai-se enterrar aí, escondida desse jeito? Você conhece o mundo todo, conhece tantas culturas… Você foi feita para o mundo, para o grande, para o vasto!”
“Isso aí… Deixa este quarto! Os médicos e enfermeiras podem fazer isso melhor que você! Estudaram para isso… são especialistas!”
“Você foi feita para horizontes mais vastos, mais amplos, mais longínquos…”
E a moça, longas tranças dançando sobre os ombros, passou por eles, sorriso aberto, olhos perdidos no céu, a contemplar o vasto horizonte do seu coração.
“O quê?!? Cuidar de casa?!? Cuidar de menino?!? Cuidar de marido?!? Trancar-se aí e emburrecer?!? Ah, essa não!”
“Pra que foi que seus pais se sacrificaram tanto? Sacrifício para manter você na escola, na faculdade, pra comprar livro, pra pagar curso de tudo o que há no mundo?!?”
“Você não foi feita para cuidar de menino, para varrer chão, para limpar fralda, para fritar bife. Foi feita para coisas grandes, para horizontes maiores, mais vastos, mais infinitos!”
Porém a moça, suas longas tranças voando soltas no ar, passou ainda por estes, sorriso largo, olhando-os nos olhos, quase a correr. Seus passos se firmavam à medida em que corria mais e mais, mais solta e mais rápida. Seu sorriso virou riso. O riso, gargalhada, a gargalhada, pura alegria. Seu olhar fixou-se, aberto e largo, na luz invisível, profunda, indestrutível de seu coração, pura certeza! Seus passos tornaram-se dança, seus olhos nos do Cristo, no livre bailar da livre alegria, da livre e pura certeza de que nenhum horizonte é mais vasto, mais amplo, mais profundo, mais valioso, mais certo, que o horizonte do puro e gratuito amor.
A moça passou por todos nós, por você e por mim, a rodopiar como louca, a gargalhar como insana, perdida em seu horizonte infinitamente vasto. Ao vê-la, meneamos a cabeça, desolados com sua insanidade, logo ela, que prometia tanto, que fazia tanto, que podia tanto! Pobre moça, a rodopiar, cabelo solto no ar, embalada pela música incomparável da acolhida da vontade de Deus!
Maria Emmir
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