Matéria extraída do jornal “O Lutador” 1 a 10 de março de 2003
Shalom, Canção Nova, Nova Aliança, Palavra Viva, Beatitudes, Lisieux, Emanuel, Caminho Neocatecumenal, “Jeunesse Lumiére”, Caminho Novo – São apenas algumas das centenas de comunidades novas que se espalham por todo mundo, como inesperada brotação da Árvore da Igreja. Aqui e ali, surgem também problemas pastorais. É possível a unidade?
Rebentos novos, árvore viva…
Independentemente dos carismas típicos de cada comunidade nova, sejam provenientes da renovação Carismática ou do contato com antigos institutos religiosos, esta floração que ocorre desde o Vaticano II, é sinal de vida! Árvore morta não faz brotação.no último encontro dos Movimentos e Comunidades Novas com o Papa João Paulo II, em Roma ele voltou a falar em “primavera da Igreja” – imagem de um futuro eclesial cheio de esperança e de promessa de frutos do Espirito Santo.
Na verdade, já antes do concílio o Espírito Santo soprava aqui e ali, inspirando iniciativas com Focolaris na década de 40, o movimento de Schoenstat e, aquele que parece ter sido o precursor, os ‘Foyers de charité”, que Jesus propôs claramente a Marthe Robin nos albores de 1936.
Como acolher as Comunidades?
Quando uma comunidade nova manifesta o desejo de se instalar no território de um diocese, é comum que o clero diocesano se sinta incomodado. A revista “France Catholique” (27/09/2002) entrevistou exatamente um bispo que provém de uma dessas novas comunidades (no caso, a Emmanuel, fundada em Paris, em 1972, por Pierre Gousat e Martine Laffite-Catta, reunindo hoje 7 mil membros, dos quais 150 padres e 180 consagrados).
Trata-se do bispo de frejus-toulon, Mons. Dominique Rey, que assim comenta a situação: “As comunidades novas apresentam um rosto profético da Igreja. Eu penso em particular naquelas que propõem uma articulação, sadia e ajustada, entre os diferentes estados de vida, realizando de uma forma plena e a co-responsabilidade leigos/sacerdotes na animação das comunidades cristãs e onde o sacerdote é reconhecido no seu no seu papel específico de pastor”
Depois de apontar o perigo de generalizar, atribuindo a todas elas alguma possível “disfunção”, verificada em uma ou outra comunidade, Mons. Rey aponta uma segunda atitude “medrosa” que costuma ocorrer no clero local: “A presença deles vai questionar aquilo nós fazemos!” Antes de se deixar interpelar pela novidade – comenta o entrevistado – preferem a auto-justificação de suas práticas pastorais, já, às vezes, obsoletas. Pode-se também ser tentado a instrumentalizar as comunidades novas e “recuperar” suas vocações, negligenciando os carismas de que elas são portadoras.
A possível unidade
Perguntaram a Mons. Rey se é possível dar boa acolhida às novas comunidades e promover uma pastoral missionária unificada. Ele: “A unidade se faz pela missão! Isto se supõe uma visão dinâmica das coisas. Por que uma bicicleta pode andar em linha reta? Por que ele está em movimento. Para que todas as comunidades caminhem juntas, é necessária uma dinâmica de movimento. Eu creio na convergência missionária, na comunhão pela missão”.
De fato, na diocese de Mons. Dominique Rey: “A acolhida de uma comunidade nova não é assunto apenas do bispo, mas de toda a comunidade eclesial. Certas dioceses extremamente pobres têm dificuldades em acolher uma comunidade muito bem estruturada, que traria o risco de desestabilizar um conjunto diocesano frágil. O relacionamento com as comunidades novas coloca o problema da relação entre instituição e carisma. Como é que essas novas comunidades cristãs integram a vida sacramental e a dimensão ministerial da Igreja? A paróquia continua sendo um dos principais vetores da sacramentalidade”.
Nova teologia para a nova evangelização
Tudo indica que a Igreja precisa formular uma nova teologia para dar respostas claras aos problemas gerados com o boom das comunidades novas. Para Mons. Rey “é tempo de dar novos balizamentos teológicos, espirituais a pastorais à nova evangelização. Por exemplo, atualmente, estão sendo constituídos vários círculos de reflexão e observatórios da nova evangelização. A Universidade de Latrão lançou um máster sobre o tema, está para surgir uma revista universitária”.
Historicamente, a Igreja sempre precisou de um tempo de experiência para, a seguir, realizar uma síntese das novas realidades de cada época, chegando a uma “inteligência” espiritual, teológica e eclesial daquela “novidade”. Para mons. Rey, “esta teologia espiritual – sustentada notadamente pelo Cardeal de Lubac – repousa sobre uma contemplação do ministério das “missões divinas”. E toma de empréstimo ao Cardeal Urs von Balthazar a sua dimensão estética, integrando as melhores contribuições do tomismo contemporâneo. Afinal outro não é o caminho apontado pelo Papa João Paulo II e pelo cardeal Ratzinger…(ACS)