Formação

Caminhar na Fé

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Pe. João Wilkes (Consagrado na Comunidade de Vida Shalom)

A Igreja, enquanto comunidade de crentes, participa do caminho da humanidade que busca a verdade, contribuindo neste processo de um modo fundamental, já que de Cristo recebeu esta mesma verdade como dom, no Mistério Pascal (Jesus é a Verdade – Jo 14,6). Como “boa dispensadora da multiforme graça de Deus”(1 Pd 4,10) a Igreja é chamada a distribuir este dom, a partilhá-lo com toda a humanidade através do seu ministério profético.

“Não te aflijas com aquilo que te ultrapassa, pois foi mostrado a ti mais do que o homem pode compreender” (Eclo 3, 23). Esse texto me tocou de modo especial poucos dias antes de ir para Roma estudar teologia. Através dele, pude compreender que nenhum conhecimento que eu pudesse adquirir neste mundo por meu próprio esforço poderia superar aquele me é dado gratuitamente por Deus.

O conhecimento que é peculiar à fé é aquele “que exprime uma verdade que se funda no fato de Deus que se revela” (Fé e Razão – FR 8). Tem como princípio a fé divina, fundamentando-se no testemunho de Deus e contando com a ajuda sobrenatural da graça. Tem como objeto os mistérios escondidos em Deus, que só podem ser conhecidos se nos forem revelados do Alto.

Em Jesus Cristo, na sua Encarnação, realiza-se a síntese: “o Eterno entra no tempo, o Tudo esconde-se no fragmento, Deus assume o rosto do homem” (FR 12). Nenhuma filosofia da linguagem poderia pensar tal poder de comunicação! Em Cristo, questões que parecem sem resposta encontram sentido no mistério da fé: Por que o sofrimento? Por que a morte? Tudo aquilo que foi assumido por Jesus encontra nele sentido e ganha uma conotação salvífica. Porém, “o conhecimento da fé não anula o mistério” (FR 13), antes, o evidencia, permite entrar dentro dele e propicia uma compreensão do mesmo nesta fé, que envolve aceitação, adesão, obediência a Deus. Este sempre confirma a fé diante da razão com sinais, que vêm em auxílio à mesma razão. Mesmo diante dos sinais, porém, nos vemos sempre, em última instância, interpelados em nossa liberdade a dar uma resposta fundamental de adesão ou não ao mistério.

Cristo é o “ponto de referência de que o homem não pode prescindir, se quiser chegar a compreender o mistério da sua existência” (FR 14). Ele é a Revelação da Verdade em sua plenitude. Nele, ao mesmo tempo em que nos tornamos partícipes da Verdade Suprema, enquanto estamos neste mundo somos convidados a caminhar na fé, a viver do mistério, a não descurar da responsabilidade que se nos impõe como seres racionais: “de ampliar continuamente os espaços do próprio conhecimento até sentir que realizou tudo o que estava ao seu alcance” (FR 14).

De fato, a experiência de fé nos ensina que o Senhor “não joga pérolas aos porcos”, que Ele abre, mas a quem bate; dá, mas a quem pede. É preciso “agir como se tudo dependesse de mim e esperar tudo de Deus”.


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