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Mãe Aparecida, ajudai-nos …

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Maria Aparecida, ajudai-nos a construir uma sociedade sem dominação

Deus ao criar o homem à sua imagem e semelhança, deu-lhe, por conseqüência, a capacidade de amar e de ser amado. Amar é ser para o outro, querer bem ao outro, do jeito que ele é, na necessidade de vê-lo feliz, sem esperar nada em troca.

O demônio percebeu a diferença profunda da nova criatura, percebeu sua semelhança com o Criador. Insinuou-se, então, na aparência da serpente e atacou-a no âmago de sua identidade: sua capacidade de amar, de ser para o outro: oferecendo-lhe a possibilidade da ciência do bem e do mal. Atacou-a com um veneno específico: a tentação do poder: de ser mais e maior que o outro. Propôs-lhe o absurdo: a possibilidade de ser como seu Criador. E o homem, na maior ingenuidade, deixou-se levar pela tentação do poder.

O vírus do poder, do egoísmo, do pensar só em si ficou inoculado – para sempre – no coração do homem. Nem a cruz e a ressurreição de Cristo tiram esse vírus – de forma definitiva – do coração humano.

Ao expulsar os primeiros pais do Paraíso, Deus conservou-lhes a vocação ao Seu Amor, sob o contrapeso da herança do pecado. Conservou no coração humano o dom da liberdade para que cada um fizesse seu caminho. Em Sua imensa misericórdia enviou à terra Seu Filho Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida.

Cada pessoa vive, hoje, o desafio de arrastar o peso das algemas nos pés, para seguir a proposta de Jesus: “Ame o Senhor seu Deus, com todo o coração, com toda a alma e com toda a mente. Este é o maior mandamento e o mais importante. E o segundo mais importante é parecido com o primeiro: ame os outros como você ama a você mesmo”.

As pessoas que não se amam, que não se aceitam não conseguem amar nem Deus nem os irmãos. Amar a si próprio é aceitar-se nos dons recebidos de Deus: é aceitar a própria condição social, a família de origem, os próprios pais, o corpo, a saúde, a inteligência e os talentos recebidos. Não se trata de um pacifismo ou conformismo pessimista. Trata-se de aceitar-se nos dons recebidos, que devem ser desenvolvidos pelo esforço pessoal com o auxílio da graça divina e em benefício dos outros. A ordem divina “- crescei e multiplicai-vos” (Gn 1, 28) – tem, também, um sentido qualitativo. Toda pessoa deve, por essa razão, desenvolver os dons recebidos. Os dons de Deus que estão em cada um de nós estão em nós, mas, não são para nós, são para o benefício dos irmãos.

É bom lembrar o que nos ensina São Paulo, na carta aos Gálatas: “Que cada pessoa examine o próprio modo de agir! Se ele for bom, então a pessoa pode se orgulhar do que fez, sem precisar comparar o seu modo de agir com o dos outros. Porque cada pessoa carrega a sua própria carga” (Gl 6,4).

As pessoas que não se amam, que não se aceitam, vivem a se comparar com os outros: querem ser mais importantes, mais ricas, mais poderosas que os outros. Quando vêem que não conseguem, tentam, pela calúnia, pela maledicência e por outras formas demoníacas, destruir o bem que os outros praticam ou a felicidade que experimentam pelo bem praticado.

É a tentação do poder: querem ser pessoas mais importantes, mais ricas, mais poderosas. E para tal, entram com a lei do vale tudo! Toda corrupção é uma forma de dominação. Como escreveu o Emmo. Sr.Cardeal Jorge Mário Bergoglio, Arcebispo de Buenos Aires: “a corrupção é como o mau hálito; quem tem não percebe! .O pecador se arrepende, entristecido com o próprio pecado. O corrupto se vangloria da própria corrupção. Para o pecador há perdão, porque há arrependimento. Para o corrupto não há perdão pois o corrupto tenta justificar a própria corrupção e vê os outros como bobos e ignorantes! Ele não se arrepende!”

Pilatos, também, se sentiu inocente! Condenou O Justo para manter seu próprio poder: “Eu sou inocente do sangue deste justo!” (Mt 27,24). Sabia que estava errando e errou, conscientemente, para manter o seu poder!

Todo corrupto é um dominador!

Recordo-me, com tristeza, de um fato que presenciei em meu tempo de pároco. Uma professora, bem de vida, tinha dois cargos no Estado. Uma pobre viúva, que precisava do seu emprego, tinha um, apenas. Aquela que tinha dois cargos, tomou – com suas manobras – o cargo da viúva, que perdeu seu único emprego, enquanto a outra ficou com três…

Isso é dominação pecaminosa!

Quando eu era seminarista, pensava que o problema, quando padre, seria mulher. E dizia a mim mesmo: “mulher é igual caminhão, mantenha distância”; depois, como padre, vi que mulher não era problema, o problema seria dinheiro; procurei ser generoso e sem ambição; como Bispo, fiz minha terceira descoberta: “o problema não seria nem mulher nem dinheiro, mas a luta pelo poder!” Não foi à-toa que o demônio tentou nossos primeiros pais com a tentação do poder!

Existe, infelizmente, o pecado de dominação na Igreja, quando pessoas lutam por cargos e honras ou postos de destaque. Competições nas pastorais e entre as pastorais; competições nos movimentos e entre os movimentos; competições entre pastorais, ministérios e movimentos. Toda competição para promover a si próprio ou o próprio modo de pensar é forma de dominação, é pecaminosa.

Existe a dominação na família: os esposos que não se escutam, que não escutam os filhos. Toda a família tem que ser do modo como ele ou ela imagina! Dizem alguns: “- Eu sou assim mesmo e você tem que me agüentar do jeito que sou!” Quando deveriam dizer: “infelizmente carrego esse defeito, mas, com a ajuda de Deus, vou melhorar!…” São dominadores os filhos que exigem dos pais o que eles não podem lhes oferecer! É ser dominador ou dominadora quem paga mal seus empregados, sobretudo a empregada doméstica que se sacrifica pelo conforto da família.

O dinheiro que o pai ou a mãe ganham é da família e para a família. Esse dinheiro não pode ser usado conforme a vontade pessoal e em prejuízo da família. É pecado torrar em vícios: jogo, bebida e sexo, o dinheiro que poderia dar melhor qualidade de vida à família e, quando possível, aos mais pobres!

Estamos a rezar pedindo que Maria nos ajude a construir uma sociedade sem dominação!

E como Maria pode nos ajudar nessa missão?

1. Por seu exemplo e testemunho.

Os Evangelhos nos relatam quatro falas de Maria:

A primeira para obedecer ao Anjo do Senhor.

A segunda para ajudar sua prima Izabel. Foi ela, Maria, quem falou por primeiro, saudando Izabel. Ela foi, “às pressas”, (Lc 1, 39) encontrar-se com sua prima Izabel, quer pela necessidade de ajudá-la, quer por saber que Izabel, escolhida também pelo Senhor, no Mistério do Messias, seria a única pessoa que poderia entendê-la na sua gravidez, também extraordinária, e com quem ela poderia falar de sua situação privilegiada, num clima de oração e contemplação! Buscou Izabel, também para fazer-se ajudar. Quem é humilde e não quer dominar, pede ajuda! A pessoa dominadora sente-se a sede da sabedoria, toda poderosa e é incapaz de ouvir a opinião dos outros e muito menos pedir ajuda!

A terceira fala de Maria foi, em sua angústia, na perda do Menino Jesus. Um desabafo humilde! Abriu, diante de testemunhas, seu coração, mostrando seu sofrimento. Deixou claro, diante dos outros, que Jesus não lhe dera satisfações, antes de permanecer no Templo!

A quarta, também, para ajudar, foi nas Bodas de Caná. Quando Jesus a interpela, ela não lhe responde. Diz, apenas, aos servos: “- Fazei tudo o que ele vos disser”! São Cirilo vê nesse relato o grande respeito que Jesus tinha por Maria: Disse Ele: “- Ainda não chegou a minha hora”. Mas fez o que Nossa Senhor sugeriu!

E aqui, eu vou abrir um parênteses. O que eu vou dizer não é doutrina da Igreja. É fruto da meditação desse grande devoto e protegido de Nossa Senhora. Não levem a sério.

Sempre pensei que o primeiro milagre de Jesus não está contado nos Evangelhos e não foi nas Bodas de Caná!

Imagino, que um dia, em Nazaré, entre os parentes de José ou de Maria, houve algum enterro ou fato inesperado. E como acontece em nosso Brasil, a parentela deles, que morava “na roça”, “baixou toda” na casa de Maria, pegando-a com a despensa desprevenida. Ou faltou farinha, ou óleo ou vinho. Nossa Senhora estaria chorando escondida e angustiada. Jesus viu e resolveu o problema! Quando faltou o vinho em Caná, ela só disse a Jesus: “Eles não têm mais vinho”. Jesus entendeu o recado… E, o primeiro milagre de Jesus teria sido para sua Mãezinha! Tinha que ser!

Vamos voltar ao sério!

Marta, querendo servir, manda! Diz a Jesus: “Mande que ela venha me ajudar”. Manda na irmã e quer até mandar até em Jesus! Como deviam ser amigos, para Marta sentir-se à vontade para falar assim! Se Marta tentou mandar em Jesus, não seria novidade que, de vez em quando, não falta quem queira mandar no Padre ou no Bispo!

Maria, é serva, não domina. Pede, sugere, obedece. Ela mesma se chamou “a serva do Senhor”.

2. Maria pode nos ajudar na missão de construir uma sociedade sem dominação, por aquilo que ela é.

Maria foi concebida sem o pecado original, ela é a Imaculada Conceição. Maria nasceu da consumação do amor entre seus pais Ana e Joaquim, de maneira comum aos seres humanos. Mas, pela misericórdia e bondade divinas, ela foi preservada da malícia do pecado, desde o primeiro instante de sua existência no seio de sua mãe Ana e bem antes, portanto, da aparição do Arcanjo Gabriel.

Maria é a resposta de Deus ao demônio, que no Éden, havia seqüestrado o homem do Amor de Deus.

Deus, na morte e ressurreição de Seu Único Filho Jesus Cristo, pagou o maior resgate de toda a história, para ter de volta ao Seu amor, o amor da humanidade.

Maria é a vitória de Deus sobre o demônio, é a vitória da graça sobre o pecado. É a vitória da eternidade sobre o tempo.

Maria é a realização do sonho e projeto de Deus na criação do homem. Maria é a personalização da Misericórdia divina que vence o pecado e devolve à criatura a possibilidade da Graça, do Amor e da Vida em Deus. Em Maria, Deus plenifica a criatura em todo o seu potencial de acolhimento da graça. Maria recebe e acolhe toda a graça compossível à sua situação de criatura. Diria, numa expressão da química, que em Maria acontece a saturação da graça na criatura. Não recebe mais porque, por ser criatura é limitada e não tem como receber mais. É como o copo que à beira do mar só pode conter o pouco de água que lhe cabe. No oceano da Graça Divina Maria acolhe toda a graça possível a uma criatura!

Maria inaugura uma nova modalidade de vida, aberta a toda a humanidade, para os que quiserem seguir Jesus, Caminho, Verdade e Vida!

FELIZ ÉS TU MARIA, EM TUA IMACULADA CONCEIÇAO!

Entendemos, então, porque Maria pode nos ajudar a construir uma sociedade sem dominação. A minha família sem dominação. A minha comunidade, paróquia, diocese sem dominação. Como seria tão bonito o nosso Brasil sem dominação! Mas cada um de nós pode expulsar o espírito de dominação da própria família, do próprio ambiente de trabalho e da própria comunidade de vida.

Maria pode nos ajudar, porque, preservada do pecado original, preservada do vírus do egoísmo e do vírus do poder, só sabe obedecer e servir! Rainha da obediência e Mãe da misericórdia.

3. Maria não manda! Pede! Mas seus pedidos ao Filho têm força de Mãe! Ela é nossa intercessora junto de Deus.

René Laurentin escreve que Maria é ministra e instrumento dos dons de Deus aos homens, por sua união com Cristo Cabeça; por sua santidade; pela intercessão, resplandecendo por sua graça interior. Maria é, ministra desses dons na linha de sua comunhão com Cristo, não na linha da hierarquia ministerial (Maire L`Église et le Sacerdoce, 2◦, pág. 77, P. Lethielleux Éditeur, Paris, 1953).

Enquanto Filha Predileta do Pai, Mãe amorosa de Jesus Cristo e Esposa do Divino Espírito Santo, Maria tem o extraordinário poder de interceder por nós, para vencermos as algemas do pecado e abrirmos nosso coração ao verdadeiro amor, à convivência fraterna e sem dominação para com todos os nossos irmãos.

VIRGEM MÃE IMACULADA CONCEIÇÃO APARECIDA ajude a cada um de teus filhos pecadores a crescer na capacidade de aceitação do outro, a crescer no espírito de obediência e serviço para a maior glória de Deus Pai.

Rezemos à Virgem Aparecida com as palavras inspiradas, que o Papa Bento XVI nos sugere, para implorar de Deus, a graça do VERDADEIRO AMOR:

“SANTA MARIA MÃE DE DEUS,
VÓS DESTES AO MUNDO A LUZ VERDADEIRA,
JESUS, VOSSO FILHO – FILHO DE DEUS.
ENTREGASTES-VOS COMPLETAMENTE
AO CHAMAMENTO DE DEUS
E ASSIM VOS TORNASTES FONTE
DA BONDADE QUE BROTA D`ELE.
MOSTRAI-NOS JESUS.
GUIAI-NOS PARA ELE.
ENSINAI-NOS A CONHECÊ-LO E AMÁ-LO,
PARA PODERMOS TAMBÉM NÓS
TORNAR-NOS CAPAZES DE VERDADEIRO AMOR
E DE SER FONTES DE ÁGUA VIVA
NO MEIO DE UM MUNDO SEQUIOSO”.

D. João Bosco Óliver de Faria
Bispo de Patos de Minas


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