Formação

Vôo espiritual

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Estamos em tempo de preparação para a Páscoa. A Quaresma, segundo a tradição litúrgica é tempo dedicado à revisão da vida, ao exame dos valores que me inspiram e orientam. Desde jovem tenho receio de cair na mediocridade, numa vida sem fervor, mesquinha.

Li a história do padre Dajani, contada por um jovem aluno, testemunha do cruel martírio do mestre, quando ambos estavam num cárcere da Albânia, “primeiro Estado ateu do mundo”, segundo o sanguinário ditador Enver Hoscha. O padre, após longo tempo de tortura, “tinha a batina coberta de sangue, que lhe escorria dos olhos e do rosto. Não fazia nenhum movimento, gemia apenas de vez em quando”. O jovem continua: “Um de nós recebeu comida enviada pela família e conseguiu oferecer (ao padre) uma laranja. Mas o padre recusou: “Não, meu filho, deves comê-la tu. Tu és jovem e tens mais necessidade dela do que eu”. O moço, que sobreviveu, conclui: “O gesto daquele homem de Deus, naqueles momentos horríveis, foi indescritível, tão humano, tão corajoso para todos nós que éramos jovens”.

Nós vivemos num país imperfeito, mas livre. A tradição cristã une conversão pessoal para Deus com oração, estilo de vida simples e frugal (jejum) e partilha de bens (esmola).

Quanto à oração, não creio em vida de serviço a Deus e ao próximo sem oração. A oração é para o cristão o que são as asas para os pássaros. Sem oração não há vôo espiritual.

E a partilha? Os miseráveis vivem porque o povo tem coração. Sempre há quem ofereça uma laranja, um pão, para os famintos. Sei que não basta. Mas sei também quantas gerações são necessárias para promover famílias marginalizadas. Jesus colocou como um dos critérios de entrada no Reino o cuidado dos pobres, doentes e presos. Sem questionar a virtude deles.

O jejum é arcaico? Parece que, moderado, faz bem à saúde. E faz bem à virtude. Mais que jejum, a Campanha da Fraternidade insiste num estilo de vida não consumista. Como? Isto faz parte da criatividade e da necessidade de cada pessoa.

Quem sabe, jovens, adultos e idosos ensaiamos um estilo de vida que possa edificar o próximo. Como jovens no presídio da Albânia se edificaram com seu mestre Dajani.

O que o anjo falou a Cornélio, possa dizer a nós hoje: “Tuas orações e esmolas subiram à presença de Deus e foram levadas em conta” (At 10, 4).

Dom Sinésio Bohn
Bispo de Santa Cruz do Sul

Fonte: CNBB


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