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“Abençoarei, abençoarei suas provisões, saciarei de pão os seus p

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Ana Carla Bessa
Consagrada na Comunidade de Aliança Shalom

“Abençoarei, abençoarei suas provisões, saciarei de pão os seus pobres” (Sl 132(131),15). Estas palavras, colocadas um dia por Deus nos lábios do salmista não se dirigiram somente ao seu povo, que subia a Jerusalém naquele tempo, mas certamente se dirigem também a nós, seu povo, que “subimos” a cada dia, rumo à Jerusalém Celeste. Estas palavras constituem uma promessa daquele que nos concede a vida e nunca deixa de cumprir nenhuma de suas promessas.
No entanto, devem ser muitos os que hoje a ouvem apenas com “um fiapo” de esperança, porque se deparam com uma realidade dentro e fora de si que parece contradizer a promessa divina. Terá o Salmista transmitido fielmente a mensagem de Deus? Onde estarão então as bênçãos sobre as nossas provisões neste momento?
Sim, Deus promete e cumpre em Jesus Cristo todas as promessas feitas a todos os homens de todos os tempos e lugares. Aos que nasceram, e aos que ainda estão por nascer. E cada um de nós precisamos hoje experimentar vivamente a realização das promessas de Deus na nossa vida.
Neste Salmo, o Senhor diz que abençoará as nossas provisões, e saciará de pão os nossos pobres e realmente cumpre sua promessa com a vinda do Salvador. Quando lemos no Evangelho a narrativa da multiplicação dos pães, temos um exemplo concreto da bênção de Deus por meio de Cristo sobre as provisões humanas (Jo 6,1-20). No meio daquele povo faminto havia alguém que possuía apenas cinco pães e dois peixes, os quais, ao serem entregues a Jesus, abençoados por Ele e distribuídos ao povo se transformaram em alimento suficiente para saciar uma imensa multidão.
Hoje há um grande pânico no mundo acerca dos meios de subsistência, primeiro pela grave crise econômica que assola toda parte, mas também pelas previsões daqueles que duvidam se haverá ainda por muito tempo alimento suficiente para a população da terra.
De fato, há hoje no mundo milhões de pessoas atingidas pelos flagelos da fome e da subnutrição, ou pelas conseqüências da insegurança alimentar, mas isso não acontece por escassez de alimentos, porque é conhecido o fato de que os recursos da terra, considerados hoje em conjunto, podem nutrir todos os seus habitantes, e que a ciência pode descobrir a cada dia meios avançadíssimos de deter os fenômenos destruidores da natureza.
Sendo assim, o desafio da fome no mundo vai além de todas as causas físicas, e se torna um desafio de natureza moral, e mais precisamente de natureza espiritual. É um desafio que inclui a coragem de abandonar nossa avidez de lucro e sede de poder pessoal para nos abrirmos ao grande mistério da comunhão dos bens espirituais.
“Perita em humanidade”, a Igreja nos ensina que, uma vez que o povo de Deus forma um só corpo, todos os bens espirituais que cada um recebe se torna necessariamente um fundo comum, de modo que, conforme a necessidade, os bens de uns são comunicados aos outros. Se Deus nos une a tal ponto em Cristo neste mistério que vai além da nossa vida material, como esperamos experimentar suas bênçãos de modo individualista?
“Abençoarei suas provisões…”, diz o Senhor Deus ao mesmo povo que Ele dará seu Filho único “para que sejam um” (Jo 17,11). Experimentará, de fato, tais bênçãos, todo aquele que verdadeiramente se fizer “um com os outros”. Jesus abençoou e multiplicou até a saciedade apenas cinco pães e dois peixes que alguém poderia ter reservado apenas para si sem nenhuma fé, considerando isso até “muito justo”, porque, afinal, aos olhos humanos é melhor sobreviverem uns poucos do que todos morrerem de fome.
Mas existe aí uma grande diferença. Porque creu e se dispôs a partilhar o pouco que dispunha, aquele alguém que pôs os cinco pães e dois peixes em comum experimentou muito mais do que cinco pães e dois peixes naquele dia, e provavelmente recebeu depois o eterno alimento que é Jesus no Céu.
Dentro dessa compreensão, precisamos abrir os olhos para as imensas bênçãos que Deus tem derramado em nossas vidas, não somente de natureza material, mas também de natureza espiritual. Mas para isso é preciso abandonar a cada dia o “velho particularismo” e se ver como membro de um corpo, o Corpo de Cristo. Este Corpo tem muitos membros espalhados pelo mundo inteiro, muitos deles bem perto de nós, e se não estivermos dispostos a levantar nossas mãos unidas às deles talvez nunca experimentemos as grandiosas bênçãos que o Senhor insistentemente nos oferece a cada dia.
Convido você agora, após ler este artigo, a dirigir o seu coração para Jesus e clamar ao Espírito Santo que dilate o seu coração, para nele caber a humanidade inteira. Deixe que passe pela sua imaginação e memória a multidão dos famintos, dos doentes, dos aflitos, dos que estão neste momento sem nenhuma paz, e una, de coração, suas mãos às deles para clamar que caia sobre todos nós as bênção que nos são necessárias. Certamente, pelo mistério da Comunhão dos Santos, Deus saberá distribuir muito bem suas provisões, que você certamente há de experimentar.
Saiba que no momento em que você orar, e muito particularmente no momento em que receber o Sacramento da Eucaristia com o coração devidamente preparado pela Reconciliação, os tesouros de muitos santos chegarão até você, que certamente partilhará também com eles seus tesouros.
E juntamente com esta união espiritual, una-se também muito concretamente a alguém com quem é preciso reconciliar-se. Seja qual for o motivo da desunião, vá até ele ou ela, para juntos receberem as imensas graças que somente juntos poderão receber de Deus.
Somos todos muito pobres de alguma coisa. Cada um tem uma necessidade, às vezes evidente, outras vezes tão escondida que nem nós mesmos percebemos. Mas também somos muito ricos. Cada um tem bens que lhe foram dados por Deus para colocar em comum. Também estes às vezes são bem evidentes, outras vezes estão tão escondidos que nem nós mesmos percebemos.
Mesmo que você não tenha vivido isso no tempo do Natal, peça a Jesus que lhe mostre sua pobreza e sua riqueza para que você coloque tudo em comum como provisões para serem abençoadas por Deus, a fim de saciar os pobres da terra. E quando surgir em seu coração o desejo de fazer isso com atos bem concretos, não deixe de fazê-lo e experimente na sua vida a realização da promessa acima.

Revista Shalom Maná


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