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Frei Galvão…

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A notícia da canonização do beato Frei Antônio de Santa’Ana Galvão, primeiro santo nascido em terras brasileiras, foi recebida com grande alegria. Normalmente, as canonizações são feitas pelo Papa, em Roma. Desta vez, porém, Bento XVI abriu uma exceção e vai canonizar Frei Galvão em São Paulo, na Missa que celebrará no Campo de Marte, dia 11 de maio deste ano.

De fato, o episcopado brasileiro, durante a Assembléia Geral de 2005, em Itaici, havia assinado uma carta pedindo ao Papa Bento XVI que canonizasse Frei Galvão durante sua visita ao Brasil. Ao receber o pedido das mãos da Presidência da CNBB, o Papa mostrou-se particularmente interessado, observando que a canonização estaria em plena sintonia com o tema da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe.

A Conferência de Aparecida, que será aberta pelo Papa no dia 13 de maio, propõe uma reflexão sobre a identidade dos cristãos e da Igreja no contexto histórico, cultural, social e religioso do nosso tempo e no meio dos povos da América Latina. Quem somos nós e o que fazemos na sociedade? O tema da Conferência aponta nesta direção: Somos discípulos e missionários de Jesus Cristo e nossa presença no meio dos povos deve ser significativa, ajudando-os a terem vida plena por meio do Evangelho de Cristo.

Frei Galvão viveu no fim do séc. XVIII e no início do séc. XIX. Morreu em 1822, ano da Independência do Brasil. Queria ser jesuíta mas acabou ficando franciscano. Em São Paulo, dedicou-se à oração, a intenso trabalho, à pregação, às missões populares e à caridade. Acolhia bem as pessoas e tinha especial atenção pelos pobres, doentes e pessoas aflitas. Desempenhou vários cargos de responsabilidade na sua comunidade religiosa. Era um “homem de Deus” e não media esforços para ajudar as pessoas a se aproximarem de Deus. Por isso, já em vida, era venerado pelo povo, que recorria a ele em suas inumeráveis necessidades.

Fundou o convento de Santa Clara, em Sorocaba, numa época em que as leis do Marquês de Pombal impunham enormes restrições à Igreja e a semelhantes iniciativas. Ele mesmo arregaçou as mangas e pôs as mãos na massa para construir o Mosteiro da Luz, em São Paulo, onde ainda hoje se abrigam as monjas da Congregação religiosa que fundou. A igreja dessa edificação, no centro histórico da capital paulista, também guarda seu túmulo e se tornou referência para a devoção do povo.

Geralmente, a religiosidade e a curiosidade popular colocam em evidência os santos pelos seus “milagres”, por isso, recorre-se a ele para buscar graças e favores celestes. A Igreja católica não considera isso errado, mas recorda que não é o milagre que faz alguém ficar santo. No processo de canonização, verifica-se rigorosamente se a pessoa levou vida santa. Isso é fundamental, pois a Igreja não “santifica” ninguém, mas apenas reconhece e atesta a santidade de alguém. O milagre entra somente na fase final do processo de canonização e é esperado como graça especial e confirmação divina sobre a santidade de alguma pessoa. De fato, os santos não fazem milagres mas Deus, somente. Dizemos, então, que o milagre é obtido pela intercessão dos santos, e não por um poder que eles próprios têm.

Os santos são grandes amigos de Deus e, ao mesmo tempo, amigos nossos. Eles o foram nesta vida e continuam a sê-lo no céu, junto de Deus. Foram e continuam a ser homens e mulheres de Deus; o povo percebe isso e recorre a eles, por mil motivos. Não são deuses, nem devem ser confundidos com “divindades menores no panteão celeste”. Isso nunca foi ensinamento do cristianismo nem da Igreja. Deus é um só, e não é substituído por nenhum santo. Mas está cercado de uma multidão de filhos e servidores, felizes e gratos por terem alcançado o objetivo da vida, e muito interessados em ajudar os irmãos na terra a chegarem lá também.

Na Igreja, os santos ajudam a compreender melhor as riquezas do Evangelho do reino de Deus e a multiforme santidade do próprio Deus. Por isso, uma pessoa santa também ajuda outros a se aproximarem de Deus. Muitas vezes, já durante a vida, os santos são alvo de atenções e até de veneração; mas os santos verdadeiros apontam imediatamente para Deus, fonte de toda santidade autêntica. São Pio de Pietrelcina ficava muito irritado quando alguém se aproximava dele e cortava pedaços de seu hábito de frade, para levar como relíquia, e mandava fazer penitência e se confessar.

Quando a Igreja canoniza um santo, ela está dizendo que essa pessoa, com certeza, está junto de Deus, no céu. Por isso também permite que se recorra à sua intercessão e se lhe preste veneração. Colocando em especial evidência alguns de seus filhos e filhas, a Igreja convida todos a louvar a Deus por aquilo que sua graça realizou nesses irmãos ou irmãs! Convida a olhar para ele e a ter coragem de seguir pelos caminhos de Jesus Cristo, que levam para Deus com toda a certeza; convida ainda a. imitar o exemplo dos santos e recorrer à sua intercessão, junto de Deus, nas horas de necessidade! E o santo, estendendo a mão, responde: Coragem, meu irmão, minha irmã, fique firme na sua fé, imite o exemplo de Jesus, viva conforme os mandamentos de Deus e faça o bem sempre!

Santo Frei Galvão, rogai por nós! Santa Madre Paulina, Beato Padre Anchieta e todos os bem-aventurados irmãos e irmãs, felizes discípulos e missionários de Jesus Cristo, intercedei junto de Deus por nós! Amém, assim seja.

Dom Odilo P. Scherer
Bispo Auxiliar de S.Paulo
Secretário-Geral da CNBB


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