Formação

Chave para ser bom confessor: ser antes bom penitente

comshalom

«O bom confessor é antes de tudo um bom penitente», pois «ninguém pode ser sinal da misericórdia divina se primeiro não experimentou em sua própria carne tal misericórdia», reconhece o Pe. Amedeo Cencini, da Universidade Pontifícia Salesiana (Roma).

Afirma assim o conteúdo do discurso que, sobre a confissão, o confessor e o penitente, Bento XVI pronunciou recentemente ante os padres penitenciários das basílicas papais de Roma.

«Instrumento ativo da misericórdia divina», o confessor — sublinhou o Papa — precisa «de uma boa sensibilidade espiritual e pastoral», «séria preparação teológica, moral e pedagógica que lhe permita compreender o que a pessoa vive», assim como «conhecer os ambientes sociais, culturais e profissionais de quem chega ao confessionário».

«Não se deve esquecer — acrescentava o Santo Padre — que o sacerdote, neste sacramento, está chamado a desempenhar o papel de pai, juiz espiritual, mestre e educador», coisa que «exige uma atualização constante».

E sublinhou ante os sacerdotes a impossibilidade de «pregar o perdão e a reconciliação aos outros» se não se está «pessoalmente penetrado por ele», concluindo com um chamado a «redescobrir e voltar a propor este sacramento».

A partir desse discurso, em uma entrevista difundida na sexta-feira pelo Serviço de Informação Religiosa «Sir» da Conferência Episcopal Italiana, o padre Cencini — também professor do Instituto de Psicologia da Universidade Gregoriana de Roma –, advertiu sobre um «dado inquietante».

«Honestamente — disse, tem-se a impressão de que nem sempre o sacerdote outorga a adequada relevância à dimensão penitencial da vida cristã, em termos de importância pastoral e, portanto, de preparação pessoal, de tempo a ela dedicado, de estratégia educativa», de onde se deriva o risco «de fazer os fiéis considerarem a experiência da confissão como menos importante.»

Questão de filiação

A relevância do expressado está em que «na vida cristã, a descoberta e a experiência do próprio pecado é o outro lado, complementar, da experiência de ser filhos», alerta o Pe. Cencini.

Isto é, «é a descoberta do pecado o que faz descobrir quão grande é o amor de Deus por mim, dado que me perdoa tudo — declara –, e é a experiência da paternidade de Deus misericordioso o que me faz reconhecer a gravidade de meu ato transgressor».

«Em outras palavras, só o pecador pode desfrutar e comover-se ante o abraço do pai, e só o filho pode admitir a gravidade de suas culpas», sintetiza.

Questão de formação e vivência

É aí onde «a formação inicial dos sacerdotes é um ponto delicado: o bom confessor é antes um bom penitente», assinala o Pe. Cencini, consultor há mais de uma década da Congregação vaticana para a Vida Consagrada.

«O estudo da teologia moral não pode ser simplesmente o estudo de uma complexa casuística ou a aquisição de normas para avaliar comportamentos, que se deve revisar periodicamente, mas que é um todo com a experiência pessoal do próprio pecado perdoado e redimido, para dar espaço a uma séria preparação capaz de compreender a vivência das pessoas.»

Isso marca igualmente «a necessidade, também para os futuros sacerdotes, de levar a cabo essa peregrinação penitencial que reúne todos os crentes para descobrir as próprias debilidades e fragilidades não só psicológicas, mas também espirituais», indica.

E implica, para todos, «redescobrir a sacralidade da confissão» — afirma o Pe. Cencini: entendê-la «como nova criação», «não simplesmente para suprimir os pecados cometidos, mas para voltar a pôr a própria vida nas mãos do Criador».

«É esta a dimensão sacra da confissão, que faz dela um verdadeiro renascimento espiritual capaz de transformar aquele que se arrepende em uma nova criatura», conclui.

Fonte: Zenit


Comentários

Aviso: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião da Comunidade Shalom. É proibido inserir comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem os direitos dos outros. Os editores podem retirar sem aviso prévio os comentários que não cumprirem os critérios estabelecidos neste aviso ou que estejam fora do tema.

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *.

O seu endereço de e-mail não será publicado.