Formação

Um encontro com a juventude

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A juventude é o foco para muitos segmentos da sociedade: moda, consumo de bebida e drogas, esporte, escolas de ensino médio, faculdades e cursos profissionalizantes, festas, shows e promoções artísticas. No centro das atenções, alguns setores da juventude estão saturados de tantas ofertas.

Ao interno da vida eclesial experimentamos um duplo fenômeno. De um lado, o distanciamento crescente dos jovens das atividades da Igreja. Por outro lado, a contribuição dos movimentos, associações religiosas e das escolas católicas para a evangelização da juventude.

Em algumas paróquias, há significativa presença dos jovens nas celebrações e nas atividades pastorais. Muitas vezes, este fato está vinculado ao carisma pessoal do pároco ou vigário, que quase sempre são chamados de “padres dos jovens”. A deserção dos católicos acontece também entre os jovens. O afastamento nem sempre leva à adesão a uma nova denominação religiosa, embora isto também ocorra. Muitos entram num período de distanciamento voluntário ou casual das atividades públicas religiosas, conservando ou não alguns hábitos de piedade vividos na intimidade. Alguns jovens se afastam significativamente da vida de fé. Entram num “sono religioso”, fruto da inconsistência das primeiras experiências religiosas ou conseqüência de uma decisão tomada diante da dificuldade de realizar um adequado amadurecimento da vida de fé. Outros interesses ou a negação do transcendente faz surgir o ateísmo em outros jovens, sobretudo universitários. Ainda não é possível sentir a continuidade da vida cristã dos jovens como fruto da catequese, sobretudo daquela vinculada aos sacramentos da iniciação cristã. Neste caso, o número dos perseverantes não é muito grande.

Apesar dos esforços da atualização catequética, ainda não colhemos os frutos na proporção que desejamos. Os jovens encontrados em nossas paróquias, sobretudo os mais assíduos às celebrações religiosas, são provenientes dos movimentos, sobretudo da Renovação Carismática Católica, ou de comunidades de aliança, ou de vida, que encontraram nela a sua inspiração. Também encontramos jovens que se alimentam da espiritualidade de carismas como o dos Focolares e da Comunhão e Libertação. É significativa a presença de jovens oriundos dos quadros do Opus Dei, dos Legionários de Cristo e dos Arautos do Evangelho, que propõem um modo de vida diverso daqueles propostos pelos movimentos ou pelos diversos setores da Pastoral da Juventude. Neste caso, ocorre entre o jovem e o “instituto”, um vínculo maior.

Associações religiosas, como os vicentinos, a Legião de Maria, a Liga Católica, cultivam um setor dedicado aos jovens. Algumas dessas associações conseguem envolvê-los num compromisso permanente com a vida paroquial e com uma obra específica. Há ainda um grande esforço de algumas congregações religiosas que trabalham com a educação em oferecer uma formação católica de qualidade aos seus alunos. Reconhecemos o esforço dos jesuítas, dos irmãos maristas, dos Salesianos e outras congregações que realizam um verdadeiro e louvável apostolado junto aos jovens que vai muito além do ensino religioso obrigatório e envolvendo, muitas vezes, a família. Tais iniciativas demonstram o que o Espírito Santo está suscitando na vida da Igreja. Porém, o número dos jovens “participantes” é muito pequeno em relação aos “não participantes”.

Olhando a realidade, tenho proposto a mim mesmo algumas questões cujas respostas ainda não são claras. É suficiente organismos da Igreja clamarem por políticas públicas para a juventude, por escola de qualidade, trabalho, desenvolver técnicas de recuperação para drogados, mas desvinculados com uma séria evangelização que leve ao conhecimento, ao amor e seguimento a Jesus Cristo? Os dois esforços não deveriam caminhar juntos? Um jovem só vive autenticamente a sua fé se estiver necessariamente envolvido em um grupo ou associação religiosa? Um jovem estudante ou trabalhador, assíduo aos sacramentos, honesto, que leva a sério seu compromisso com a transformação da sociedade, não vive autenticamente a sua fé, mesmo não participando de grupo algum? O distanciamento do jovem da Igreja seria apenas uma questão de linguagem e de uso de simbolismos adequados? Não há um paradoxo entre o que a Igreja propõe, sobretudo em termos de moral sexual, e o que deseja os jovens, sobretudo influenciados pelos meios de comunicação social? Não há uma crescente negação entre eles da transcendência? Não estaria o jovem sofrendo as conseqüências, também nas questões religiosas, da realidade experimentada em sua própria família, muitas vezes não “detentora” de uma experiência amadurecida de fé? Não está o jovem aprendendo em casa a não sentir necessidade da vida religiosa?

Parece-me que as respostas para as “minhas questões” não virão dos “especialistas” e dos que escrevem a partir do conforto dos escritórios. As respostas não virão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil através dos documentos. Muito embora todos estes ofereçam e oferecerão diretrizes importantes para a compreensão do que ocorre entre nós e sugiram pistas de ação. Não basta “resolver ou compreender intelectualmente” uma questão. A resposta à questão religiosa dos jovens é uma práxis. As respostas poderão vir das paróquias, das bases, enquanto seus agentes forem capazes de realizar um processo de aproximação dos jovens lá onde eles se encontram: nas escolas, nos ambientes de trabalho, nas noites, nos locais de esporte. Encontrá-los para escutá-los. Escutá-los para compreendê-los a partir deles mesmos. E então, apresentar-lhes o que temos para oferecer: Jesus Cristo. Tudo o mais será conseqüência. Por estes e outros motivos, o papa Bento 16, vindo ao Brasil para a realização da 5ª Conferência do Episcopado da América Latina e do Caribe, deseja se encontrar com os jovens do nosso país, no dia 10 de maio, no Estádio do Pacaembu.

Dom Tomé Ferreira da Silva – bispo auxiliar na Região Ipiranga – Arquidiocese de São Paulo

Fonte: Jornal O SÃO PAULO


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