Em cada celebração eucarística, o ministro ordenado que a preside anuncia: eis o mistério da fé e a assembléia confirma: anunciamos, Senhor, a vossa Morte e proclamamos a vossa Ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!
A Eucaristia brotou do coração de Cristo ao viver o drama de sua Paixão e Morte. Antecipou para os apóstolos a participação no sacrifício de sua vida e deixou para a Igreja a possibilidade de participar posteriormente no mesmo sacrifício. Ele não só realizou o sacrifício redentor, mas também nos deixou o meio de participarmos dele como se nele estivéssemos presentes.
Na Eucaristia, Cristo entregou à Igreja o sacrifício de sua vida oferecida ao Pai, chamando-a a oferecer-se a si própria a Deus com Ele. Por ter ressuscitado, Cristo dá à sua Igreja o Pão da vida e o cálice da bênção, por transformar, de forma real, o pão e o vinho em seu Corpo e em seu Sangue. É verdadeiro mistério da fé, que vai além da compreensão humana e só pode ser aceito na fé. É também mistério de luz. Nela, podemos reviver a experiência dos discípulos de Emaús: termos os olhos abertos e reconhecermos Jesus Ressuscitado (Lc 24, 31).
Sacrifício real de Cristo, a Eucaristia é também verdadeiro banquete, no qual Ele se dá em alimento, para possuirmos desde já a vida eterna.
Pelas circunstâncias dramáticas em que foi instituída e que faz reviver, não se pode celebrá-la sem ter presente o drama vivido pelos irmãos e pelas irmãs. Como ela anuncia não só a morte de Cristo mas também sua ressurreição e por isso alimenta a esperança na vida eterna, ela exige empenho total de cada participante no cumprimento de suas obrigações familiares, comunitárias e sociais, visando a justiça e a solidariedade nas relações humanas. Esta exigência se torna mais aguda no atual mundo globalizado, no qual os mais pobres pouco ou nada podem esperar. Mas é justamente nele que deve brilhar a esperança cristã.
Por anunciar a morte de Cristo até que ele venha, a Eucaristia inclui o compromisso de cada participante tornar eucarística a própria vida.
A Eucaristia constrói a Igreja
O Concílio Vaticano II acentuou que a Eucaristia é o ponto alto da vida da Igreja. A Igreja vive da Eucaristia, por ela é alimentada, por ela é iluminada. Ela manifesta e faz crescer a comunhão dos que crêem em Cristo. Nela recebemos Cristo e somos por Ele recebidos. Nela é consolidada a unidade dos que a celebram. Porque Cristo nos dá seu Corpo a comer e seu Sangue a beber, entramos em comunhão sacramental com Ele. São João Crisóstomo lembra que o pão é transformado em Corpo de Cristo e quem o recebe é transformado também no corpo de Cristo, seu corpo vivo que é a Igreja.
Neste item, o Papa aponta como iniciativa pastoral o estímulo ao culto eucarístico fora da Missa. Tal iniciativa compete acima de tudo aos pastores, inclusive com o testemunho pessoal nas exposições do Santíssimo Sacramento e também com visitas de adoração a Cristo presente nas espécies eucarísticas.
A propósito deste aspecto, na introdução, João Paulo II chama atenção de que em alguns lugares se verifica um abandono quase completo do culto de adoração eucarística.
A apostolicidade da Eucaristia e da Igreja
Numa das fórmulas do creio, dizemos que a Igreja é una, santa, católica e apostólica. Pode-se também conferir à Eucaristia estes atributos. A expressão a Igreja é apostólica, como também a Eucaristia, tem três significados: ela é constituída sobre o alicerce dos apóstolos, testemunhas escolhidas e enviadas em missão por Cristo; ela guarda e transmite, com a ajuda do Espírito Santo, a doutrina recebida dos apóstolos; ela continua a ser ensinada, santificada e dirigida pelos apóstolos, por meio dos seus sucessores, os bispos.
Observações pastorais e disciplinares do Papa a partir deste aspecto:
– Nesta sucessão apostólica se situa o ministro ordenado, indispensável e insubstituível para uma comunidade celebrar a Eucaristia.
– Cabe unicamente ao sacerdote recitar a oração eucarística.
– Deve-se dar graças a Deus pelos avanços no campo do ecumenismo. Porém, mesmo respeitando as convicções religiosas dos irmãos separados, os católicos não podem participar da comunhão nas suas celebrações, nem podem substituir a missa do domingo por celebrações ecumênicas da Palavra ou encontros de oração comum.
– “Se a Eucaristia é o centro da vida da Igreja, o é igualmente para o ministério sacerdotal. … A Eucaristia é a principal e central razão de ser do sacramento do Sacerdócio” (n° 31). Que o sacerdote viva a recomendação conciliar de celebrar diariamente a Eucaristia. Com ela, vencerá a dispersão das múltiplas tarefas pastorais, encontrará a força de realizá-las e um centro unificar de sua vida e de seu ministério.
– Da centralidade da Eucaristia na vida e ministério dos sacerdotes, deriva o empenho deles na pastoral em favor das vocações sacerdotais. É indispensável e urgente prover as comunidades da celebração eucarística, que requer a presença do sacerdote.
A Eucaristia e a comunhão eclesial
A Igreja é mistério de comunhão. É sua missão promover a comunhão com a Trindade e a comunhão dos fiéis entre si. A Eucaristia é o sacramento por excelência da comunhão. Ela celebra a comunhão e é realizada na comunhão. A Eucaristia celebra a comunhão e faz crescer nela.
Observações pastorais e disciplinares:
– Quando há quebra de comunhão, não se pode receber o sacramento da comunhão, sem antes celebrar o sacramento da reconciliação. Não pode comungar quem obstinadamente persevera em pecado grave manifesto.
– Não é possível dar a comunhão a quem não é batizado ou rejeita a verdade integral de fé sobre o mistério eucarístico.
– A comunhão da assembléia eucarística deve ser precedida da comunhão com o próprio Bispo e com o Papa e nela prolongada.
– A força da Eucaristia de promover a comunhão revela a importância da missa dominical, à qual todos são obrigados, salvo impedimento grave.
– No contexto da Eucaristia como sacramento da comunhão eclesial se insere o empenho pelo ecumenismo, no qual, a partir do Concílio Ecumênico Vaticano II, foram dados passos muito significativos. Mas porque a celebração da Eucaristia, expressão da unidade da Igreja, “comporta a exigência imprescindível duma completa comunhão nos laços da profissão de fé, dos sacramentos e do governo eclesiástico, não é possível concelebrar a liturgia eucarística enquanto não for restabelecida a integridade de tais laços” (n° 44 da Encíclica). Neste ponto, o Papa expressa ardente desejo de se vir a celebrar juntos a única Eucaristia do Senhor e lembra a possibilidade de pessoas de outras Igrejas ou comunidades eclesiais, em circunstâncias, receberem a comunhão eucarística em celebrações da comunidade católica.