Pasquale Iónata
As pessoas que sofrem de auto-estima encaram seus erros como uma confirmação da própria incapacidade e falta de valor.
Elas tentam corresponder a um ideal inatingível de perfeição. Só que ter auto-estima não tem nada a ver com a perfeição, nem com a evitar erros: significa aceitar defeitos e limites, tanto os próprios como os dos outros.
Um conselho que pode ser dado àqueles que possuem essa fobia é redimensionar os erros: interpretá-los de maneira nova, diferente, para limitar os riscos que eles acarretam e encará-los como acontecimentos naturais e até mesmo válidos para a nossa vida.
Essa nova visão nos permite aprender com os erros e ir além deles. Enquanto requisito indispensável para a aprendizagem, eles são um fator de crescimento e de conscientização. É raro e difícil aprender alguma coisa sem errar. Quem não se arrisca tem poucas oportunidades de crescer e de aprender cosias novas.
Os erros não são um instrumento para medir a inteligência e o próprio valor, são apenas passos em direção a um objetivo. Quem os considera como um ensinamento ou uma advertência pode tirar benefício deles.
O medo de cometer erros inibe a livre expressão de si. Se não nos permitirmos o direito de errar, nunca nos sentiremos seguros e livres para nos exprimirmos, nem mesmo naquilo que sabemos. O medo de errar nos faz perder muitas oportunidades na vida.
É preciso ter vivido longamente para aceitar a imperfeição. Na verdade, viver equivale a ser imperfeito. É crescer, avançar, cometer erros e superar as barreiras; é saber tirara ensinamentos disso tudo e descobrir as respostas apropriadas. Viver significa também nunca ter chegado à meta, nunca possuir a resposta final; aprender, aprender e aprender sempre; ser humilde, próximo às origens, à terra, ao próprio húmus, como indica a palavra humildade.
Se não aceitarmos com simplicidade o que realmente somos, entraremos com simplicidade o que realmente somos, entraremos em uma competição interminável, obcecados pelo dever de dar demonstrações de excelência e de perfeccionismo. É isso que chamamos de “complexo de campeão olímpico”, ou seja: nos sentimos na obrigação de sermos os melhores, não aceitamos repreensões, queremos ser os mais bonitos, os que não têm manchas nem erros; somos vencedores ou perdedores, não admitimos meios termos; sentimo-nos perpertuamente julgados, avaliados pelo desempenho exterior, com base em critérios parciais e superficiais, por aquilo de nós que aparece, não pelo que diz respeito à fonte, à profundidade, à totalidade daquilo que somos.
Uma vez conheci uma assistente social que convidava todos aqueles que se lamentavam dos próprios fracassos a lerem um pôster que tinha afixado na parede de sua sala: “Falido no comércio, 1832; derrotado para a Câmara dos Deputados, 1832; nova falência no comércio, 1832; eleito para a Assembléia, 1834; morte da noiva, 1835; esgotamento nervoso, 1836; derrotado para a presidência da Câmara dos Deputados, 1838; derrotado para a Assembléia Eleitoral, 1840; derrotado para o Congresso, 1843; derrotado para o Congresso, 1846; derrotado para o Congresso, 1848; derrotado para o Senado, 1855; derrotado para cargo de vice-presidente, 1856; derrotado para o Senado, 1858; eleito presidente dos Estados Unidos da América, 1860. Abraão Lincoln”.
Transcrito de: Cidade Nova, n.7, julh/1996, p. 3.