Formação

O novo mandamento

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Homilia de D. Dadeus Grings, arcebispo de Porto Alegre, proferida na missa, hoje pela manhã.

(At l4,21-27; Apoc 21, 1-5; Jo l3, 31-35)

Estamos ouvindo o eco dos Atos dos Apóstolos. Sentimos aqui a vitalidadeda Igreja em nosso País. Cada um de nós vem contar aqui as grandes coisas que Deus faz na sua Diocese, através de seu ministério. A Igreja toda vibra com esta presença e com esta ação evangelizadora. Somos felizes porque chamados a anunciar a Boa Nova da Salvação.

Ouvimos então o Apocalipse a nos proclamar a renovação de todas as coisas. Não basta agarrar-nos ao passado. Temos um mundo a ser evangelizado e, conseqüentemente, renovado. O que renovar? Como renovar? Como se apresenta o novo céu e a nova terra?
A resposta vem do Evangelho de S. João: o novo mandamento: “amai-vos como eu vos tenho amado”. Experimentamos aqui a essência da vida cristã. S. João vai até à raiz dessa questão, que liga o céu e a terra e, conseqüentemente, renova a face da terra: “Quem ama conhece Deus”. Isso equivale a dizer que participa da realização plena do céu. Deus é Amor. No céu só há amor. Só tem acesso quem ama. Encontrar-se com Deus não é uma questão conceitual mas experiencial: sentir-se amado, ou seja, estar totalmente envolvido por Deus. Quem aprendeu a amar faz verdadeiramente a experiência de Deus já aqui na terra. Tem vida em plenitude.

Mas amar e sentir-se amado não é fácil em nossa conjuntura política e social. Encontramo-nos numa condição encarnada. Falamos por isso de amor exigente. Estamos na terra como peregrinos do amor. Temos um longo caminho a andar. E a Igreja, de modo especial, por ser mestra do amor, sente-se sacudida por vigorosas ondas que parecem, muitas vezes, fazer soçobrar todas as tentativas, deixando a impressão de que o amor não consegue vingar nesta terra e que se torna impossível implantá-lo na sociedade humana, atingida pelo pecado.

Todos nós sabemos quanto é difícil ser mestre do amor neste mundo. Mas temos um Mestre maior. Ele, o Cristo, vai à nossa frente para nos ensinar o método. A norma que nos deixa é seu próprio exemplo: “Amai-vos como Eu vos tenho amado” E acrescenta que este amor implica doar a vida. Ele mesmo dá a própria vida e quer que esta vida e esta doação se tornem nossas. A vida cristã consiste no amor, assim como Deus é Amor.

Somos chamados e enviados a mostrar que existe amor neste mundo: o de Cristo, que deu sua vida por nós, o que equivale a dizer que veio até nós, viveu nossa natureza terrena e morreu pelo amor que devotou aos seres humanos. Nele e por Ele nos sentimos amados e, por isso, remidos e santificados.

Conhecemos nossa impotência em implantar o amor entre os homens. Não bastam as palavras nem as exortações, nem a disciplina. Insistimos no Novo Mandamento. Procuramos dar o exemplo, pela acolhida, pelo perdão, pela misericórdia. Não conseguimos, contudo, quebrar a crosta que se formulou na sociedade de consumo, na cultura da violência, na fúria pela concorrência, no culto da ganância, na publicidade da criminalidade e da permissividade… Como fazer reinar neste mundo tão adverso o amor?

Jesus sabia que nossos recursos não seriam suficientes e que nem a palavra abalizada da Boa Nova seria capaz de proporcionar um antídoto a todos estes males. Por isso Ele nos enviou seu Espírito, o Espírito do Amor. É Ele quem convence o mundo. Transmitimo-lo através da Palavra e dos Sacramentos que nos foram confiados para administrar. Entregamos a Ele a missão de renovar o mundo e, por isso, de fazer reinar o amor no mundo e em nós mesmos. Jesus nos deu seu mandamento. Para que nós mesmos o pudéssemos cumprir enviou-nos o Espírito Santo e confiou aos nossos cuidados transmiti-lo aos demais seres humanos. Queremos deixar-nos conduzir por Ele e dispor-nos a ajudar a abrir os corações para a sua ação santificadora, que significa a sua implantação do amor no mundo. De fato, como nos atesta S. Paulo, o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.

Quando e onde o amor reinar vemos o novo céu e a nova terra, que o visionário de Patmos vislumbrou. A civilização do amor é uma realidade em muitos dos nossos ambientes e constitui nossa principal missão. Também hoje podemos testemunhar as maravilhas que o amor realiza na Igreja e, através dela, no mundo.


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