Formação

Sereis minhas testemunhas

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Ascensão do Senhor
Atos 1, 11-11; Efésios 1, 17-23; Lucas 24,46-53

Comentário do Pe. Raniero Cantalamessa, ofmcap., ao evangelho dominical

Se não queremos que a Ascensão pareça mais um melancólico «adeus» que uma verdadeira festa, é necessário compreender a diferença radical que existe entre um desaparecimento e uma partida. Com a Ascensão, Jesus não partiu, não se «ausentou», só desapareceu da vista. Quem parte já não está; quem desaparece pode estar ainda ali, a dois passos, só que algo impede de vê-lo. No momento da ascensão, Jesus desaparece, sim, da vista dos apóstolos, mas para estar presente de outra forma, mais íntima, não fora, mas dentro deles. Acontece como na Eucaristia: enquanto a hóstia está fora de nós, nós a vemos, nós a adoramos; quando a recebemos, já não a vemos, desapareceu, mas para estar dentro de nós. Inaugurou-se uma presença nova e mais forte.

Mas surge uma objeção. Se Jesus já não está visível, como os homens farão para saber de sua presença? A resposta é: Ele quer tornar-se visível através de seus discípulos! Tanto no Evangelho como nos Atos dos Apóstolos, o evangelista Lucas associa estreitamente a Ascensão ao tema do testemunho: «Vós sois testemunhas dessas coisas» (Lc 24, 48). Esse «vós» assinala em primeiro lugar os apóstolos que estiveram com Jesus. Depois dos apóstolos, este testemunho, por assim dizer «oficial», isto é, ligado ao ofício, passa a seus sucessores, os bispos e os sacerdotes. Mas aquele «vós» se refere também a todos os batizados e aos crentes em Cristo. «Cada leigo — diz um documento do Concílio — deve ser ante o mundo testemunha da ressurreição e da vida do Senhor Jesus, e sinal do Deus vivo» (Lumen gentium, 38).

Tornou-se célebre a afirmação de Paulo VI: «Hoje há uma maior necessidade de testemunhas do que de mestres». É relativamente fácil ser mestre, bastante menos ser testemunha. De fato, o mundo está cheio de mestres, verdadeiros ou falsos, mas escasso de testemunhas. Entre os dois papéis existe a mesma diferença que existe, segundo o provérbio, entre a palavra e a ação… os fatos, segundo um refrão inglês, falam com mais força que as palavras.

A testemunha é quem fala com a vida. Um pai e uma mãe crentes devem ser, para os filhos, «as primeiras testemunhas da fé» (isso é pedido a eles pela Igreja a Deus, na bênção que acompanha o rito do matrimônio). Usemos um exemplo concreto. Neste período do ano, muitas crianças [e jovens] se aproximam da primeira comunhão e da confirmação. Uma mãe e um pai crentes podem ajudar seu filho a repassar o catecismo, explicar-lhe o sentido das palavras, ajudar-lhe a memorizar as respostas. Fazem algo belíssimo e oxalá fossem muitos os que o fizessem! Mas o que pensará a criança se, depois de tudo o que os pais disseram e fizeram por sua primeira comunhão, descuidam depois sistematicamente da Missa dos domingos, e nunca fazem o sinal da cruz nem pronunciam uma oração? Foram mestres, não testemunhas.

O testemunho dos pais não deve, naturalmente, limitar-se ao momento da primeira comunhão ou da confirmação dos filhos. Com seu modo de corrigir e perdoar o filho e de perdoar-se entre si, de falar com respeito dos ausentes, de comportar-se ante um necessitado que pede esmola, com os comentários que fazem em presença dos filhos ao ouvir as notícias do dia, os pais têm diariamente a possibilidade de dar testemunho de sua fé. A alma das crianças é um filme fotográfico. Tudo o que vêem e ouvem nos anos da infância se marca nele e um dia «se revelará» e dará seus frutos, bons e maus.


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