Formação

Como é o nosso querido Papa?

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Ele é capaz de quebrar protocolos para se fazer mais fraterno
Estamos em plena alegria, pela visita do Papa ao nosso país, pois ele é o representante de Cristo, sua presença mais visível entre nós. Aprofundemos um pouco o significado dessa presença.
São Pedro foi escolhido por Cristo para ser o seu continuador, na condução da Igreja. E assim tem sido com todos os 265 sucessores do Apóstolo, dos quais o atual é o Papa Bento XVI. Este, certamente, também escutou as palavras de Jesus: “Tu, uma vez confirmado, confirma teus irmãos na fé” (Lc 22,32). Eis a grande missão do Papa: confirmar-nos na fé e nas outras virtudes e valores cristãos. Este é o motivo fundamental da sua visita, bem como de todas as viagens missionárias.

No mês de março, tive a alegria de me encontrar duas vezes com ele, em Roma, e lhe disse da alegria e da esperança que todos nós tínhamos de recebê-lo no país. E ele me confirmou estar ainda mais ansioso para pisar o solo brasileiro, preparando-se, inclusive, para falar o português, de acordo com a nossa pronúncia brasileira…
O Papa veio para abrir a V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, em Aparecida, local de sua escolha, assim como também foi de sua escolha o tema, que está sendo desenvolvido nas nossas reuniões: “Discípulos e Missionários de Jesus Cristo, para que nele nossos povos tenham vida”, segundo a palavra do próprio Senhor: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6).

O objetivo da Conferência é rever a Pastoral, readaptá-la e renová-la em tudo o que for possível. Na abertura, o Papa nos dá orientações preciosas quanto ao desenvolvimento dos trabalhos, aproveitando para nos encorajar e iluminar em nossa missão como bispos, padres e como povo de Deus, neste imenso território formado pelo continente latino-americano – maior continente católico do mundo, incluindo as ilhas caribenhas.
Além de Aparecida, o Papa também esteve em São Paulo, onde se encontrou com os bispos, com os jovens e canonizou o primeiro santo nascido no Brasil, Fr. Antônio Galvão. Além de uma demonstração de grande amor pela nossa terra, sua presença foi o reconhecimento do Brasil como um dos países de maior representatividade do Catolicismo. Que isto sirva de estímulo àqueles nossos irmãos que, mesmo se considerando católicos, não vivem sua fé como deveriam e poderiam, com a graça de Deus.

Como é o nosso querido Papa? A par do que os meios de comunicação nos têm mostrado, nestes dias, volto a partilhar um pouco do que conheço a seu respeito, pelos diversos encontros que temos mantido ao longo de vários anos, desde o tempo em que ele era Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Naquela época, como ainda hoje, Bento XVI jamais abandonou uma de suas características mais encantadoras: a simplicidade. Ele é capaz de quebrar protocolos e eliminar rótulos de conveniência, para se fazer mais fraterno, mais próximo. Sua atitude humana e acolhedora é confirmada pelo perene sorriso, que se mantém vivo e pessoal, freqüentemente acompanhado de uma palavra de encorajamento, durante todas as audiências e saudações.
Nosso Papa é homem de vasta erudição, um expoente no mundo da cultura atual. Seu conhecimento lingüístico, a formação artística, sobretudo musical, a visão abrangente e arguta dos problemas mundiais do nosso tempo, fruto de uma profunda base filosófica, somente são sobrepujados pela sua teologia. Conforme já afirmei em outras ocasiões, e tem sido amplamente divulgado pela mídia, Bento XVI é um dos grandes, senão o maior, teólogo da atualidade e professor catedrático de renome internacional.

Mais do que um erudito, ele é um sábio, no sentido literal daquele que traz em si o sabor das coisas de Deus. O seu inquebrantável amor à verdade se manifesta em uma outra característica marcante: a franqueza. A verdade nunca pode abrir exceções, porque nela não há meio-termo, concessões ou modismos. É única e eterna. Por isso, é insensato acusar de retrógrado quem a defende e pratica.
A escolha do nome Bento XVI representa uma continuidade da linha pontifícia de Bento XV. Como Papa, durante a 1ª Guerra Mundial, Bento XV viu os ideais evangélicos de unidade e comunhão sendo vilipendiados, enquanto uma parcela da humanidade era destroçada naquele terrível conflito. O término da Guerra não solucionou impasses, pois as ideologias dominantes na época, negando a transcendência e, conseqüentemente, a fé, levaram à eclosão da 2ª Guerra Mundial.

Priorizando o mesmo ideal, o atual Papa se esforça por unir a humanidade, o quanto possível. Ele tem demonstrado isso, de maneira inequívoca, inclusive nos dois primeiros documentos de seu Pontificado: Deus Caritas Est e Sacramentum Caritatis que, não por coincidência, tratam ambos do amor. Mas Bento XVI é, também, continuador da obra de João Paulo II. Fez-se, para o querido Papa falecido, o irmão que ele não havia tido, fiel colaborador de seu pontificado e amigo nas horas mais difíceis, especialmente nos últimos anos, marcados pela doença.

Foi com indizível alegria que nós recebemos o Papa. Mais do que anunciador do Evangelho, ele é como que o próprio Evangelho vivo, encarnando na sua pessoa a mensagem de Cristo, e fazendo-a transparecer através de seus gestos e de suas palavras. Quando ele assomou à porta do avião, que o trouxe às terras brasileiras, sua veste branca anunciava a mensagem de paz que veio nos trazer. Sua visita, certamente, contribuiu para consolidar os esforços neste sentido, em nosso país, em toda a América Latina e no Caribe.

Felizmente, sob as bênçãos de Deus, tudo correu muito bem. Recursos, esforços e dedicação foram colocados a serviço dessa missão, que uniu povos latinos e caribenhos. Todos ofereceram ao Papa, quanto menos fosse, sua presença ou sua audiência, através da mídia. E este contacto nos levou a uma abertura maior das mentes e dos corações para o Salvador.
Oxalá nosso Pontífice possa guardar consigo a lembrança do afeto caloroso que nos caracteriza, como povos latinos e caribenhos, e que lhe dedicamos com entusiasmo. Esforcemo-nos para que estes momentos inesquecíveis não fiquem apenas nas recordações emocionantes, mas suscitem em todos nós o firme desejo de ser fiéis a Cristo, através de sua Igreja e sob o pastoreio de Bento XVI. E que nossos bons propósitos possam frutificar em ações concretas, com o imprescindível auxílio divino. A Deus rendamos graças, por tudo o que nos concedeu nestes dias, e nos está concedendo, cotidianamente.

Cardeal D. Eusébio Oscar Schied


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